Disco: “The Worse Things Get, The Harder I Fight, The Harder I Fight, The More I Love You”, Neko Case

/ Por: Cleber Facchi 02/09/2013

Neko Case
Indie/Alt. Country/Female Vocalists
http://www.nekocase.com/

Por: Cleber Facchi

Neko Case

Poucas vozes do Alt. Country – principalmente entre os homens – são capazes de assumir tamanha confissão a cada novo trabalho quanto Neko Case. Responsável por uma das discografias mais amargas do cancioneiro norte-americano, a autora de obras como Blacklisted (2002) e Fox Confessor Brings the Flood (2006) chega ao sexto registro solo em mais uma sequência dolorosa de versos, sons e vozes. Marca voluntária que converte o recente The Worse Things Get, The Harder I Fight, The Harder I Fight, The More I Love You (2013, Anti-) em mais um assertivo catálogo de faixas temperadas pela dor e a saudade.

Cada vez mais distante do efeito bucólico apresentado em obras como The Virginian (1997) e Furnace Room Lullaby (2000), lançadas em começo de carreira, Case encontra no novo disco um extensão dos mesmos sons concentrados anteriormente em Middle Cyclone (2009), último trabalho de estúdio. São tramas macambúzias que rompem com a essência amargurada em virtude da presença ativa das guitarras melódicas. Uma ponte involuntária para aquilo que a cantora desenvolve com o The New Pornographers. Entretanto, longe de qualquer repetição possível de ideias, o que garante beleza ao trabalho da cantora, mais uma vez, são os versos.

Acomodada em um passado ainda recente, Case usa de cada faixa como um percurso melancólico, brindando a saudade em músicas aos moldes de I’m From Nowhere e Nearly Midnight, Honolulu. É preciso observar que mesmo em um cenário completo pela dor, a cantora jamais partilha das próprias confissões como dramas insossos e descartáveis. O teor sorumbático do trabalho, como bem exemplifica Night Still Comes, funciona em uma estrutura de essência, uma espécie de busca autoral e constante. A tristeza, como revela desde os primeiros discos, é a mais pura e honesta matéria-prima da artista, o que justifica a facilidade de Case em converter o próprio sofrimento em um mecanismo de aproximação para alcançar o ouvinte.

Cada vez mais ciente da própria obra, a cantora encontra em The Worse Things Get…  um trabalho que flutua de forma visível entre o acessível e a complexidade dos arranjos. Ainda que músicas como Afraid e Where Did I Leave That Fire tornem o propósito de  Case delimitado em ou cenário específico, excêntrico por vezes, parte das composições instaladas no disco rompem com essa ordem de forma encantadora. Músicas como a densa Ragtime, a melancólica/pop Night Still Comes ou a acelerada Man, que refletem toda a capacidade da artista em presentear o ouvinte com faixas impulsionadas pela versatilidade dos sons e vozes. Um jogo bem desenvolvido de melodias plásticas, mas que nunca ecoam como desnecessárias.

Embora entalhado em uma estrutura sombria – a ser explorada até o encerramento do disco, com Ragtime -, Case brinca com os sons e letras em uma experiência ampla, longe de qualquer esforço monotemático. Enquanto os versos fogem do próprio controle, transformando de forma metafórica a cantora em lugares, seres e diferentes personagens, o instrumental contribui de forma ainda mais detalhista. Nada de composições essencialmente climáticas, da arquitetura crescente de Bracing For Sunday (com bem distribuídos metais) ao lamento brando de Calling Cards (que muito lembra Bon Iver), o disco fornece a todo o instante um percurso de novidade e ao mesmo tempo aproximação, ressaltando todos os acertos prévios da artista.

Hoje, próxima de completar 43 anos de vida – e pelo menos metade deles destinados à música -, Neko Case estabelece com o novo disco uma obra pontuada pela maturidade. Ainda que liricamente nunca tenha se apresentado como uma garota tola – marca reforçada de forma autêntica nos versos fortes desde o primeiro disco -, a cantora usa do presente exemplar como uma comprovação do próprio crescimento. Dessa forma, The Worse Things Get… se traduz em mais um passeio seguro pela obra da cantora e a certeza de que Case ainda está longe de se acomodar.

Neko Case

The Worse Things Get, The Harder I Fight, The Harder I Fight, The More I Love You (2013, Anti-)

Nota: 7.9  
Para quem gosta de: Gillian Welch, The New Pornographers e Rilo Kiley
Ouça: Night Still Comes, Ragtime e Nearly Midnight, Honolulu

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.