Disco: “Trouble In Mind”, The Paperhead

/ Por: Cleber Facchi 29/03/2011

The Paperhead
Psychedelic/Garage/Alternative
http://www.myspace.com/lookingglasssound

 

Por: Cleber Facchi

Alguns trabalhos carregam facilmente o rótulo de atemporais, o mais recente exemplo desse tipo de álbum que pode ser apreciado em diferentes décadas é o viajado Trouble In Mind (2011), disco de estreia do trio norte-americano The Paperhead. Sungando referências das décadas de 1960 e 1970 sem soarem como meras cópias, as composições do grupo transitam por um terreno psicodélico e por vezes experimental, mas que por vezes se forma um belo achado pop.

Se aprofundar nas texturas relaxadas das guitarras lisérgicas que passeiam pelo álbum é uma verdadeira viagem no tempo. Dos Beatles pós-Sgt Peppers, passando por toques mais pesados de Led Zeppelin, reverberações cacofônicas, goladas de Jefferson Airplane, loopings incontroláveis e talvez em menor intensidade alguns lampejos de Pink Floyd. Tudo exposto de maneira pura, como uma verdadeira homenagem, nunca uma cópia.

O disco abre com a extasiante Let Me Know, e como o próprio nome da faixa diz, deixe-nos conhecer a sonoridade do trio – formado por Ryan Jennings, Mimms Walker e Peter Stringer-Hye – deixe-nos saborear cada pequena textura inconstante do grupo. O ritmo crescente vai lentamente formalizando toda a estética do grupo, fazendo crescer um cenário colorido, quase mágico e contemplativo. Não haveria de ter uma abertura mais coerente do que essa. Mais à frente, temos Evergreen Tangerine, que talvez por sua aura hippie e elementos mais concisos lembrem de alguma forma Fleet Foxes.

Diferente de outros achados da psicodelia moderna, pegando como exemplo o ainda recente Innerspeaker (2010) dos australianos do Tame Impala, Trouble In Mind aponta um caráter completamente orgânico, quase bucólico e que se fosse vindouro de terras tupiniquins facilmente arranjaria rótulos de rock rural. Do You Ever Think Of Me? aponta todos esses elementos de maneira hábil, através do uso das guitarras tocadas como se fossem violões, além do arranjo vocálico preparado pelo trio. Bastariam apenas alguns samplers de sapos, ruídos aquosos ou demais sons naturalistas para ser uma versão gringa do Supercordas.

Mesmo que o caráter rural acabe edificando boa parte do trabalho, o trio abre espaço para a inclusão de belas composições que acarretam um tipo de som bem mais garageiro e experimentalista. Os quase três minutos de Easy Living demonstram um dos momentos mais chapados e ruidosos do disco, como se a banda lançasse os efeitos nas guitarras e simplesmente esquecessem deles. Faixa mais longa do disco, Can’t Keep My Eyes Open também é a composição mais concisa e direta do álbum, embora abra espaço para pequenos desbravamentos instrumentais.

Apesar do trio ser oriundo de Nashville a música country parece em nenhum momento ter tocado a sonoridade do grupo. A banda se mantém firme dentro de sua proposta do princípio ao fim, inviabilizando qualquer tipo de som que soe alheio às formatações lisérgicas apresentadas logo na faixa de abertura. Trouble In Mind é sem sombra de dúvidas um disco agradabilíssimo para os amantes da temática, impossibilitando rótulos de cópia e esbanjando criatividade.

 

Trouble In Mind (2011)

 

Nota: 7.4
Para quem gosta de: Tame Impala, Fleet Foxes e Real Estate
Ouça: Back To Those Days

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.