Disco: “The Power And The Glory”, Perc

/ Por: Cleber Facchi 10/03/2014

Perc
Experimental/Techno/Electronic
https://www.facebook.com/PercTrax
http://perctrax.bandcamp.com/

Por: Cleber Facchi

Perc

A música do britânico Ali Wells sempre foi encarada de forma perturbadora, não convencional. Ainda que mergulhado nas experiências estéticas da IDM/Techno concebida há duas décadas, o uso de ruídos sobrepostos, vozes dissolvidas e verdadeiras texturas eletrônicas sempre garantiram ao produtor uma sonoridade invasiva, como se cada música assinada  encontrasse um território de pequenas transformações. É justamente isso que The Power And The Glory (2014, Perc Trax), mais recente álbum do produtor como Perc reforça em uma experiência particular.

Desenvolvido em uma sequência de dez faixas propositadamente instáveis, o presente álbum mais parece uma representação de tudo o que o produtor conquistou ao longo dos últimos anos. Mais conhecido pela sequência de músicas lançadas em singles, EPs e até coletâneas – próprias ou como convidado -, Wells usa do novo álbum como um mecanismo de descoberta para a própria obra. Faixas que atravessam a simples colisão de ruídos (Rotting Sound), para se transformar em uma experiência quase libertadora (Galloper).

Como se cada música fosse um objeto isolado dentro da imposição homogênea da própria obra, Perc faz do ziguezaguear pelo álbum um pequeno desafio. Enquanto músicas como David & George questionam as limitações da Ambient Techno, colecionando vozes e ruídos em um estágio de desordem, outras como Dumpster fazem com que os exageros da EDM se convertam em um objeto puramente sombrio de experimento. Uma constante divisão entre atender as exigências do público médio e ampliar o alcance da obra de Wells – sempre inclinado ao desprendimento estético.

Ainda que Rotting Sound, na abertura do disco, sirva como uma espécie de filtro para o ouvinte desavisado, à medida que The Power And The Glory se desenvolve, Wells parece “facilitar” as próprias experiências. Por mais complexo que seja o propósito do artista em diversos aspectos do disco, é difícil não se deixar seduzir por músicas como Take Your Body Off e Galloper. São composições que repetem as mesmas experiências conceituais da década de 1990, algo que o conterrâneo Zomby vem desenvolvendo desde Where Were U in ’92?, de 2008, porém, em uma estratégia muito menos óbvia e até mais desafiadora.

Utilizando da previsibilidade como um estímulo para os arranjos, Perc se acomoda em bases cíclicas que parecem tratadas de forma a hipnotizar o espectador. Em Bleeding Colours, por exemplo, toda a comunicação do produtor se apresenta em doses, reaproveitamentos de um mesmo conjunto de bases aos poucos acrescidos de novas sobreposições. A Living End, no encerramento do álbum, é outra que se organiza pelo mesmo princípio, intercalando pianos cíclicos com ruídos em uma ambientação ascendente. Uma constante sensação de que todos os encaixes do produtor vão aos poucos se acomodando em uma densa massa de sons.

Dividindo o álbum em dois grupos específicos de canções, Wells entrega tanto um conjunto de faixas que apostam tanto no recolhimento (Speek, Horse Gum), como em criações que parecem apontar diretamente para as pistas (Dumpster, Take Your Body Off). Mais do que atender ao gosto de diferentes parcelas de ouvintes, o produtor não se distancia de um resultado presente logo na canção de abertura do álbum: promover um álbum de limites, essências e arranjos totalmente particulares.

Perc

The Power And The Glory (2014, Perc Trax)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Zomby, The Field e Actress
Ouça: Take Your Body Off, Rotting Sound e Dumpster

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.