Disco: “This Is Rolê”, Macaco Bong

/ Por: Cleber Facchi 11/09/2012

Macaco Bong
Brazilian/Instrumental/Rock
http://macacobong.com.br/

Por: Cleber Facchi

As guitarras e o peso da instrumentação sempre foram constantes naturais e necessárias à carreira da banda Macaco Bong. Ainda que favoráveis a esse tipo de manifestação acústica, nunca antes tal predisposição teve tanto espaço (e impacto) dentro de um registro do grupo cuiabano quanto agora. Com a chegada do raivoso This Is Rolê (2012, PopFuzz/Travolta Discos), segundo álbum do trio mato-grossense, podemos observar uma transformação descomunal no uso ativo de acordes e distorções densas que (ainda assim) fluem capazes de nos convidar para dançar. Um álbum raro que mantém o peso de forma integral, sabe como arriscar e ainda assim funciona de maneira tão comercial quanto um típico tratado radiofônico.

Sucessor do aclamado Artista Igual Pedreiro – obra conceitual lançada em 2008 e eleita por uma série de publicações como o melhor registro daquele ano -, com o novo disco a banda preza por um som de consideráveis transformações e aberturas sonoras. Ora afundado em distorções soberbas que flertam abertamente com o Sludge Metal, ora dançante e até capaz de capaz de atrair o espectador de ouvidos “despreparados”, o recente projeto de nove faixas mantém a veia instrumental do lançamento anterior, se desvencilhando de composições volumosas e jazzísticas para tratar abertamente de um som “simples” e despretensioso.

Antes mesmos de iniciarmos a absorção do disco com a pulsante e crua Otro, a capa colorida do trabalho – que além do título chamativo traz o anúncio de “experimente isto!” – já proclama que os rumos do presente trabalho são completamente outros. Mesmo que a presença de faixas mais extensas e complexas ainda seja recorrente no executar da obra, em nenhum momento a banda parece percorrer a mesma via instrumental dos projetos anteriores, evitando ao máximo a construção de músicas que se assemelhem ao que fora proposto no EP Verdão e Verdinho ou em músicas como Vamos Dar Mais Uma, Bananas For You All e outras grandes (não apenas em extensão) canções que definiram a estrutura do primeiro disco.

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Se a proposta do novo álbum é de aproximar a banda de um som mais “pop” e leve, não há como negar que o grupo alcançou com empenho esse resultado. Dos riffs flamejantes que se concentram no interior de O Boi 957 ao toque ensolarado que se manifesta no single Summer Seeds (uma espécie de trilha sonora para algum seriado pós-adolescente), tudo se configura de maneira distinta ao que fora testado há quatro anos. Mesmo que as guitarras ainda bebam dos primórdios do pós-rock (principalmente de bandas como Slint) e até se entreguem abertamente ao que artistas como Kylesa, Isis e Queens Of The Stone Age promoveram em suas recentes obras, a maneira como o som ecoa fácil e sem compromissos em nossos ouvidos apenas reforça essa tendência, um reflexo da postura renovada que a banda assume sem grandes alardes e natural acerto.

Agora em nova formação, o trio mostra que mesmo com a saída do baixista Ney Hugo, a linearidade e a força do projeto ainda se mantém em alta. Gabriel Murilo, músico que vem para ocupar o lugar do ex-integrante, torna pública a destreza com o instrumento logo nos segundos iniciais de Broken Chocobread e Copa dos Patrão, composições que carregam nos grooves marcantes das linhas de baixo uma espécie de herança aprimorada do que fora deixado pelo antigo colaborador. Sobra até espaço para o ex-Mutantes Túlio Mourão (convidado de honra do novo disco) derramar assertivas melodias de piano nas músicas Seu João e Dedo de Jombie, dois dos momentos que mais aproximam a banda do disco anterior.

Descomplicado por natureza, This Is Rolê assume exatamente o que manifesta no título da obra: uma trilha sonora descompromissada para um passeio corriqueiro pela estrada – seja ela física ou metafórica. Dividido em duas metades bem perceptíveis (uma mais raivosa e outra mais suave), o disco se afasta com sabedoria da imagem criada pela banda desde os primeiros singles virtuais, mostrando que para além do som épico construído em outras épocas a Macaco Bong também sabe como promover um registro fácil e de composições amenas. Interessante notar que ao mesmo tempo em que se distancia de um som possivelmente complexo, o grupo estimula o crescimento de um disco tão rico que é capaz de superar (sem grandes esforços) qualquer expectativa, prova de que até “brincando” a banda sabe como nos impressionar.

This Is Rolê (2012, PopFuzz/Locomotiva Discos)

Nota: 8.3
Para quem gosta de: Pata de Elefante, Elma e A Banda de Joseph Tourton
Ouça: Otro e Summer Seeds

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.