Disco: “The Terror”, The Flaming Lips

/ Por: Cleber Facchi 03/04/2013

The Flaming Lips
Experimental/Psychedelic/Alternative
http://www.flaminglips.com/

 

Por: Cleber Facchi

The Flaming Lips

Desde que estabeleceu uma arquitetura lírico-musical sustentada em conceitos na segunda metada da década de 1990 que o The Flaming Lips tem viajado por diferentes esferas da música. Talvez com exceção da eletrônica propriamente dita, a banda comandada pelo excêntrico Wayne Coyne já percorreu tantos caminhos desde a estreia em 1983 que a cada novo álbum lançado, o grupo praticamente se transforma em um novo projeto. São registros alimentados por histórias complexas (Yoshimi Battles the Pink Robots), sentimentos (The Soft Bulletin) ou pelos mais instáveis experimentos (Zaireeka), proposta que tem auxiliado a banda a se manter como uma das mais criativas do cenário musical – independente de como ou quando se apresenta.

Mas e depois de três décadas de transformações constantes (que ainda devem se manter), qual direção seguir? Este parece ser o questionamento enfrentado por Coyne, os companheiros de banda e o eterno colaborador Dave Fridmann quando juntos deram início aos engenhos musicais que sustentam The Terror (2013, Warner), 13º trabalho de inéditas e mais novo álbum do grupo de Oklahoma. Praticamente uma continuação comportada do que o grupo alcançou há quatro anos, com o lançamento do frenético Embryonic (2009), o presente disco aproxima o grupo da uniformidade entre as composições, alimentando a estrategia da banda em transformar cada registro e um tratado de natureza hermética.

Por mais que o trabalho mantenha certa aproximação com os últimos lançamentos da banda (incluindo a “coletânea” The Flaming Lips and Heady Fwends, de 2012), The Terror arrume o mesmo posicionamento do que o grupo vem sustentando desde o lançamento de Clouds Taste Metallic em 1995: Trata-se de uma obra feita para ser observada como única. Um imenso bloco de composições aleatórias, mas que na verdade se resumem em uma faixa individual de proporções imensas. Totalmente distante dos pequenos instantes melódicos e comerciais que marcaram a fase entre Yoshimi Battles the Pink Robots (2002) e At War with the Mystics (2006), o trabalho praticamente aprisiona o grupo em um casulo conceitual, sem aberturas ou possíveis brechas aos não habituados ao encaminhamento da banda.


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De forma comportada e consciente das transformações que abastecem a musica psicodélica atual (vide as colaborações recentes com Tame Impala e Neon Indian), a banda lentamente revela as marcas e estratégias que dão vida ao novo disco. São músicas confortavelmente instaladas em ruídos brandos, vozes convertidas em sons e letras que praticamente atuam de forma instrumental no decorrer da cada faixa. Tudo é dissolvido de forma tão aproximada e homogênea que o álbum pode barrar boa parte dos ouvintes iniciantes (ou apressados) que vão encontrar no registro um trabalho “redundante”. The Terror, como todo disco do The Flaming Lips, está longe de revelar seus segredos logo em uma primeira audição.

Com exceção da linearidade de Yoshimi ou da obra-prima The Soft Bulletin (1999), nenhum trabalho da banda parece feito para ser compreendido em poucas audições. Planejado em cima de composições atmosféricas, o novo disco só revela as reais intenções dos lábios flamejantes lá pela terceira ou quarta audição – resultado que pode cansar quem talvez passe pelo disco com pressa. Como muitos dos registros do grupo, The Terror se posiciona em um período temporal deslocado da nossa realidade. Neste caso, um futuro pós-apocalíptico onde o amor sobrevive de forma escassa, o que explica a carga enorme de composições sombrias, faixas marcadas pelo abandono e a proximidade com a morte.

Mesmo habitando cenários imaginários ou universos paralelos, assim como nos primeiros lançamentos do grupo tudo se transforma em metáfora quando nos concentramos na poesia do álbum, o que faz do The Flaming Lips um grupo distante e ao mesmo tempo próximo de “nossa realidade”. Ainda que cada obra da banda deva ser observada de forma individual, desconsiderar a herança acumulada ao longo de 30 anos seria um erro. Dessa forma, The Terror se posiciona como um trabalho menor perto de algumas obras icônicas e até recentes, o que não exclui a banda de atrair o ouvinte para um cenário tão complexo e capaz de brincar com as sensações quanto os maiores discos já assinados pelo grupo.

The Flaming Lips

The Terror (2013, Warner Bros)


Nota: 7.8
Para quem gosta de: Mercury Rev, Animal Collective e Tame Impala
Ouça: o disco todo

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.