Disco: “Três Cabeças Loucuras”, São Paulo Underground

/ Por: Cleber Facchi 22/11/2011

São Paulo Underground
Brazilian/Experimental/Jazz
http://soundcloud.com/cuneiformrecords/artist-s-o-paulo-underground

Por: Cleber Facchi

 

Musicalmente o ano de 2011 parecia ter esgotado todas suas forças, afinal, grande parte dos lançamentos musicais costumam surgir até meados de setembro ou outubro, evitando o resfriamento natural do mercado que ocupa boa parte dos meses seguintes até a chegada do próximo ano. Esse tipo de estratégia, entretanto, não parece ser a escolhida pelos integrantes do São Paulo Underground, que ao se aproximarem dos últimos momentos do ano surgem agora com um verdadeiro achado musical, um registro que promete de forma significativa romper com qualquer ordem dos melhores trabalhos lançados até agora.

Da abertura sintetizada que logo se adorna de uma percussão suingada ao minimalismo ambiental e reconfortante de Colibri, do jazz esquizofrênico de Six Six Eight ao fecho melancólico e climático de The Bat’s Digital Diplomat, cada segundo que passamos dentro do excêntrico Três Cabeças Loucuras (2011, Cuneiform) somos soterrados por uma montanha de distintas e sempre mutáveis formas musicais. Dividido em nove faixas – e um total de 43 minutos – o álbum perverte de maneira experimental todos seus possíveis rumos, permitindo que o ouvinte flutue em um universo de formas inconstantes e ritmos sempre quebradiços.

Formado em meados dos anos 2000 a partir do encontro entre o musico norte-americano Rob Mazurek e o baterista do Hurtmold Maurício Takara, o projeto foi desde seu surgimento crescendo de maneira exponencial, sendo acrescido posteriormente de Guilherme Granado e Richard Ribeiro, personagens que trouxeram ainda mais notoriedade ao leque de possibilidades que o trabalho viria a desenvolver. Vindos de dois álbuns anteriores, é com o lançamento desse recente disco que o quarteto parece finalmente ter se encontrado, algo que se comprova logo na faixa de abertura (Jagoda’s Dream) e vai se intensificando com o passar do registro.

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Menos orgânico que os projetos anteriores, o presente lançamento parece aproximar o quarteto de integrantes de uma tonalidade essencialmente eletrônica, puxando grande parte dos experimentos gestados ao longo do trabalho para algo que o próprio Mazurek há tempos vinha desenvolvendo em carreira solo. Dessa forma é possível aproximar o trabalho do grupo paulistano dos recentes lançamentos da banda norte-americana Tortoise, que desde a chegada do disco Beacons of Ancestorship (de 2009) passou a intensificar sua relação com a música eletrônica.

Contudo, diferente do que é instrumentalmente anunciado pelo grupo de Chicago – cidade natal do próprio Mazurek -, em Três Cabeças Loucuras a eletrônica surge como uma espécie de tempero, um complemento ao espesso caldo musical produzido pelo quarteto e que abarca elementos do jazz, pós-rock, algumas passagens pelo Krautrock e em menor frequência toques de música brasileira. Vasto, o registro possibilita que cada mínima composição seja inundada por uma somatória de várias experiências musicais, concentrando em seus parcos minutos de duração – a maior faixa contabiliza exatos 6:13 minutos – uma quantidade suficiente de experiências e possíveis conexões musicais.

Se mantendo como uma espécie de meio termo entre a vastidão instrumental do Hurtmold e as experiências sintetizadas de Rob Muzarek, o trabalho parece ter encontrado uma medida instrumental única, mantendo os dois pés bem cravados no mundo real, embora mantenha sua cabeça flutuando em um céu de nuvens experimentais. Esqueça o óbvio, se desvencilhe do básico e seja bem vindo ao submundo do São Paulo Underground.

Três Cabeças Loucuras (2011, Cuneiform)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Hurtmold, Guizado e Rob Mazurek
Ouça: Six Six Eight, Jagoda’s Dream e Pomboral

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.