Disco: “Treme”, Gaby Amarantos

/ Por: Cleber Facchi 05/05/2012

Gaby Amarantos
Brazilian/Electrobrega/Pop
http://gabyamarantos.com/

Por: Cleber Facchi

Provavelmente a maior carência do cenário musical independente ou mesmo no circuito comercial seja o surgimento de uma musa de peso e que alcance todas as parcelas do público. Uma figura que caminhe tanto pelas elites, nichos e demais classes sem preconceitos. Faltava alguém que ocupasse o mesmo papel que Beyoncé conseguiu estabelecer em solo norte-americano (e posteriormente nos demais cantos do mundo), quando se transformou em um ícone tanto aos fanáticos por música pop, como para o público alternativo, algo que se revela na ampla aceitação do último álbum da cantora e que aponta uma lacuna bastante visível no panorama brasileiro.

Mais do que uma personagem, talvez faltasse um estilo musical que captasse isso. Uma sonoridade que fosse inédita, não discriminada, compreendida, cativante e aceita por todos – ou quase todos. E que ritmo melhor indicado do que o electrobrega para cumprir isso? Cada vez mais próximo do grande público e observado como um gênero cult por outros, o genuíno estilo paraense foi ao longo dos últimos dois anos melhor aproveitado, ganhando um enquadramento mais pop por conta de nomes como Valdo Squash (da Gangue do Eletro), comicidade pelo trabalho de DJ Cremoso e até uma bem sucedida aproximação com o indie, produto da inventividade do trio goiano Banda Uó.

Ainda assim faltava um nome, uma ponta-de-lança que representasse toda essa fluência de novos artistas, sons e referências construídas nesses últimos anos. Logo, ninguém seria melhor indicada para cumprir esse papel do que Gaby Aamarantos. Banhada pelo apelo popular, adorada pela crítica e cultuada pelo público alternativo, a cantora vinda diretamente da capital paraense, Belém, parece agregar todos os valores para ocupar esse posto, resultado mais do que óbvio em vista do sucesso da faixa Xirley, única composição de destaque da artista até o momento, mas que fez com que boa parte dos ouvidos e olhares fossem direcionados para o território amazônico em uma tentativa de desvendar o que musicalmente acontecia por lá.

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Assumidamente construído para balançar qualquer estrutura, Treme (2012, Som Livre) não é apenas uma simples estreia de um novo ícone do pop nacional. Mais do que isso o álbum é uma síntese de toda a produção paraense e o esforço coletivo de uma infinidade de nomes, vozes e batidas. Acompanhada pelos (eficientes) produtores Waldo Squash e Félix Robatto, além de figuras locais como Felipe Cordeiro (em Ela Tá No Ar) e Dona Onete (em Mestiça), Amarantos utiliza do trabalho como uma porta de entrada para todo o universo que foi montado por lá, utilizando de faixas marcadas pela quentura e originalidade como um mecanismo para ingressar no ambiente pop que ela própria cultiva até o encerramento do álbum com a coreografada Faz O T – música de quando ainda fazia parte do grupo TecnoShow.

Mais do que um perfeito cardápio de hits fáceis e letras que grudam no cérebro do ouvinte, por vezes Treme deixa de lado o ritmo forte de faixas como Ex Mai Love, Gemendo e Xirley para se apegar ao uso de composições genuinamente regionais e ainda mais ricas em detalhes. Surgem assim os melhores momentos do disco, como na surpreendente Mestiça, em que ao lado de Dona Onete (uma das principais representantes da cena local) Amarantos alcança um resultado mais sóbrio e corajoso. O mesmo acerto se repete quando ela regrava Vem Me Amar, faixa de autoria de Alípio Martins, um dos responsáveis pela popularização do Carimbó em meados da década de 1970.

A produção artística de Carlos Eduardo Miranda – que já havia se aventurado pelos regionalismos no começo dos anos 90, com os trabalhos do Raimundos e Mundo Livre S/A – garante um acabamento primoroso ao álbum, que tem as portas abertas tanto ao grande público (algo facilmente estabelecido com a regravação de Coração Está em Pedaços de Zezé Di Camargo e Luciano) como para as pistas de dança ou parcelas mais exigentes dos ouvintes. Apenas esqueçam o rótulo de “Beyoncé do Pará” que por vezes oculta a figura original de Amarantos. Treme é apenas uma mostra do quanto ela é muito maior e mais inventiva do que apenas isso.

Treme (2012, Som Livre)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Gang do Eletro, DJ Waldo Squash e Banda Uó
Ouça: Gemendo, Mestiça e Ex Mai Love

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.