Disco: “TNGHT EP”, TNGHT

/ Por: Cleber Facchi 26/07/2012

TNGHT
Hip-Hop/Electronic/Dubstep
https://www.facebook.com/tnghtmusic

Por: Cleber Facchi

TNGHT é um projeto que parece ter nascido em cima de uma proposta orientada apenas para a dança. Muito embora as batidas que entrecortam o registro de estreia da dupla Hudson Mohawke e Lunce agrupem particularidades sonoras que transitam pelo Hip-Hop, Dubstep, Grime, eletrônica e outras infinitas predisposições do cenário musical recente, a engrenagem base que tanto movimenta o registro de curtas cinco faixas se sustenta inteiramente dentro de uma estrutura que foca na dança e apenas nela. Partindo desse pressuposto, o duo intercontinental estimula o crescimento de um álbum de reverberações quentes, marca que imediatamente converte as certeiras criações da dupla em um projeto que vai além dos limites básicos, incorporando acertos de proporções extremas.

Figuras há tempos requisitadas dentro da produção eletrônica que preenche o atual panorama norte-americano e britânico, o duo se evidencia de forma ativa dentro de uma boa soma de lançamentos, indo das recentes criações de Azealia Banks até uma variedade de outros remixes. Agora libertos dentro de uma proposta particular, a dupla ocupa dos valiosos 15 minutos e 49 segundos que definem o álbum para estabelecer todas as estratégias que serão aproveitadas (e ainda aprimoradas) dentro de possíveis futuros lançamentos. Antes, entretanto, que algum volumoso primeiro álbum “de estúdio” se manifeste, os produtores aproveitam do espaço definido por eles próprios para nos transportar para um mundo onde as batidas, samples e métricas irregulares falam mais alto.

Espécie de pancadaria sonora, o EP abre em meio as ambientações de Top Floor, faixa que em poucos segundos abandona o delineamento climático para incorporar beats que se sobrepõem de forma atrativa. Flutuando entre o clima nostálgico que definiu o primeiro disco do AraabMuzik no último ano – Electronic Dream – a as fórmulas assíncronas que marcaram toda a condução do novato Rusite em Glass Swords, a dupla estabelece a criação de um registro que preza inteiramente pelo uso de sons volumosos e referências que explodem nos ouvidos do espectador. Dentro desse acabamento que por vezes beira o épico, a dupla assume uma postura que prende pelo entalhe acessível que parece conversar com todos os públicos.

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Em faixas como Higher Ground, por exemplo, fica visível a energia de reforço popular que ocupa cada particularidade do trabalho. Tudo soa expansivo e convidativo na mesma proporção, como se o Baile Funk (em formas americanizadas por Diplo) se encontrasse com o Hip-Hop Old School que definiu os anos 80, transformando os samples picotados e as batidas secas em uma ferramenta de inclusão e aproximação constante com o ouvinte. Mesmo que nenhum vocal seja exposto de forma convencional dentro do álbum, a dupla acaba por favorecer um perfeito diálogo no decorrer das anções, afinal, é como se a cada nova criação como Bugg’n ou Goooo, os produtores nos contassem de maneira fácil e atrativa todos os motivos para permanecer até o ecoar da última batida ou decisivo sample.

Por vezes próximos do mesmo Hip-Hop instrumental que acumula uma soma de indivíduos raros dentro da música norte-americana, a dupla parece dar um passo além desse “limite”, definindo ao lado de nomes como Baauer e outros novos artistas em ascensão, um movimento de natureza particular. É como se Mohawke e Lunce seguissem exatamente a partir do que Flying Lotus estipulou com o lançamento do disco Cosmogramma há dois anos, encontrando na esquizofrenia de Clams Casino e na inventividade dançante do recente álbum do Death Grips – The Money Store – um resultado de complementos e benefícios que apenas tornam grandiosos todos os instantes dentro do álbum.

Curioso perceber, mas mesmo que o disco se dissolva por completo em menos de 20 minutos, existe na natureza do TNGHT a produção de um trabalho que se cresce de forma maior do que isso. Seja pela variedade de samples – que vão de vocais femininos a gracejos de bebês e incontáveis sirenes – ou pela imensa coleção de formas sonoras amarradas com o passar da obra, cada faixa, por mais efêmera que seja, entrega um jogo de referências que a tornam gigante. O EP, entretanto, não passa de um mero atrativo, um aquecimento empolgado para os inventos que a dupla deve sem dúvidas nos apresentar em um futuro próximo, e imaginem só quando eles chegarem.

TNGHT EP (2012, Warp)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Hudson Mohawke, Araabmuzik e Rustie
Ouça: o disco todo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.