Disco: “Thee Physical”, Pictureplane

/ Por: Cleber Facchi 26/06/2011

Pictureplane
Electronic/Witch House/Electro
http://www.myspace.com/pictureplane

Por: Cleber Facchi

Quem tem acompanhado a música eletrônica ao longo dos últimos dois ou três anos deve ter percebido um claro aumento no número de produções amarradas dentro de uma estética lo-fi, anárquica e cada vez mais experimental. Não que isso já não fosse presente há uma ou duas décadas, a diferença está nos excessos, em que rótulos como Chillwave, Glo-Fi, Witch House e as mais variadas designações dadas à essa frente parecem transformar parte do cenário eletrônico em um receptáculo de ritmos cada vez mais excêntricos e parcialmente distantes de algo que foque verdadeiramente nas pistas.

Caso raro dentro dessa tendência, o produtor norte-americano Travis Egedy brinca com as experimentações em Thee Physical (2011, Lovepump United Records), mais recente trabalho sob a alcunha de Pictureplane, sem que para isso precise se desvincular de um trabalho dançante, fácil e com um fundo de comercial.  Oposto de seu bem recebido projeto anterior, Dark Rift (2009, Lovepump United Records), Egedy que mantém sua sede em Denver, Colorado segue pelas mesmas trilhas da Dark Wave e do Synthpop nos anos 80, aplicando de maneira expressiva doses da House Music dos anos 90, além de uma plasticidade que se divide entre o pop e o Trance.

Se havia através do álbum anterior a busca pela produção de um som que homenageasse parte da música eletrônica da década de 1980, com o Egedy inclusive trazendo Lydia Lunch (cantora, poeta, escritora e um dos símbolos do movimento No Wave) para ilustrar a capa do registro, com o novo trabalho o produtor parece ter encontrado um caminho e uma musicalidade apenas seus, distanciando-se dos ritmos de outrora. Logo no abrir do álbum, o uso de sintetizadores quase alegres e da tonalidade semi-pop da faixa Body Mod transparecem que aqui os rumos são outros, gerando um trabalho menos exclusivo e que parece se adequar a múltiplos gostos.

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Se os anos 80 são deixados de lado, então é hora do Pictureplane fazer com que os sons da década seguinte ganhem destaque. Além das frequências já voltadas à House Music, Thee Physical vai de encontro a muito do que foi produzido através da Eurodance e da música pop em boa parte dos anos 90. Não é difícil encontrar alguns aspectos que facilmente puxem o disco para próximo de La Bouche, Corona, DJ BoBo e Ice MC. Touching Transform ou Trancegender, por exemplo, trazem os mesmos tipos de sons que fizeram Alexia, Capella, Culture Beat e todos os nomes acima mencionados obterem grande destaque através do público.

Além do passeio por uma nova década de possibilidades musicais, Travis Egedy traz para junto de suas composições uma leve camada de reverberações sujas e ligadas à música noise, elemento mais do que explicado pela presença de Jupiter Keyes, um dos integrantes do HEALTH e responsável por metade da produção do disco. Com o controle de Keyes, Edegy parece ter excluído o que poderia soar como alguns excessos ao longo do álbum, afinal, todas as 11 faixas do trabalho parecem realmente necessárias e minuciosamente construídas, fazendo com que mais de 70% do disco seja composto de possíveis hits.

A maneira impecável com que Pictureplane entrega Thee Physical, proporcionando não apenas um tipo de som conceitual, mas um álbum que dialoga fortemente com o que há de mais comercial e radiofônico acaba por transformar o registro em um dos melhores exemplares de música eletrônica do ano. Mesmo longe dos surpreendentes paredões de teclados levantados pelo Cut Copy em Zonoscope (2011, Modular) ou sem o aspecto policromático apresentado pelo YACHT ou Yuksek em seus recentes trabalhos, Egedy fornece um trabalho completo, difícil de ser derrubado e que estende seu alcance para muito além das pistas de dança.

Thee Physical (2011)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: HEALTH, Salem e White Ring
Ouça: Real Is a Feeling

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.