Disco: “The Only Place”, Best Coast

/ Por: Cleber Facchi 30/04/2012

Best Coast
Indie/Female Vocalists/Garage Pop
http://www.bestcoast.us/

Por: Cleber Facchi

Talvez com exceção de Robert Pollard ou de algum outro entusiasta das gravações caseiras e ruídos controlados, manter uma carreira presa ao rótulo de Lo-Fi é uma escolha para poucos. Mais do que um gênero, a proposta parece fluir de maneira não intencional, um fruto da necessidade básica de algumas bandas com poucos recursos ao se aventurarem em estúdios artesanais, munidos de métodos de gravações primitivos e quase sempre precários. Logo, não são raros os casos em que grupos antes inclinados a produção de um som de baixa fidelidade abandonam totalmente essa proposta ao pisarem no segundo disco, seja pelo aumento de recursos, contrato com algum selo maior, ou a simples necessidade de evoluir.

Não diferente é o trabalho da banda californiana Best Coast, que a exemplo de outros grupos como Real Estate, Wavves e No Age deixaram de lado o som artesanal e de baixa qualidade do primeiro disco para reproduzir um álbum musicalmente mais límpido e abrangente. Parcialmente distante do último registro em estúdio – Crazy For You de 2010 -, em The Only Place (2012, Summer Mexican) Bethany Cosentino e Bobb Bruno não pensaram duas vezes em abandonar os limites de outrora para alcançar um trabalho comercialmente maior com o novo disco. Se antes as canções de amor e término de relacionamento chegavam empacotadas em nuvens de poeira e ruídos, hoje elas chegam em uma embalagem diferente, muito mais suave, pop e pronta para o grande público.

Não mais queridinhos apenas do público alternativo norte-americano, o casal faz do segundo disco um diálogo com toda a nova soma de distintos ouvintes conquistados recentemente, algo que a produção surpreendentemente plástica de Jon Brion exemplifica sem grandes esforços. Entretanto, quem venha a criticar a suposta “mudança” que toma conta da atual fase da banda e essa necessidade de soar “pop”, talvez deva rever o primeiro álbum da dupla para constatar: pouco mudou nesses dois anos. Com exceção da sonoridade naturalmente mais límpida, a estrutura que preenchia o primeiro álbum se faz presente em cada uma das 11 novas faixas do recente projeto, com Bethany ainda cantando sobre os mesmos temas, e Bruno ainda apoiado na mesma sonoridade.

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Se existe um erro na execução do registro este reside na aproximação excessiva entre as faixas e não na instrumentação límpida em si. Enquanto na abertura do trabalho músicas como Why I Cry, My Life ou mesmo a surpreendente faixa título entusiasmam pela honestidade dos versos assumidos por Consentino, com a chegada de Better Girl o tom de auto-ajuda ou desespero completo imprimem no disco um aspecto excessivamente penoso e exagerado. Todas as canções passam a fluir como iguais, como se fossem apenas fragmentos de um imenso (e por vezes arrastado) hino aos corações partidos. Provavelmente a culpa disso está na necessidade da banda em abandonar (quase) inteiramente o ritmo acelerado do primeiro disco, algo que eles até tentam restabelecer ao final da obra com a rapidinha Let’s Go Home, mas que pouco modifica o resultado final do disco.

Assim como Cosentino havia previsto meses antes, The Only Place é um disco naturalmente “emo”. Nenhuma das canções presentes no trabalho parecem fugir da temática simples de amores que não deram certo, declarações essencialmente confessionais e pequenas doses de melancolia que se estendem até os últimos instantes do trabalho. Mesmo que essa seja exatamente a proposta que enriquecia o disco passado, o enquadramento passa a ser outro, com o duo (e o produtor) se esforçando na construção de um som mais arrastado, denso e choroso. Dos poucos focos luminosos que restaram do trabalho passado, a maioria surge reconfigurada, moldada aos vocais entristecidos (e por vezes apaixonados) da cantora.

The Only Place é um trabalho singular. Ao mesmo tempo em que consegue encantar e obviamente agradar o espectador em diversos pontos, o registro soa morno e inconsistente em outros. É visível a constante busca de Consentino e do parceiro de banda por um som e uma linguagem própria, algo que movimenta todo o álbum e que ao final parece não resolvido. A aproximação com Jon Brion força o casal a produzir um trabalho que tenta soar grande, quando este não parece ser o momento ideal para isso.

The Only Place (2012, Summer Mexican)

Nota: 6.8
Para quem gosta de: Vivian Girls, Tennis e Dum Dum Girls
Ouça: The Only Place, Why I Cry e No One Like You

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.