Disco: “Toque Dela”, Marcelo Camelo

/ Por: Cleber Facchi 06/04/2011

Marcelo Camelo
Brazilian/Indie/Alternative
http://www.myspace.com/marcelocamelo

Por: Cleber Facchi

Por mais que Sou (2008) fosse sim um bom disco de estúdio, dando a Marcelo Camelo a possibilidade de dar continuidade a um som que naquele memento parecia o mais exato a ele (uma espécie de sequência do álbum 4 do Los Hermanos), ainda assim, faltava certo “tempero” em suas composições. É inegável a sinceridade exposta em sons como Doce Solidão, Mais Tarde e Passeando, porém, talvez pela forma que o músico optou em desenvolver suas canções, o resultado parecesse frio e até simplista demais, como se faltasse alguma coisa às composições do carioca. Talvez seja até cedo para afirmar isso, mas Toque Dela (2011) faz parecer que Camelo finalmente se encontrou ou encontrou alguém.

O tempero que faltava ao músico já podia ser percebido ainda em 2008, porém, apenas em pequenas e concentradas quantidades, como se ainda não estivesse pronto de fato. O tempero nesse caso chama-se Mallu Magalhães. O novo disco de Marcelo Camelo pode parecer bobo (e em determinados momentos é isso mesmo), mas é inevitável, afinal, não há como negar o quão apaixonado o músico se encontra dentro desse registro. Se anteriormente – seja com sua antiga banda ou mesmo em carreira solo – ele se entregava em meio ao uso de eu líricos fantasiosos e metáforas sorumbáticas, aqui é o próprio se revelando por completo, um puro e sincero romântico.

Em dez faixas a temática é praticamente a mesma. Uma sequência de composições amorosas e confessionais, dez poemas de amor entusiasmados, que se mesclam com a saudade, a proximidade e toda a turbulência harmoniosa de um relacionamento. A pressão dada pela mídia (que até então havia esquecido Camelo no primeiro disco do Los Hermanos) em relação ao romance dos dois fica entendida como inexistente, afinal, do princípio ao fim, Toque Dela se movimenta como uma pintura de um casal apaixonado e qualquer interferência externa a isso é simplesmente negada ou imperceptível.

A mudança maior, entretanto, não está nos versos do compositor, já que ainda com o Los Hermanos, Marcelo Camelo foi capaz de converter seus sentimentos e versos de pura afetividade e confissão, como se via em Mais Uma Canção e Morena. A grande alteração encontra-se mais do que perceptível na instrumentação. Desde antes ao lançamento do álbum, o músico já havia afirmado que este não seria uma sequência do primeiro disco, tanto que haveria uma substituição do violão pelas guitarras. Porém, o recente trabalho não chega nem perto do “rock” explorado com sua antiga banda, ao mesmo tempo em que não desponta a mesma sonoridade folk de outrora. Um grande meio termo, que em linguagem estrangeira pode ser definido como Indie Pop.

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Mais uma vez o carioca convida os parceiros do Hurtmold para musicar o disco (embora dessa vez não o acompanhem em turnê). Quem também acaba se evidenciando dentro do álbum é Marcelo Jeneci. A todo o momento pintam desde referências indiretas, como ocorre em Pra Te Acalmar, até apontamentos mais do que expressivos em Tudo O que Você Quiser. A sonoridade alegre faz com que o álbum seja, ao contrário da estreia do músico em carreira solo, um resultado menos penoso, mais dinâmico e feito para ser ouvido sem limite de vezes, algo praticamente impossível tamanha a melancolia que residia em Sou.

Como bom letrista que sempre foi, Camelo utiliza-se de sua faceta romântica para dar forma a belos achados poéticos. Entre os claros destaques está a calma Três Dias, com o músico amarrando lugares, sentimentos e rimas bem utilizadas à uma instrumentação mais do que coerente. Logo ao abrir do disco temos também A Noite, entregando versos como “Triste é Viver só de solidão” ou ainda Ôô (primeira faixa do novo disco a ser lançada) que junto de um formidável arranjo faz com que trechos como “Tudo que eu fizer vai ser pra ver aos olhos dela” se consolidarem como um dos melhores momentos da musica nacional em 2011 (tudo bem, ainda é cedo para afirmar isso).

Assim como em Sou o músico ressuscitava algumas composições antigas (Liberdade) além de faixas gravadas inicialmente por outros artistas (Santa Chuva), em seu novo disco o músico faz valer a sua versão de Despedida. Gravada inicialmente por Maria Rita em seu disco Segundo de 2005, a canção chega inicialmente em moldes ponderados, para logo ser agraciada por uma instrumentação crescente. Arranjos de sopro se entrelaçam com uma percussão levemente regionalista. A canção acaba soando como um dos poucos momentos individuais do registro, separando-se dos demais achados românticos que permeiam a obra.

Toque Dela é um álbum que vai claramente causar indignações aos fanáticos, que há tempos esperam que seja o músico o responsável por uma sequência do Los Hermanos. Entretanto, assim como os comentários das revistas de fofocas de forma alguma influenciaram no relacionamento com Mallu Magalhães (prova disso é o presente registro), as críticas sobre esse álbum de nenhuma maneira surtirão efeito. Os olhos, o coração e os versos de Marcelo Camelo estão unicamente voltados a sua musa, e qualquer coisa que escape do seu campo de visão será compreendido como um mero borrão ou uma tentativa falha de chamar a atenção.

Toque Dela (2011)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Mallu Magalhães, Marcelo Jeneci e Hurtmold
Ouça: Ôô

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.