Disco: “Trelêlê”, Aíla

/ Por: Cleber Facchi 03/10/2012

Aíla
Brazilian/Female Vocalists/
https://www.facebook.com/ailamusic

Por: Cleber Facchi

Quando no lançamento de Treme defendi a necessária presença de Gaby Amarantos como uma ponta de lança da cultura nortista, representando tudo que vinha acontecendo no cenário paraense atual, era sobre o surgimento de nomes recentes como a jovem Aíla a que me referia sobre a relevância da “musa do Electrobrega”. Flutuando no mesmo cenário tropical que arquitetou o nascimento da responsável pelos hits Xirley e Ex Mai Love, a cantora e compositora paraense faz do debut Trelêlê (2012, Na Music) um fino exemplar do que ecoa ao norte, se desvencilhando dos exageros instrumentais que por vezes assustam o grande público e entregando um som de nítida ambientação pop.

Ora se manifestando como uma extensão colorida da Céu do primeiro disco, ora incorporando os realces pop que se acomodam na tonalidade doce do registro de estreia de Tulipa Ruiz, Efêmera (2010), a cantora que iniciou a carreira em 2008 parte do mesmo pressuposto ponderado assumido por Felipe Cordeiro no decorrer de Kitsch Pop Cult. Por falar em Cordeiro, é a produção assertiva do cantor e guitarrista que ponta com inteligência todo o perímetro do trabalho, um álbum que busca crescer de forma natural, sem jamais ultrapassar os limites que possam pintar com excesso ou exagero a finalização de cada música.

Atenta ao que se manifesta em sua terra natal, mas com os ouvidos apontados para o que dita a produção musical em solo paulistano, Aíla se aproxima de uma camada de sons descompromissados e plásticos, referências que por vezes bebem do rock, reggae, da MPB convencional e até realces mais nostálgicos de maneira sempre particular e inventiva. Dentro dessa sutileza instrumental, a artista, o produtor e a pequena frente de instrumentistas que a auxiliam tramam o que talvez seja a melhor representação do que aconteceria se Marisa Monte iniciasse sua carreira nos dias de hoje, com o samba de outrora dando lugar aos acertos ensolarados e a tropical instrumentação latina que se aconchega no interior da obra.

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Com a tapeçaria sonora bem arranjada, resta à cantora passear de forma sublime (e a seu próprio tempo) por uma cama de versos sempre bem relacionados com a proposta instrumental que permeia o disco. Se o rock da década de 1970 (no melhor enquadramento brega) é a lei, então são os versos românticos da faixa-título que ditam de maneira competente os rumos do trabalho. Já quando o ritmo é de despojo e necessidade involuntária de dançar, são os versos firmes e acolhedores, quase como conselhos, de Garota (com participação de Gaby Amarantos) que assumem a direção do álbum. Assim, dentro desse ritmo leve é possível identificar um conjunto rico de composições, faixas que esbarram na crítica (Todo Mundo Nasce Artista) e na paixão (Pelo Retrovisor) sempre de maneira simples, honesta e consequentemente atrativa.

Se a variedade sonora e das cores é o que dita os rumos dos sons vindos de solo paraense, então múltiplas são as vozes que auxiliam a cantora no decorrer do álbum. Além da já citada Gaby Amarantos contribuir de maneira perceptível no decorrer da faixa Garota, é na colaboração de Dona Onette (que também contribui para o melhor momento de Treme, com a grandiosa Mestiço) que o grande acerto do disco se revela. De autoria da veterana, Proposta Indecente revela todos os acertos e o que existe de mais belo no decorrer do álbum, com o brega, a cúmbia e o pop se entrelaçando em uma mistura dolorosa que cresce muito em razão dos versos firmes da composição.

Com a capacidade de se expandir ainda mais – como fica claro na execução dos momentos mais assertivos e pouco óbvios do trabalho -, Aíla firma bases sólidas para uma carreira que deve crescer mesmo depois de passada a suposta “febre” da música paraense. Sem os mesmos experimentos e anunciações grandiosas que se manifestam na recente safra das cantoras brasileiras – como Céu e Karina Buhr -, a “novata” e principalmente a presença madura de Felipe Cordeiro tornam público que ainda há muito a ser explorado na música típica do Pará, feito que se revela com parcimônia, como se a cantora guardasse para ela o ouro que esconde em sua voz e nos versos que ainda há de revelar. Por enquanto, apenas a beleza e a suavidade que hão de fisgar uma boa parcela de novos ouvintes, inclusive os que ainda torcem o nariz para o que despeja a música nortista.

Trelêlê (2012, Na Music)

Nota: 7.5
Para quem gosta de: Felipe Cordeiro, Gaby Amarantos e Céu (do primeiro disco)
Ouça: Proposta indecente, Trelêlê e Caminho

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.