Disco: “Thought Rock Fish Scale”, Nap Eyes

/ Por: Cleber Facchi 12/02/2016

Nap Eyes
Canadian/Indie/Alternative
https://napeyes.bandcamp.com/

 

A voz embriagada de Nigel Chapman anuncia: estamos de volta ao mesmo ambiente apresentado pelo Nap Eyes em Whine of the Mystic. Meses após o lançamento do primeiro registro de inéditas do grupo de Halifax, Canadá, versos melancólicos e arranjos tímidos de guitarra transportam o ouvinte para um característico universo de temas intimistas (e momentaneamente raivosos) apresentado pelo quarteto em 2015. Uma delicada reciclagem de ideias que costura cada uma das canções do recém-lançado Thought Rock Fish Scale (2016, Paradise of Bachelors).

Quando eu olho para mim mesmo / Eu quero saber se estou realmente aqui”, questiona Chapman na inaugural Mixer. Síntese de todo o restante da obra, a composição de versos mezzo declamados, mezzo cantados indica que os mesmos conflitos explorados no álbum anterior continuam a perturbar a mente do artista. Uma estrutura similar ao material apresentado em faixas como Delirium and Persecution Paranoia e Make Something, ambas do disco anterior, porém, entregue ao ouvinte de forma acessível.

Acompanhado pelos parceiros Seamus Dalton, Josh Salter e Brad “Bronson” Loughead, Chapman estabelece os limites de uma obra que parece dialogar instantaneamente com o ouvinte. São faixas que detalham confissões amorosas (Lion in Chains), mergulham em conflitos pessoais (Don’t Be Right) e atravessam diferentes cenários (Alaskan Shake) de forma a contribuir para o lirismo melancólico que se espalha pela obra. Um meio termo entre o Wilco da fase Being There (1996) e a recente fase do Destroyer, porém, despida de toda a sensualidade de Dan Bejar.

Em um explícito distanciamento das nuances agressivas de Whine of the Mystic e faixas como Dark Creedance e Delirium and Persecution Paranoia, Chapman e os parceiros de banda finalizam uma obra musicalmente coesa, por vezes restrita. São raras as canções que se distanciam da mesma base redundante de guitarras sóbrias e batidas contidas. Um curioso exercício que passeia pelo Alt. Country na inaugural Mixer, explora os arranjos alcoólicos da década de 1990 em Lion In Chains e brinca com os clássicos do Indie Rock em músicas como Roll It.

Em Thought Rock Fish Scale, cada canção parece servir de base para a faixa seguinte, como se o ouvinte desse voltas e mais voltas dentro de um mesmo cenário de desespero e abandono. Essa mesma “repetição de ideias” parece explícita logo na capa do disco. Ainda que parta do mesmo conceito retratado no álbum anterior – com diferentes vasos e cânforas espalhados em cima de uma mesa -, são texturas sobrepostas e corpos entrelaçados que caracterizam a curiosa imagem estampada pelo grupo.

Ao mesmo tempo em que a identidade sofredora da banda surge com maior naturalidade em relação ao disco anterior, difícil passear pelas canções de Thought Rock Fish Scale e não perceber a essência e todo o arsenal de referências do quarteto. Um permanente estágio de embriagues que reflete a boa fase do Wilco em Yankee Hotel Foxtrot (2002), passa pelo The National do álbum Alligator e ainda visita a obra de veteranos como Lou Reed e Van Morrison.

 

Thought Rock Fish Scale (2016, Paradise of Bachelors)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: The National, Destroyer e Wilco
Ouça: Mixer, Trust e Stargazer

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.