Disco: “They Should be Soft”, Wallace Costa

/ Por: Cleber Facchi 27/04/2012

Wallace Costa
Brazilian/Lo-Fi/Indie
http://wallacecosta.bandcamp.com/

Por: Fernanda Blammer

Wallace Costa é o típico caso de “diga com quem andas que te direi quem és”. Nascido no início da década de 1990, o paulistano do município de Cruzeiro resolveu se aproximar justamente das figuras “erradas” do lo-fi tupiniquim. Ao lado de Lê Almeida e todos os aficionados por ruídos cacofônicos e gravações caseiras que se escondem no Rio de Janeiro, o jovem músico deu formas a uma série de registros particulares, pequenas faixas avulsas, além de um bem recebido primeiro álbum – Crossing Fields (2010) – trabalho em que deixa mais do que claras todas as intenções e referências que borbulham ruidosas na cabeça do músico.

Ora pendendo para o folk, ora para a psicodelia, Costa faz do recente They Should be Soft, o segundo álbum de “estúdio”, uma bem resolvida soma de composição onde expõe todos os anseios e necessidades que circundam o universo particular à sua volta. Menos amador que os trabalhos que o precedem, o disco ruma para um mundo de sonhos amargurados e sensações sufocantes, com Wallace esculpindo com palavras e acordes nada rebuscados todas as formas tortuosas e detalhes empoeirados do registro. Mesmo artesanal, o álbum mantém constante o tom delicado, o que serve para aproximar o ouvinte das esquizofrenias que ocupam a mente do compositor.

Muito similar ao que o carioca Bonifrate alcançou com o lançamento do último disco – Um Futuro Inteiro, de 2011 -, com o recente trabalho Costa não poupa no uso de efeitos e detalhes que apenas aproximam o projeto de uma sonoridade totalmente lisérgica e tomada pelas cores. A inclusão de harmonias de teclados flutuantes bem como guitarras distorcidas de maneira não convencional imprimem no trabalho um toque essencialmente orgânico, como se cada música fosse um ser vivo independente e em constante transformação. Porém, enquanto o líder dos Supercordas se apoia em uma estrutura totalmente bucólica e mística, Wallace mantém um som urbano, fazendo com que esses supostos seres que habitam as canções se revelem em tons acizentados e aspectos rudimentares.

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Um pouco mais arriscado que o lançamento anterior, o disco arrasta o músico para um conjunto de novas sonoridades e experimentações que apenas ampliam os horizontes do curta carreira. No decorrer da canção Par, por exemplo, a sonoridade amena típica música folk dá lugar ao country, enquanto Scribbles puxa o músico para uma temática intencionalmente experimental e etérea, algo que as colagens de sons e vozes aleatórias traduzem com perspicácia. Sobra ainda para Wallace carregar as guitarras com distorção e não poupar em alguns momentos de maior exaltação e intensidade, algo que a segunda metade da faixa Ghosts e The Land Is Calling revelam de forma interessante.

Além de evidenciar a evolução instrumental de Wallace, They Should be Soft torna claro o amadurecimento do paulistano como compositor. As letras em português, antes uma raridade nos primeiros trabalhos, agora ganham um espaço muito maior, com Costa não poupando esforços na construção de faixas como Aviso, Pouca Coisa e Par. Todavia, a ausência de músicas mais cativantes tornam o trabalho excessivamente hermético em vários momentos, como se algumas das canções fossem produzidas exclusivamente para o próprio músico, faixas dotadas de um significado particular e impossível de ser absorvido pelo público externo.

Ao mesmo tempo em que rompe com as possíveis redundâncias e com a timidez do primeiro álbum, em They Should be Soft Wallace Costa peca pelos excessos. Embora curtas, algumas das canções parecem desnecessárias ao composto final do trabalho, assumindo um espaço que poderia ser melhor aproveitado ou que talvez nem devesse ser ocupado. Mesmo em vias irregulares, o paulistano segue na gestão de um som e que pelo menos por enquanto parece funcionar apenas nas mãos dele.

They Should Be Soft (2012, Transfusão Noise/Midsummer Madness)

Nota: 7.0
Para quem gosta de: Lê Almeida, Carpete Colorido e Bonifrate
Ouça: Ghosts e Pouca Coisa

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.