Disco: “Tropical/Bacanal”, Bonde do Rolê

/ Por: Cleber Facchi 06/08/2012

Bonde do Rolê
Brazilian/Electronic/Funk
https://www.facebook.com/bondedorole

Por: Cleber Facchi

O Bonde do Rolê parece ter surgido como um resultado quase natural da época em que foi criado. Enquanto o funk carioca lentamente deixava as periferias para se transformar em um som elitizado e de apelo internacional – vide o bom desempenho da rapper M.I.A. com o disco Kala (2005), a procura por bandas de exportação que repetissem os acertos do fenômeno Cansei de Ser Sexy faria com que uma infinidade de artistas voltassem seus esforços para a construção de um trabalho que atendesse as demandas estrangeiras. Até a explosão do Orkut naquele momento parecia servir de “inspiração” ao surgimento do trio curitibano, que não tardou em nomear o primeiro disco com o cômico título de With Laser, uma “homenagem” ao fenômeno que se apoderava de boa parte das comunidades da rede social.

Por conta desse resultado alicerçado em cima de elementos típicos de uma época, pensar na existência do novo disco da banda formada por Rodrigo Gorky, Pedro D’Eyrot e Laura Taylor (Marina Vello deixou a banda em 2007) soe de forma incompatível com o que musicalmente ecoa na cena nacional ou mesmo estrangeira. A tríade, entretanto, sabe bem disso, tanto que ao longo de Tropical/Bacanal (2012, Mad Decent) o grupo e o produtor norte-americano Diplo encontram um caminho novo, apoiando os versos irônicos de outrora em uma sonoridade caliente que lentamente deixa o Funk em um segundo ou talvez até em um terceiro plano.

Com uma produção naturalmente assertiva e uma diversidade sonora que supera em termos de qualidade o primeiro disco, o segundo trabalholentamente se acomoda no que hoje caracteriza o universo pop em seus múltiplos aspectos. Sai o Orkut, entra o Facebook. As imagens de divulgação antes em resolução máxima, agora aparecem instagramadas. O funk, por sua vez, dá lugar ao electrobrega e toda uma variedade de outros ritmos e preferências musicais. Do princípio ao fecho do novo disco um caleidoscópio de cores e sensações renovadas se apoderam da produção do grupo, proposta que redefine tanto os versos como as batidas mais abertas e consequentemente dinâmicas do presente álbum.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=wPqGoeLUZ_w?rol=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=z5zP9XMquMs?rol=0]

Como o título aponta, Tropical/Bacanal se dissolve em referências tomadas por um clima muito mais abrasileirado, com o trio seguindo de forma aprimorada o mesmo enquadramento da faixa Tieta – um axé-pop do primeiro disco. Partindo desse princípio, o Bonde estabelece uma coerente relação com a presença tropical que se apodera do indie nacional, dialogando abertamente com o que Do Amor (Pucko), Holger (Baby Don’t Deny It) e Banda Uó (Kanye) vêm desenvolvendo em seus respectivos trabalhos. Mesmo que faltem versos tão sujos quanto os que movimentaram “clássicos” como Marina do Bairro, a fluidez pop de músicas como Bang e Baby Don’t Deny It (regravação de Baby Doll de Nylon com participação de Caetano Veloso e Poolside) garantem um resultado seguro ao disco.

Embora seja função (involuntária) de alguns álbuns fornecerem as respostas mais adequadas às diversas percepções e sensações humanas, isso está longe de acontecer com o trabalho do Bonde do Rolê. Assim como no projeto anterior, o que motiva e conduz o disco é a força da banda em produzir um registro descompromissado, dançante e divertido em todos os limites. Não espere encontrar a resposta para sua melancolia, termino de relacionamento ou qualquer outra dúvida existencial dentro do disco. Da faixa de abertura, Arrastão, até a cômica Baile Punk no encerramento do álbum, tudo é desenvolvido de forma a convidar o ouvinte para a dança, sem que ele precise pensar muito sobre isso.

Tropical/Bacanal peca (e muito) por não manter o mesmo tom sarcástico e a malandragem do primeiro disco, soando até sério demais em alguns momentos – principalmente nas faixas cantadas em inglês. Lançado seis anos após a estreia dos curitibanos, o disco mostra uma clara evolução e uma capacidade incrível do grupo em se adaptar, mesmo que em alguns momentos a piada contada por eles pareça repetitiva e até sem graça.

Tropical/Bacanal (2012, Mad Decent)

Nota: 6.5
Para quem gosta de: Diplo, Banda Uó e Cansei de Ser Sexy
Ouça: Bang, Dança Especial, Kilo e Baby Don’t Deny It

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/53118364″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.