Disco: “There’s No Leaving Now”, The Tallest Man On Earth

/ Por: Cleber Facchi 29/05/2012

The Tallest Man On Earth
Indie/Folk/Lo-Fi
http://www.thetallestmanonearth.com/

Por: Cleber Facchi

Kristian Matsson é possuidor de um dom raro. Desde muito novo aprendeu como transformar histórias particulares e melancolias próprias em um material acessível a todos. É como se a cada verso ou canção montada por ele existisse sempre um significado maior, como se os sentimentos e dores expressas pudessem ser repartidas com todo e qualquer ouvinte. Logo, ao se transformar na matéria-prima para cada novo lançamento à frente do The Tallest Man on Earth, o cantor e compositor estabelecer um forte senso de aproximação, como se cantasse diretamente para o ouvinte, figuras que devem encontrar no mais novo lançamento do músico a mesma soma de versos honestos e composições confessionais.

Menos caseiro e melhor produzido que os anteriores registros apresentados pelo artista sueco – Shallow Grave (2008) e The Wild Hunt (2010) -, em There’s No Leaving Now (2012, Dead Oceans) Matsson permite que as melancolias aflorem de forma muito mais honesta e ao mesmo tempo vendável do que nos projetos que o precedem, resultando em um novo composto de amarguradas canções. Ora voltado à música country, ora preso aos mesmos referenciais testados por Bob Dylan pré-Highway 61 Revisited – tirando o conteúdo político, claro -, o cantor se apodera de sentimentos universais, como o abandono, a dor e a solidão, fazendo desse agrupado de sensações sufocantes as engrenagens que movimentam os quase 40 minutos de duração da obra.

“Não há como sair agora”, é o que aponta o sueco logo no título da recente obra e no nome de uma das dez canções que completam o álbum. A sentença parece servir como resposta a aproximação instrumental e lírica com os trabalhos anteriores, afinal, uma vez que a espiral melancólica foi iniciada no disco de 2008, Matsson parece impossibilitado de abandonar esse segmento. Todavia, ao mesmo tempo em que se mantém preso aos mesmos formatos e sonoridades que caracterizaram os dois discos anteriores, o músico utiliza do novo colosso de versos para evidenciar o que pode ser absorvido como a grande novidade do registro. Sempre amargo, o cantor parte em busca de novas experiências. Percepções que particulares ou vindas de histórias ao redor dele parecem feitas aos mais distintos públicos e ouvintes.

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Mesmo próximo das antigas características e regras próprias que moldaram os projetos anteriores, em There’s No Leaving Now o músico parece interessado em investir no desapego – ou pelo menos em algo próximo disso. Longo na abertura do álbum, ao som da faixa To Just Grow Away (que muito lembra as primeiras canções de Leonard Cohen), Matsson cria metáforas sobre o fluxo dos rios e sobre a necessidade de crescer e mudar, referência que vez ou outra aparece timidamente no interior das outras faixas, como se o cantor, diferente do que parecia inclinado nos álbuns anteriores, buscasse em vários momentos mudar e crescer para além dos limites particulares.

Esse constante sintoma de crescimento não está presente apenas na poesia que se esconde em todo o trabalho, mas em diversos outros aspectos que apenas engrandecem a condução do disco. Musicalmente, em There’s No Leaving Now o sueco dá um salto gigantesco em relação ao som que antes preenchia suas composições. Mais uma vez distante de qualquer instrumentos de percussão – o que amplia o toque intimista do álbum -, Kristian permite que os pianos tenham uma maior participação no decorrer das faixas, elemento explorado de forma inteligente em canções como a faixa título ou ainda em doses menores nas demais criações do disco.

Outro claro acerto na formatação do novo álbum diz respeito à necessidade de Matsson em se apoiar em cima de faixas mais comerciais, com vocais melódicos e acordes mais elaborados. Uma tendência já evidente em canções como I Won’t Be Found e You’re Going Back dos álbuns anteriores, mas que se reforça com a chegada de 1904, Wind And Walls e outras grandes faixas do novo disco. A necessidade do músico em soar ainda mais próximo e comercial do grande público surge com parcimônia, como se ele próprio tivesse noção de seus limites, crescendo, mas longe de alcançar uma sonoridade exagerada ou que rompa com os limites daquilo que o músico vem construindo há mais de meia década. A escolha por esse formato faz, logicamente, do novo álbum do The Tallest Man on Earth um belo acerto.

album

There’s No Leaving Now (2012, Dead Oceans)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Bon Iver, Iron & Wine e Leonard Cohen
Ouça: 1904, To Just Grow Away e There’s No Leaving Now

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.