Disco: “Trouble”, Totally Enormous Extinct Dinosaurs

/ Por: Cleber Facchi 07/06/2012

Totally Enormous Extinct Dinosaurs
British/Electronic/Indie
http://totallyenormousextinctdinosaurs.tumblr.com/

Por: Fernanda Blammer

Provavelmente um dos maiores erros de boa parte dos grandes ou pequenos artistas da geração atual seja a incapacidade dos mesmos de investir não apenas na música, mas também no visual. É como se os grupos, produtores ou quaisquer indivíduos relacionados com o mundo da música desde cedo pensassem apenas no projeto em estúdio e esquecessem por completo do resultado ao vivo. Todavia, esta parece ser uma estratégia que desde o começo pareceu bem estabelecida na mente do produtor britânico Orlando Higginbottom, que ao se apresentar como Totally Enormous Extinct Dinosaurs, encarna uma espécie de personagem, uma figura mezzo indígena, mezzo futurística que automaticamente ilustra as criações eletrônicas propostas por ele.

Como ninguém é capaz de acertar de todas as formas, ao investir no visual, Higginbottom parece simplesmente esquecer da boa música. Inegável que ao longo do primeiro registro oficial – denominado Trouble e lançado pela Polydor – à frente do TEED o acerto seja visível em alguns momentos, entretanto, o caráter básico e pouco inventivo do disco impede que ele se desenvolva e cresça eventualmente. Dessa forma, o produtor cria um registro que acaba vendido mais pelo visual espalhafatoso do material de divulgação do que pela própria qualidade de suas canções em si, faixas que até atingem o ouvinte em alguns momentos, mas jamais conseguem passar disso.

Figura distante do que atualmente define a produção eletrônica em território britânico, em Trouble TEED se afasta tanto do dubstep e da IDM quanto de qualquer outra referência que possa aproximá-lo ou estabelecer uma mínima conexão com outros artistas do panorama inglês. Mesmo que o produtor opte por uma sonoridade particular, por vezes o registro parece próximo da mesma house music que percorre todo o primeiro álbum dos conterrâneos do The 2 Bears, algo que os vocais nada econômicos da faixa Garden ou toque pop-dançante da faixa Household Goods exemplificam de maneira muito próxima do que é testado dentro de Be Strong, primeiro registro da dupla formada por Joe Goddard e Raf Rundell.

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Por falar em Goddard, não são poucos os momentos no decorrer do trabalho que a atuação de Higginbottom passa muito perto do que o músico explora em sua outra banda, o Hot Chip. Principalmente nos momentos em que os vocais ganham uma maior valorização – como na faixa You Need Me On My Own – e os beats soam menos óbvios, a sonoridade proposta acaba lembrando muito os momentos mais intimistas da banda, marca que aparece principalmente na segunda metade de Made In The Dark (2008) e em alguns momentos do disco One Life Stand, de 2010. Até Miike Snow, Simian Mobile Disco e Metronomy parecem servir de influência para o produtor, que absorve tais sonorizações vindas de outros artistas e as entrega de maneira levemente reformulada dentro do álbum.

Última e disputadíssima atração do segundo dia do Sónar São Paulo, Orlando Higginbottom provou que nem mesmo ao vivo as canções propostas por ele parecem crescer ou talvez contar com um complemento adequado. A mesma timidez que impera e reverbera no interior do álbum – ainda inédito na época da apresentação – se manifestou no decorrer da performance, com o britânico mais uma vez provando ser dono de um visual surpreendente, mas que acaba esquecendo do básico: a música. Tudo aquilo que caracteriza o disco nada mais é do que um já desgastado jogo de referências e fórmulas básicas, algo que qualquer produtor que já construa um material para tocar em rádio faz de maneira competente e até mais aprimorada do que inglês.

Os erros lançados em Trouble não apenas precisam ser corrigidos futuramente como o TEED precisa ainda encontrar uma sonoridade que não o transforme em um mero repetidor, um artista que encontra na musicalidade já montada por outros produtores a matéria-prima para canções vagarosas e insossas. Um bom caminho seria sim a aproximação com um som mais pop, algo que o produtor já tenta em diversos momentos, mas acaba desistindo na metade da canção. Por mais que as roupas espalhafatosas e as cores que cercam o artista até estabeleçam inicialmente um poderoso “efeito pavão”, basta uma atenta audição do álbum para perceber que tudo não passa de uma farsa, afinal, o disco pode até enganar inicialmente, mas nada que não seja posteriormente derrubado.

Trouble (2012, Polydor)

Nota: 5.0
Para quem gosta de: The 2 Bears, Miike Snow e Simian Mobile Disco
Ouça: Gardens

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.