Críticas

Perfume Genius

: "Too Bright"

Ano: 2014

Selo: Matador

Gênero: Indie, Chamber Pop

Para quem gosta de: How To Dress Well, Owen Pallett

Ouça: Grid, Queen

8.8
8.8

Disco: “Too Bright”, Perfume Genius

Ano: 2014

Selo: Matador

Gênero: Indie, Chamber Pop

Para quem gosta de: How To Dress Well, Owen Pallett

Ouça: Grid, Queen

/ Por: Cleber Facchi 24/09/2014

Mike Hadreas é um especialista em brincar com os contrastes. Desde o primeiro álbum como Perfume Genius, Learning (2010), o enquadramento sutil dos arranjos segue em oposição ao lirismo grandioso, quase cênico, incorporado em cada verso. Não diferente é a estrutura abordada em Put Your Back N 2 It, obra entregue dois anos mais tarde e uma espécie de extensão (ainda mais) dolorosa do ambiente construído no disco de estreia. Contudo, ao abrir as cortinas do terceiro álbum da carreira, Too Bright (2014, Matador), o compositor revela ao ouvinte uma série de elementos surpresa.

Imenso palco iluminado pelo experimento, o presente registro é uma obra que se expande grandiosa, seduzindo com naturalidade o espectador, sem elementos opositivos. Ainda que marcado por sóbrios instantes de minimalismo, referências típicas do músico, grande parte das canções surgem de forma intensa, “brilhantes” e espalhafatosas,  fazendo valer o título do álbum. Mais uma vez acompanhado pelo produtor Ali Chant e Adrian Utley, do Portishead – responsável pelos sintetizadores do disco -, Hadreas soluciona uma obra em que arranjos e temas funcionam paralelamente, tratando na fluidez dos elementos uma espécie de espetáculo triste.

Parcialmente livre do Chamber Pop claustrofóbico dos dois primeiros álbuns, em Too Bright o compositor deixa de soar como um filho adorado de Antony Hegarty para flertar abertamente com a obra de David Bowie. Ainda que a capa plástica do disco sirva de referência imediata ao trabalho do músico britânico, o uso de arranjos sintéticos – típicos de Station to Station (1976) -, além da estrutura teatral – no melhor estilo Ziggy Stardust -, apenas reforçam a confessa devoção de Hadreas.

Personagem central de própria obra, o cantor regressa ao mesmo território melancólico do álbum de 2012, ressuscitando histórias particulares de seu último relacionamento fracassado. A diferença em relação ao material exposto em faixas como Hood e Dark Parts – todas focadas com amargura no ex-namorado -, está na forma como o cantor parece aos poucos seguir em frente, algo explícito na inaugural I Decline – “Eu posso ver por milhas / A mesma linha velha / Não, obrigado / Eu recuso“.

Mesmo em um sentido de mudança, beirando a superação em diversos momentos, Too Bright está longe de parecer uma obra marcada pela vitória dos (novos) sentimentos. Bastam os versos de All Allong, dolorosa canção de encerramento do disco, para perceber isso. “Eu não preciso do seu amor/ Eu não preciso de você para entender / Eu preciso de você para ouvir“, entrega o compositor em um último suspiro de saudade. Em determinados pontos do trabalho é perceptível também o desespero e desprezo de Hadreas em relação a si próprio, vide o julgamento amargo de My Body – “Eu uso o meu corpo como um pêssego podre / Você pode tê-lo se você lidar com o mau cheiro“.

Toda essa carga dramática, beirando o exagero, encontra na base “eletrônica” do disco o ponto de maior crescimento artístico do cantor. Músicas como Queen e Longpig, em que Hadreas caminha de um lado a outro das canções sempre acompanhado pelo ruído e a euforia dos atos instrumentais. Se levarmos em consideração a agressividade e forte carga emocional que preenche Grid – a grande faixa do álbum -, não seria um erro interpretar Learning e Put Your Back N 2 It como “meros preparativos” para a peça completa solucionada pelo artista. De fato, da apresentação econômica do músico no último ano, pouco parece sobrevivido. Ao menos em estúdio, Perfume Genius hoje soa como um gigante.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.