Disco: “Themes for an Imaginary Film”, Symmetry

/ Por: Cleber Facchi 20/06/2012

Symmetry
Electronic/Ambient/Synthpop
http://soundcloud.com/italiansdoitbetterrecords

Por: Cleber Facchi

De uma forma ou outra o lançamento de Drive no último ano levou o público de volta para a década de 1980. Seja pela ação ponderada que explode violentamente em alguns instantes do filme, o visual e a atuação caricata dos personagens ou os pequenos realces em neon que definem a obra, tudo parece contribuir para que o espectador seja arremessado diretamente para a cultura estabelecida há três décadas – mesmo que a obra jamais se relacione diretamente com o período. Mais do que isso, o grande acerto do projeto de roteiro minimalista está na trilha sonora calcada nas reverberações do synthpop, referência fundamental que parece guiar o espectador enquanto o personagem assumido por Ryan Gosling dirige suave por entre os quadros da película.

Assinada por Cliff Martinez, a trilha sonora do filme serviu como uma espécie de previsão para o que encontraríamos no ano seguinte, com uma sucessão de discos conduzidos por construções instrumentais sempre climáticas, sintetizadores que se desprendem de uma proposta dançante para se concentrar na ambientação e batidas que se misturam delicadamente. Indicação que se materializa aprimorada no interior do surpreendente e cada vez mais aclamado álbum da banda norte-americana Chromatics – Kill For Love – ou mesmo em outros grandes lançamentos que diariamente despontam pela grande rede.

Quem também parece encantada pela obra é a dupla estadunidense Symmetry, grupo comandado pelo duo Johnny Jewel e Nat Walker, dois dos principais compositores do Chromatics e também integrantes de outros projetos como Glass Candy e Desire. Juntos, os dois instrumentistas e uma série de músicos dão formas ao gigantesco Themes for an Imaginary Film (2012, Italians Do It Better), uma imensa obra de dois álbuns que funciona quase como uma trilha particular ao cultuado filme de Nicolas Winding Refn. Mais do que uma trilha sonora alternativa para a película, o extenso registro parece conduzir e até recriar uma infinidade de outras obras cinematográficas. Resultado que a dupla justifica com sintetizadores amenos e toda uma carga de possibilidades temáticas.

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Com mais de duas horas de duração, ou como anunciam na capa do disco “Total Driving Time: 2 Hours 37 sec” o trabalho concentra em trechos curtos uma série de pequenas trilhas, como se cada composição fosse montada a definir o tema de um personagem específico ou até mesmo uma sequência inteira de alguma película imaginária. É possível encontrar de tudo no interior da obra. De faixas que parecem temperar a ação do filme como Blood Sport, passando por canções românticas aos moldes de Love Theme e Magic Gardens, até criações que parecem definir um personagem por completo, o que não faltam são músicas distintas e que mesmo próximas de uma sonoridade bem delimitada partem de uma proposta individual.

Espécie de Road Album, o registro aponta logo na canção de abertura – com um carro acelerando – o que será encontrado no restante da extensa obra, trabalho que mantém no movimento constante das composições, harmonias e batidas todo o acerto do registro.  Além da marcada presença de Martinez e, claro, a óbvia aproximação com a recente fase do Chromatics, por todos os instantes do disco é possível encontrar uma série de referências ao trabalho de outros compositores e entusiastas das trilhas sonoras ou composições ambientais. De Brian Eno à Angelo Badalamenti, passando por Atticus Ross, sobram referências que apenas contribuem para um maior engrandecimento do álbum.

Embora dividido em duas partes, vê-se que a separação entre um trabalho e outro está muito mais relacionada a questões comerciais do que conceituais em si. Do minimalismo sóbrio que preenche o disco aos sintetizadores volumosos que dão formato às faixas, tudo parece se conectar em ambas as metades do álbum, que mesmo garantindo bases para uma infinidade de outras propostas cinematográficas mantém constante a aproximação entre as músicas. Themes for an Imaginary Film é um registro que precisa de total dedicação e tempo do ouvinte para ser apreciado por completo, um exercício que mesmo complexo inicialmente promete reviravoltas, personagens memoráveis e uma carga dramática tomada pela intensidade.

Themes for an Imaginary Film (2012, Italians Do It Better)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Chromatics, Cliff Martinez e Glass Candy
Ouça: o disco todo

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.