Críticas

Spoon

: "They Want My Soul"

Ano: 2014

Selo: Loma Vista

Gênero: Indie Rock, Rock

Para quem gosta de: The New Pornographers, The Shins

Ouça: Do You, Inside Out e They Want My Soul

8.8
8.8

Disco: “They Want My Soul”, Spoon

Ano: 2014

Selo: Loma Vista

Gênero: Indie Rock, Rock

Para quem gosta de: The New Pornographers, The Shins

Ouça: Do You, Inside Out e They Want My Soul

/ Por: Cleber Facchi 06/08/2014

Com mais de duas décadas de carreira e uma produção quase homogênea de registros em estúdio, é fácil catalogar toda uma variedade de traços autorais dentro da extensa obra do Spoon. Da característica bateria seca de Jim Eno, aos acordes sujos de Britt Daniel – perfeitos para a voz rasgada do vocalista -, cada referência sonora ou lírica serve de base para uma inevitável zona de conforto. Um ambiente musicalmente previsível, porém, envolvente dentro da estética simples que o grupo assina desde a chegada do debut Telephono, em 1996.

Ao apresentar They Want My Soul (2014, Loma Vista), oitavo registro em estúdio, a proposta do grupo do Texas não poderia ser diferente. Seja pelo uso de acordes restritos em Rent I Pay, o romantismo leve de Let Me Be Mine e até mesmo a sonoridade pop-chiclete de hit Do You, cada elemento da obra tropeça em um cenário há muito desvendado e aperfeiçoado em álbuns referenciais como Kill the Moonlight (2002) e Ga Ga Ga Ga Ga (2007). Entretanto, ao investir em bases detalhistas e melodias carregadas de gracejos pop, típicos da década de 1960 e 1970, o ineditismo reforça a atuação do grupo, revelando uma obra tomada pela jovialidade.

Na trilha do álbum de 2007, o presente disco surge econômico, alimentado em essência por versos rápidos, faixas de curta duração e boa dose de urgência em se tratando do posicionamento das vozes. A diferença está na forma como o grupo preenche o trabalho com toda uma variedade de efeitos e arranjos complexos, íntimos do som aprimorado em Girls Can Tell, de 2001. Dessa forma, mesmo canções efêmeras como I Just Don’t Understand ecoam longevidade, garantindo ao grupo flertes psicodélicos em músicas como Inside Out – uma das melhores do álbum -, além do límpido desdobramento comercial em outras como Rainy Taxi e Do You.

A julgar pela variedade de músicas radiofônicas instaladas pelo disco, não seria errado afirmar que They Want My Soul é o trabalho mais acessível da carreira do Spoon. De fato, desde o lançamento de Gimme Fiction (2005) que a banda não apresentava um disco tão próximo do grande público quanto o atual. São faixas cuidadosamente planejadas como Rent I Pay e Outlier, capazes não apenas de invadir o território dos comerciais Foster The People, MGMT e Portugal. The Men, como capazes de resgatar a herança de veteranos, caso de Elvis Costello, Wire e The Beatles – influências explícitas dentro da sonoridade articulada para o álbum.

Ainda que essa “transformação” ecoe de forma natural – reflexo de uma banda com mais de 20 anos de carreira -, muito do que sustenta a estrutura do novo disco vem do hiato assumido pelo grupo nos últimos quatro anos. Passado o lançamento de Transference, em 2010, Britt Daniel se aproximou de outros músicos para formar ao Divine Fits. Jim Eno, por sua vez, aproveitou o período de “férias” para produzir uma série de trabalhos – entre eles álbuns do Poliça, Telekinesis e Tennis. O mesmo aconteceu com Rob Pope, Eric Harvey e Alex Fischel, que abandonaram o período sabático para investir em uma série de projetos paralelos, o que faz de They Want My Soul uma obra livre do possível desgaste antes acumulado entre um disco e outro da banda.

Nascido de pequenas colagens musicais e pensado “para tocar alto no carro”, como Daniel confessou em entrevista, They Want My Soul expressa toda a maturidade do Spoon e ainda acrescenta um tempero leve de renovação. Dosando entre o pop e o lado autoral do grupo, a produção contrastada de Joe Chiccarelli (U2, The Strokes) e Dave Fridmann (Flaming Lips, Tame Impala) em nenhum momento limita o crescimento do álbum, pelo contrário, com equilíbrio o duo extrai o que há de mais envolvente dentro da recente atmosfera da banda. Logo, caminhar pelo terreno fértil do disco é um ato presenteado por faixas tão urgentes, simples e joviais, quanto duradouras e prontas para ocupar um lugar de destaque dentro do (rico) acervo do Spoon.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.