Disco: “The Only She Chapters”, Prefuse 73

/ Por: Cleber Facchi 12/04/2011

Prefuse 73
Elextronic/Experimental/Ambiente
http://www.myspace.com/prefusion1973

Por: Cleber Facchi

Já fazia um bom tempo desde que Scott Herren não lançava nada de fato interessante ou inovador. Para ser mais exato, desde seu segundo disco de estúdio através do projeto Prefuse 73, o experimental One Word Extinguisher lá em 2003. De lá pra cá, todos os seguintes trabalhos ligados ao produtor norte-americano pareciam uma sequência repetitiva do que fora desenvolvido dentro de seus primeiros lançamentos. Mesmo que Surrounded by Silence (2005), Preparations (2007) e Everything She Touched Turned Ampexian (2009), até fossem bem direcionados, faltava a Herren o mesmo empenho de sua estreia. Empenho esse que parece ter voltado com o novo álbum do artista.

Menos focado ao Hip-Hop instrumental de outras épocas, The Only She Chapters (2011) é de longe um dos trabalhos mais densos e criativos do produtor. Como o nome do disco já anuncia, este sexto disco do Prefuse 73 é uma espécie de ode as mulheres, um “capitulo” inteiro dedicado a elas. Para dar forma as suas sonoridades esvoaçadas e espessas camadas de som, o norte-americano foi atrás de grandes nomes de música feminina contemporânea (alguns até desconhecidos), para ter no recorte desses vocais e no uso de diversos remendos sonoros as bases para o novo álbum

Até para quem já conhece os trabalhos do produtor esse atual registro chega de maneira inovador, fresca e quase inédita. Se em tempos passados Herren dava preferência a construção de um som que se evidenciava em alguns aspectos, seja pelas batidas, ou pelo uso mais esclarecido dos demais instrumentos musicais (mesmo nas texturas sonoras), com o novo trabalho a proposta parece ser diferente, como se tudo fomentasse um som uno, e quase indistinguível.

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As batidas se entrelaçam aos pequenos bips ou sons eletronicamente modulados, dando a impressão de unidade, solidez. Mesmo que o disco foque nos convites a determinados nomes do mundo da música, não espere ter acesso a canções monumentais, letras facilmente distinguíveis ou sons explorados de maneira pop e acessível. Tudo dentro de The Only She Chapters se orienta de maneira bem centrada e firme, com os vocais fossem explorados apenas como mais uma camada a ser acrescida dentro do leque de sons que dão forma às faixas.

Porém, mesmo que o álbum proporcione sons em que os vocais seguem de maneira reconfigurada e quase irreconhecível é justamente no explorar de canções em que as vozes agem de maneira distinta e límpida, que o trabalho tem seu acerto. The Only Hand To Hold com Shara Worden (líder do My Brightest Diamond e parceira de Sufjan Stevens), The Only Guitar To Die Alone cantada em português pela musicista Adron e The Only Trial Of 9000 Suns sustentada pelos vocais de Trish Keenan (ex-integrante do Broadcast, que morreu no começo deste ano) mostram que muito além dos densos experimentalismos que dão forma a um mar quase inavegável de sons se escondem discretas suavizações.

Muito mais orientado pela música ambiente The Only She Chapters é um disco que deve ser apreciado com cuidado, para que mesmo de dentro das grossas sonorizações criadas pelo produtor Scott Herren sejam percebidas as mínimas alterações proporcionadas ao longo do álbum. Qualquer um que tenha duvidado das habilidades do norte-americano em seus últimos lançamentos terá nesse atual registro um alívio. Em todas as 18 faixas que dão vida ao álbum nada passa de forma desnecessária, tudo é belo e apresenta certa percepção contemplativa.

The Only She Chapters (2011)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Flying Lotus, Long Arm e Four Tet
Ouça: The Only Direction In Concrete (Ft. Zola Jesus)

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.