Disco: “This Is… Icona Pop”, Icona Pop

/ Por: Cleber Facchi 24/09/2013

Icona Pop
Swedish/Pop/Electronic
http://www.iconapop.com/

Por: Cleber Facchi

Icona Pop

Em um dos episódios mais divertidos da segunda temporada de Girls, Bad Friend, Hanna, a personagem vivida por Lena Dunham, resolve experimentar cocaína. A experiência, uma iniciativa para produzir uma matéria para uma revista, termina com ela e o amigo Elijah (Andrew Rannells) em uma festa carregada de cores, luzes e o refrão rasgado de I Love It, hit da dupla Icona Pop, ecoando forte. Ainda que sejam poucos minutos, toda a intensidade exposta na cena e o teor de overdose que a música, muito mais do que a própria droga, parece proporcionar, representa com grandeza tudo o que marca a presença do duo sueco nas pistas: um tipo de música crescente, capaz de sufocar e levar o ouvinte ao êxtase em uma divisão exata.

Curioso que ao revelar This Is… Icona Pop (2013, TEN/Big Beat), primeiro registro em estúdio da dupla ao alcance do público internacional, cada faixa instalada no interior do entusiasmado álbum movimenta esse mesmo teor de euforia e agitação de forma constante. Poderia ser apenas mais um simples exemplar da música pop, um exercício exageradamente estável em se manter à sombra de alguma grande representante do gênero, mas que Caroline Hjelt e Aino Jawo fazem questão de romper tão logo o disco tem início. Resultado da nova safra de representantes da música pop – em uma esquina quase “alternativa” -, o duo se une ao time de Charli XCX, Katy B e tantos outros nomes recentes para revelar um catálogo essencial de composições.

Esqueça os experimentos, letras consumidas pelo lirismo abrangente ou qualquer outra manifestação que exprima complexidade. Para o debut da dupla sueca, brincar com o azulejo simples dos arranjos, vozes sintéticas e principalmente os versos é algo mais do que suficiente. Uma mínima fagulha que inicia com acerto cada inédita canção e obriga a dupla a transportar o ouvinte para algo além desse universo estático. Seguindo a trilha deixada por gigantes como Robyn e Annie, artistas que, na década passada, provaram a capacidade em desenvolver música pop sem esbarrar em conceitos redundantes, o duo e um time coeso de produtores cumprem com originalidade a árdua tarefa de soar acessível às massas, mas sem tropeçar. Um tipo de composição pop-nostálgica que raspa em conceitos típicos da década de 1990 – acertou quem lembrou de Spice Girls -, passa pelo filtro cuidadoso de um time de engenheiros de som até reverberar como uma massa sonora tão grudenta, que mais parece chiclete de tutti-frutti grudando no sapato – ou nos ouvidos.

Quem passar correndo pelo disco talvez encontre em This Is… Icona Pop uma obra comercial como qualquer outra. As ondas volumosas de sons, vocais plásticos e versos acessíveis, tudo deixa a entender que temos em mãos apenas (mais) um composto redundante de sons e bases radiofônicas. É apenas a isca para pescar o ouvinte. Dos sintetizadores que entendem com perfeição a estética de Passion Pit , Niki & The Dove e outros grupos recentes, ao efeito estratégico das letras – posicionadas com cuidado no interior de cada faixa, quase robóticas -, o álbum se sustenta sim como um típico exemplar da música pop, mas que, para além de algumas audições e boa pontuação nos charts mundo afora, ecoa durabilidade.

Ouvir a estreia do duo Icona Pop como é ser bruscamente transportando para um cenário onde vozes e melodias são sempre ALTAS, BARULHENTAS E CRESCENTES. COMO SE A VIDA SIMPLESMENTE DEIXASSE A QUIETUDE COM UM GRITO E FOSSE ESCRITA EM CAPS LOCK! CHEIA DE PONTOS DE EXCLAMAÇÃO! C ❤ A ❤ R ❤ A ❤ C ❤ T ❤ E ❤ R ❤ E ❤ S  E ✴ S ✴ P ✴ E ✴ C ✴ I ✴ A ✴ I ✴ S  E BATIDAS QUE CRESCEM ATÉ OS OUVIDOS EXPLODAM! Um pleno sentimento de festividade, como se tudo o que realmente importasse ao ouvinte fosse decorar as letras fáceis que abastecem o disco e sair por aí gritando: I-D-O-N-T-C-A-R-E! I LOVE IT!

Inteligente, ainda que tente fantasiar isso, a estreia da dupla sueca mais parece um resumo de tudo o que caracteriza a música pop nas últimas duas décadas. Enquanto músicas como Ready For The Weekend e o ar anfetaminado de remix discorre sobre a fase recente do mesmo cenário, brincando com conceitos do Brostep e o fluxo pop de Calvin Harris, achados como Girlfriend e All Night voltam no tempo. São canções que caem na brincadeira jovial dos anos 1990, como se todas as músicas do álbum repetissem o mesmo efeito eufórico de Wannabe, clássico obrigatório das Spice Girls, mas sem perder a própria essência. Em um ano em que Kate Perry, Lady Gaga e e outras “veteranas” do gênero devem se estapear pela coroa do pop, ganha de fato quem voltar os ouvidos para a dupla Icona Pop.

 

Icona Pop

This Is… Icona Pop (2013, TEN/Big Beat)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Niki & The Dove, Charli XCX e Sky Ferreira
Ouça: Ready For The Weekend, Girlfriend e All Night

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.