Disco: “The Whole Love”, Wilco

/ Por: Cleber Facchi 06/09/2011

Wilco
Alt. Country/Alternative/Indie
http://wilcoworld.net/home/

 

Por: Cleber Facchi

É muito provável que para aqueles que só vieram a descobrir o Wilco mediante o incontestável sucesso comercial de Sky Blue Sky de 2007, os últimos quatro anos talvez não tenham revelado mais resultados tão melódicos e acessíveis quanto o que fora entregue por meio de músicas como Impossible Germany e Shake it Off. Quem esperava que o trabalho de 2009 – Wilco (The Album) – pudesse seguir as exatas mesmas doces experimentações instrumentais talvez tenha se decepcionado pela forma como Jeff Tweedy e seus parceiros deram vida ao peculiar registro, algo que prossegue ao nos depararmos com The Whole Love (2011, dBpm Records), oitavo e mais recente trabalho do grupo norte-americano.

Engana-se, porém, quem imagina que a carreira da banda de Chicago, Illinois foi sempre marcada de arranjos instrumentais rebuscados, fáceis ou essencialmente comerciais. Basta um rápido olhar pelos primeiros registros da banda para termos uma real compreensão de sua obra. Trabalhos como Being There, que causaram arrepios aos puristas e amantes do Country alternativo, mas que foram capazes de exprimir com perfeição o que se passava na cabeça de Tweedy e sua banda, donos de um projeto em continua mudança e constantes quebras em sua musicalidade.

Em The Whole Love é exatamente essa mesma estratégia que parece delimitar toda a lógica do disco, afinal, basta a desconfortável faixa de abertura, Art of Almost, para entendermos do que se trata a totalidade (ou pelo menos parte) da obra do Wilco. Complexa e conduzida por uma sonoridade completamente distinta de antigas composições da banda, a canção surge como uma espécie de filtro, barrando qualquer indivíduo que tenha se aproximado da banda por um caminho mais fácil, porém se propondo como uma faixa completamente instigante aos que já conhecem o sempre tortuoso caminho do grupo.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=DO4GAm3GJ0k?rel=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=nNs7NLwuHx0?rel=0]

É somente após os mais de sete minutos de duração da faixa – com seu fenomenal jogo de guitarras medianamente sujas – que finalmente somos apresentados de fato ao novo disco do Wilco, ou pelo menos temos um tipo de som que de alguma forma se assemelha com as antigas produções da banda. Assim como a excêntrica e desconcertante capa do álbum, à medida em que registro se desenrola mais somos absorvidos por seu estranho universo de composições que sempre instáveis, faixas que parecem se apoiar nas antigas bases do grupo, mas ao mesmo tempo revelam uma tonalidade completamente distinta, como se a banda buscasse o tempo todo honrar suas raízes, porém prezar por uma sonoridade nova.

Talvez a única regra que delimite o disco seja a ausência de regras ou limites pré-impostos. A sensação repassado no decorrer de The Whole Love (principalmente nas primeiras faixas do trabalho) é a de um trabalho que não fornece quaisquer sustentações ao ouvinte, como se Tweedy buscasse de fato confundir o ouvinte. Não estão lá os lamentos bêbados de Yankee Hotel Foxtrot, a instrumentação diversificada de Summerteeth e muito menos a facilidade instrumental e poética de Sky Blue Sky, apenas um trabalho que altera suas fórmulas em cada nova composição, sendo capaz de “complicar” a audição de qualquer antigo ouvinte.

Por mais que Open Mind, I Might e Born Alone de certo modo aproximem o Wilco de hoje da banda de outrora, a constante alternância de fórmulas instrumentais dentro do disco mantém o trabalho constantemente atualizado e tomado de ineditismos. Embora se revele como um registro instável e que se volta para diversas direções em suas primeiras audições, à medida que vamos nos aprofundando nas 12 faixas do disco mais vamos compreendendo sua totalidade e a união entre as canções, traduzindo The Whole Love em mais um belo tratado musical do Wilco.

 

The Whole Love (2011,dBpm Records)

 

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Jeff Tweedy, My Morning Jacket e Ryan Adams
Ouça: I Might e Born Alone

[soundcloud width=”100%” height=”81″ params=”” url=”http://api.soundcloud.com/tracks/19855756″]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.