Disco: “Top Ten Hits of the End of the World”, Prince Rama

/ Por: Cleber Facchi 22/11/2012

Prince Rama
Experimental/Lo-Fi/Psychedelic
http://princerama.tumblr.com/

Desde que a paixão por registros conceituais tomou forma ao final da década de 1960 – passada a enorme aceitação de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967), maior e mais conhecida obra dos Beatles – que a construção de álbuns de mesmo propósito se intensificou. De registros memoráveis da discografia do Pink Floyd, passando por The Beach Boys, Radiohead, Iron Maiden e até alguns nomes relacionados com a música pop, como Kelly Clarkson e My Chemical Romance, a necessidade de produzir um disco concentrado dentro de uma história ou estrutura central ainda serve de inspiração para uma infinidade de artistas.

Mesmo que não mantenha uma história linear ou constante aproximação instrumental entre as faixas, em Top Ten Hits of the End of the World (2012, Paw Tracks) a dupla nova-iorquina Prince Rama encontra um novo e bem humorado rumo para um registro de nítidos delineamentos conceituais. Espécie de coletânea de musical feita para ser apreciada durante o fim do mundo – como já é anunciado na capa de visual típico da década de 1980 -, o mais novo álbum das irmãs Taraka e Nimai Larson vai além do propósito antes pensados dentro da extensa discografia da banda, organizando o melhor e mais estruturado composto já inventado pela dupla.

Sempre entregues ao experimento e a constante transformação da música pop, com o recente álbum as irmãs parecem interessadas pela primeira vez em conversar com uma parcela maior do público, rompendo com as amarras e prováveis limites que arrastaram a condução de todos os lançamentos anteriores para formatar um trabalho ligeiramente acessível. Fácil na maneira como as vozes melódicas parecem feitas para grudar nos ouvidos, assim que Blade of Austerity abre o disco somos soterrados por uma avalanche de sintetizadores, guitarras e programações eletrônicas que substituem o tempero tribal de outrora para brincar com a dança.

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Mais do que uma simples coletânea de hits, em cada nova faixa somos apresentados a uma banda diferente, pseudônimos e novas personalidades incorporadas pelas garotas do Prince Rama. Enquanto Those Who Live For Love Will Live Forever empurra o espectador para o synthpop das garotas do I.M.M.O.R.T.A.L.I.F.E., Radhamadhava revela outro caráter dos “artistas” que compõem o disco, apresentado o trabalho da também dupla Goloka, versão Árabe-Nipônica do que circula pelos trabalhos de Björk. Sobra até para o duo The Metaphysixxx apresentar a explosiva Exercise Ecstasy, um electropop típico do início década de 1990.

Mais do que simplesmente brincar com os personagens, a cada nova faixa é clara a transformação instrumental que decide os rumos do trabalho, com as irmãs Larson se desdobrando em uma frente de novos conceitos – muitas vezes incompatíveis entre si ou distantes dos registros iniciais das irmãs. O vasto cardápio de referências, entretanto, não esconde a construção bem amarrada que mantém o caráter de intimidade de cada música. Sempre dentro de um denso ensopado lo-fi e psicodélico – que inclusive lembra o Ariel Pink pré-Before Today, reflexo da presença de Tim Koh, um dos membros da banda -, a dupla dilui ingredientes diversos, pescando vez ou outra uma referência específica para trabalhar de forma apurada.

Coerente com a proposta e surpreendente do ponto de vista dos demais lançamentos da dupla – trabalhos sempre irregulares e demasiado confusos -, Top Ten Hits of the End of the World acerta, porém fica a impressão de que poderia ser maior e melhor estruturado. Mesmo a presença de Scott Colburn (que já trabalhou com Arcade Fire e Animal Collective) não consegue der um rumo exato às garotas, que acabam se perdendo em diversos momentos, barrando a execução de um disco que poderia soar ainda mais inventivo.

Top Ten Hits of the End of the World (2012, Paw Tracks)

Nota: 7.3
Para quem gosta de: Ariel Pink’s Haunted Graffiti, John Maus e Puro Instinct
Ouça: So Destroyed

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.