Disco: “The Voyager”, Jenny Lewis

/ Por: Cleber Facchi 24/07/2014

Jenny Lewis
Indie/Folk/Female Vocalists
http://www.jennylewis.com/

Por: Cleber Facchi

Durante os primeiros anos em carreira solo, tudo o que Jenny Lewis parecia interessada era em se distanciar musicalmente do Rilo Kiley, sua outra banda. Não por acaso em Rabbit Fur Coat (2006), estreia solo da cantora, Lewis abandonou a energia das guitarras para abraçar a acústica leve do Country Folk. Curiosamente depois de reciclar a mesma sonoridade em Acid Tongue (2008), a artista regressa agora ao território musical do antigo grupo, transformando o recém-lançado The Voyager (2014, Warner Bros.) em um inevitável regresso aos primeiros anos em estúdio.

Espécie de comunicação com os memoráveis The Execution of All Things (2002) e More Adventurous (2004), trabalhos mais comerciais do Rilo Kiley até aqui, o presente registro solo de Lewis é uma obra de reposicionamento. Longe da atmosfera empoeirada dos dois últimos trabalhos, a cantora investe em melodias acessíveis, acordes bem executados de guitarras e uma doce comunicação com o pop que há tempos parecia abandonada.

Basta perceber a energia que escapa de músicas como Love U Forever para que todo o “novo” universo da cantora seja desvendado. Por trás de uma linha de baixo consistente, guitarras firmes, crescentes e encaixadas de forma precisa servem de base para as confissões românticas da artista. Doses consideráveis de referências dos anos 1980 e 1970, batidas econômicas e a voz limpa: nada tende ao excesso. É dentro construção que Lewis planeja a arquitetura do álbum, um trabalho que aposta no descompromisso, mas soluciona de forma assertiva todas suas imposições.

Mesmo que tropece aqui e ali em elementos conquistados ao lado do parceiro Johnathan Rice – namorado e uma das metades do Jenny and Johnny -, todas as experiências da obra são típicas de sua autora. Nada mais inteligente da parte de Jenny do que convidar o amigo de longa data (e inspiração confessa) Ryan Adams para assumir a produção do registro. Conhecedor do trabalho de Lewis, o músico mantém o registro dentro de uma formatação homogênea, pinçando tanto elementos dos últimos discos da cantora, como referências da música Country que abasteceram toda a década de 1970.

Outro que também dá as caras ao longo do trabalho e transporta um pouco das próprias referências para dentro do disco é o cantor/produtor Beck Hansen. Responsável pela pegajosa Just One Of The Guys, o veterano suga Lewis para dentro do cenário triste de Morning Phase (2013), seu último álbum de estúdio. Basta perceber como os arranjos acústicos e a voz dual se apropriam de uma série de conceitos da obra, elementos que se cruzam de forma natural com a tonalidade doce do álbum.

Encarado como uma obra aberta ao grande público – vide o clipe de Just One Of The Guys, ao lado das estrelas Anne Hathaway, Kristen Stewart e Brie Larson -, The Voyager é um registro que abandona de vez o caráter “alternativo” dos outros discos para mergulhar no pop. Contudo, ao mesmo tempo em que muda o fluxo da própria obra, Jenny Lewis em nenhum instante esquece dos velhos seguidores, confortados na massa de referências nostálgicas (ou mesmo recentes) que traduzem com acerto a extensa produção da cantora.

The Voyager (2014, Warner Bros.)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Rilo Kiley, Beck e Ryan Adams
Ouça: Just One Of The Guys, The Voyager e Love U Forever

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.