Disco: “Tragedy & Geometry”, Steve Hauschildt

/ Por: Cleber Facchi 05/01/2012

Steve Hauschildt
Ambient/Psychedelic/Experimental
http://www.kranky.net/artists/stevehauschildt.html

 

De maneira bastante natural ao observarmos a estrutura de determinados grupos musicais é possível separar aquele que parece ser a principal mente por trás do projeto em questão. Emdiversos momentos isso pode ser evidenciado não apenas na figura de um único membro, mas na variedade de integrantes, que em diversos momentos fracionam a grandiosidade de suas obras entre os componentes que a integram, estabelecendo uma relação de dependência, como se cada personagem do grupo desempenhasse um papel fundamental para o desenvolvimento do trabalho do outro. O trio Emeralds parece funcionar claramente assim.

Desde que o grupo abandonou o caráter demasiadamente vago dos anteriores registros para alcançar a perfeita simetria musical com Does It Look Like I’m Here? em 2010 que a relação entre os integrantes se estreitou, tornando necessária a constante aproximação de cada um dos membros para o resultado de um projeto verdadeiramente satisfatório. Melhor exemplo disso está no apresentar dos álbuns em carreira solo de cada um dos componentes da banda – são eles John Elliott, Steve Hauschildt e Mark McGuire -, projetos que mesmo funcionais e ricos, parecem carecer de um complemento necessário e óbvio.

Mente mais inquieta da banda, McGuire – que ao longo de 2011 esteve à frente de três lançamentos próprios – talvez seja o que melhor soube se estabelecer longe dos demais componentes do grupo, algo que o ainda recente Get Lost, lançado em setembro do ano passado conseguiu apresentar com vivacidade. Porém, mesmo com o resultado satisfatório, em determinados momentos os sintetizadores psicodélicos (e mágicos) dos demais integrantes acabam fazendo enorme falta, sintetizadores que parecem chegar somente agora com Tragedy & Geometry (2012, Kranky) primeiro registro solo do parceiro de banda Steve Hauschildt.

Com mais de uma hora de duração, o registro se evidencia como o condimento necessário para a boa construção da obra de McGuire, muito embora a soma de teclados que passeiam pelo álbum ainda deixem a desejar – também carecendo das guitarras do companheiro ou mesmo dos teclados (essencialmente ambientais) do colega Elliott. Dessa forma, permanece a pergunta: estaria a tríade produzindo um registro separado e ao mesmo tempo em conjunto? A resposta vem como um infeliz não, entretanto, mesmo que o presente álbum acabe conceitual e instrumentalmente aquém do que é proposto pelo Emeralds, podemos nos deparar com diversos bons momentos ao longo do disco.

Perdido entre os experimentos eletrônicos do Kraftwerk no começo dos anos 1970 e os minimalismos da música Techno germânica em princípios da década de 1990 (a aproximação com os artistas do selo Kompakt, principalmente Gas, é visível), Hauschildt converte o que poderia se transformar em apenas mais um projeto de música ambiental em uma verdadeira experiência sonora mística e ampla. Seja através de criações mais curtas como Cupid’s Dart ou mesmo através de faixas mais extensas, feito Music for a Moiré Pattern com mais de 11 minutos, há sempre a necessidade em produzir um tratado hipnoticamente imaginativo, como se cada faixa instigasse o ouvinte a adentrar em um plano visual emblemático em sua própria mente.

Talvez o que prejudique no desenvolvimento do disco (além da óbvia longa extensão) seja a falta de um conceito ou aproximação entre as músicas, algo também visível nas obras de McGuire, mas que dentro de Tragedy & Geometry acaba se revelando em criações esparsas e não próximas. Por mais que fórmulas irregulares deem vida ao projeto, a maneira como o músico explora cada tonalidade da obra impede que ele desenvolva um projeto excessivamente mecânico e ausente de originalidade, transformando os bons momentos do registro em pontos que merecem ser apreciados imoderadamente.

Tragedy & Geometry (2012, Kranky)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Emeralds, Gas e Mark McGuire
Ouça: Blue Marlin e Music for a Moiré Pattern
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=LVh7sSEQJkY&w=490&h=25]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.