Disco: “Transe Só EP”, Hierofante Púrpura

/ Por: Cleber Facchi 31/03/2011

Hierofante Púrpura
Brazilian/Experimental/Psichedelic
http://www.myspace.com/hierofantepurpura

Por: Cleber Facchi

Se no exterior a onda de artistas inspirados no experimentalismo pop é o que há um bom tempo tem nos agraciado com suntuosos lançamentos – Merriweather Post Pavillion (2009), Person Pitch (2007) e Veckatimest (2009) apenas como exemplos – no Brasil o gênero parece aos poucos se evidenciar de forma gratificante. Depois de dois belos registros do Inverness e mais recentemente o novo single do Dorgas, quem agora chega para dar sua contribuição é o trio paulista Hierofante Púrpura, que acaba de soltar um EP inspirado e excêntrico.

Transe Só EP (2011) é um trabalho que teve início lá em 2009 quando Danilo Sevali (baixo, piano e vocal) Gabriel Mattos (guitarra) e Diego Menichelli (bateria) lançaram a dobradinha de EPs Adubado e Crise de Creize, ambos trabalhos que se apresentavam em um formato ainda mais inovador do que fora proposto com o lançamento de Asucar-Çugar EP de 2006. Trazendo referências do post-rock, post-hardcore, noise e da música psicodélica, o grupo originário de Mogi das Cruzes mostrava uma enorme evolução na poesia das canções e um amadurecimento óbvio em sua musicalidade.

Em quatro faixas, o trio nos convida a embarcar em um passeio meio nonsense, quase onírico, um tipo de som que mescla tematizações urbanas com agrupados de referências rurais. O indie rock dos anos 90 se encontra com o som dos Mutantes, o rock rural e se cruza com Sonic Youth, tudo agitado dentro de um grande liquidificador com as lâminas praticamente sem fio, deixando com que todos os sons sejam encontrados de forma bruta, pedaços quase inalterados de referências.

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Rosa Frígida que abre e introduz o tipo de som do trio viabiliza uma instrumentação cuidadosa e amargurada (muito por conta da letra caprichada de Sevali e Felipe Lima), valendo-se de um tipo de instrumentação que transita entre o som de grupos como Fugazi, adornando-se de pequenos agregados de jazz. A faixa toca o etéreo, volta para o campo do real e se mantém assim, inconstante (e bela) a todo tempo. Com um toque mais caseiro Areia no Olho Alheio apresenta a banda e forma mais controlada, embora ainda deixando fluir suas experimentações.

Com Hospital das Curas os paulistas se jogam dentro de uma ambientação muito similar ao som do Mineral ou de outros artistas compreendidos dentro do Post-Hardcore. Os versos da canção parecem muito mais com um jogo de palavras incumbido de movimentar a canção do que de apresentar algum tipo de argumento ou racionalidade em si. Detalhe para quando o trio toca um despertador dentro da faixa, como se a partir dali ela se dividisse, abrindo espaço para um momento de quase improviso e de grande beleza instrumental.

Repleta de delays, A Carta Que Eu Recebi Do Presidente é a composição escolhida para o fechamento do álbum, e é preciso concordar que não haveria forma melhor para isso. Movida apenas pelo verso “Deixa o mundo ser torto” a canção difunde um som ainda mais viajado, somando elementos do dub e despontando até certos delírios vocálicos e instrumentais. Um fecho condizente para este perspicaz e flexível registro, a última parada antes de (infelizmente) desembarque na vida real.

Transe Só EP (2011)

Nota: 8.1
Para quem gosta de: Dorgas, Gigante Animal e Inverness
Ouça: Hospital das Curas

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.