Disco: “Total Loss”, How To Dress Well

/ Por: Cleber Facchi 18/09/2012

How To Dress Well
R&B/Experimental/Electronic
http://howtodresswell.com/

Por: Cleber Facchi

A chegada de Love Remains em 2010 serviu dentro de alguns limites como um anuncio sutil para o cenário musical que se estabeleceria dali alguns meses. Um prelúdio melancólico e experimental do espaço que o R&B (uma constante óbvia na música norte-americana) ocuparia dentro do panorama alternativo e principalmente dentro da música pop – vide o bem sucedido último disco de Beyoncé. Ainda imerso na mesma proposta conceitual, Tom Krell, o homem responsável pelo How To Dress Well mergulha mais uma vez na sonoridade sombria e apaixonada que ajudou a restabelecer, entregando mais uma nítida soma de novos engenhos instrumentais e sentimentos que até então parecia ocultar.

Praticamente um oposto do que o cantor e compositor de Nova York conseguiu desenvolver há dois anos, em Total Loss (2012, Acephale), Krell nos apresenta um conjunto de exaltações mais leves e por vezes comerciais dos inventos que ele próprio havia testado previamente. Enquanto o trabalho anterior seguia exatamente aquilo que o músico entregava na capa do registro, evidenciando pequenos pontos luminosos (os vocais) em cima de uma nuvem de sombras enevoadas (a sonoridade), com o novo disco somos apresentados a uma variedade de contornos mais claros e uma instrumentação que mesmo similar opta por um delineamento direto e até simples. Os inventos, vozes amarguradas e a genialidade do artista, entretanto, ainda estão lá, intocáveis e talvez até mais atrativos.

Entendendo Love Remains como um mergulho profundo no lago de emanações sufocantes derramadas por Krell, então o novo álbum surge como um respiro, com o músico e o próprio ouvinte lentamente subindo para a superfície desse mesmo cenário outrora temperado pela dor. Mesmo que os entrelaces sorumbáticos que costuram o trabalho ainda sejam muito próximos dos elaborados há dois anos, talvez pela força do instrumental (agora límpido e acessíveis), tudo soa de forma distinta e ainda mais bela. Revelando detalhes que antes pareciam se esconder na camada de ruídos que fechavam o disco, Tom estimula o borbulhar constante de composições volumosas e que mantém uma educada relação (ainda que controlada) com a música pop.

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Naturalmente próximo do que o músico construiu em 2010, parte fundamental do que engrandece (e em alguns momentos até sustenta) a recente obra do HTDW vem da passagem pela música erudita testada no doloroso Just Once EP (2011). Obra curta de apenas quatro composições, o pequeno registro aproximou Krell de toda uma nova soma de experiências e encaixes sonoros antes controlados dentro dos primeiros inventos do norte-americano. Basta um simples passeio pela instrumental World I Need You, Won’t Be Without You (Proem) ou talvez pela doce Cold Nites para perceber toda essa manifestação de referências sutis e grandiosas na mesma intensidade. A predisposição a esse tipo de sonoridade praticamente empurra o músico para um novo caminho, tendência que não apenas pode, como deve ser aperfeiçoada em um futuro próximo.

Se a proposta do novo registro está em funcionar como um projeto maior e aberto a novos públicos, é nos vocais que Krell revela toda essa vastidão de acertos que bem solidificam e embelezam o álbum. Exemplo concreto dessa evolução, & It Was U mantém na simplicidade dos vocais que sobrepõem às batidas uma prova fundamental do poder que as vozes imprimem no trabalho. Inteligentemente instalada no fecho do álbum, Ocean Floor For Everything é outro exemplo de que ao serem bem aplicados os vocais fluem como um instrumento, garantindo um fechamento adequado ao conjunto de acertos que preenchem a obra desde a abertura. Até mínimos suspiros se transformam em combustível para o trabalho, vide a execução competente da climática Running Back.

Confortável dentro da estrutura musical que começou a construir há dois anos, Tom Krell não apenas mantém a base de acertos que lhe trouxeram destaque, como as expande ainda mais. Por vezes soando como uma variação melódica e menos rimada de Frank Ocean, em alguns instantes se manifestando como uma versão açucarada de Balam Acab, Holy Other e tantos outros que brincam com os experimentos, o produtor encontra novidade no que talvez pudesse soar de forma redundante ou convencional. Irônico notar que um trabalho que traz no título a expressão “perda total” (obviamente relacionado aos amargurados sentimentos do compositor) tenha tanto a oferecer.

Total Loss (2012, Acephale)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Active Child, Frank Ocean e James Blake
Ouça: Talking To You, Ocean Floor For Everything e & It Was U

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.