Disco: “Trust EP”, Gold Panda

/ Por: Cleber Facchi 24/01/2013

Gold Panda
British/Electronic/Glo-Fi
http://www.iamgoldpanda.com/

 

Por: Cleber Facchi

Gold Panda

Parte da natural surpresa em torno da obra de Gold Panda sempre esteve relacionada com a maneira encontrada pelo produtor britânico para diluir os sons e samples caseiros dentro de uma proposta autêntica. Do recorte orgânico de velhas fitas VHS, sons cotidianos e uma curiosa relação com a sonoridade oriental, a variação constante de referências caseiras sempre se estabeleceram como uma diretriz para guiar toda e qualquer composição assinada pelo artista. Talvez por conta desse rompimento com os sons nostálgicos de outrora, visitar a obra recente de Panda em Trust EP (2013, Ghostly International), se transforme em um exercício inicialmente difícil de ser apreciado.

Contrariando as marcas analógicas estabelecidas no cada vez mais distante Lucky Shiner (2010), o britânico deixa de lado a proposta de visitar referências externas e sonorizações distintas para se enclausurar nas fórmulas matemáticas de um estúdio – entenda como um quarto e um computador. Mesmo que logo na abertura do curto álbum o uso de um diálogo cinematográfico busque proporcionar continuidade ao que o produtor testou há três anos, tão logo as batidas ganham destaque, Gold Panda evidencia sua habilidade em fabricar sons. Sintético até os últimos instantes, o álbum abandona a formatação radiante de outrora para fixar uma relação com um composto cinza e hermético, quase uma transcrição musical do que se materializa visualmente na capa do EP.


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A nova formatação instrumental aproxima o produtor de maneira involuntária do que Burial e outros gigantes da cena inglesa vêm construindo desde o final da década passada. Por vezes raspando nas mesmas exaltações eletrônicas que identificam a recente fase de Four Tet e até brincando com os planos oníricos que marcam a obra de Flying Lotus, o registro, e mais especificamente a faixa que dá nome ao disco amortecem o espectador em uma camada simplista de sobreposições que tendem ao previsível. Mesmo nos instantes mais criativos e amplos da obra, a incorporação de uma sonoridade marcada ajuda a identificar o que parece uma nova proposta na atuação do artista, ou talvez um passatempo antes de um regresso aos inventos que marcaram o passado recente do britânico.

Mesmo que diversos aspectos que direcionam o registro atual sejam encontrados em alguma medida nos anteriores inventos do produtor (principalmente aqueles fixados na segunda metade Lucky Shiner), o ambiente acinzentado criado pelo artista acaba por percorrer um novo universo. O que antes era preenchido por pequenas orquestrações fatiadas ou vozes costuradas em loopings artesanais, agora dá lugar para que métricas robóticas proliferem. Um resultado de inegável renovação, mas constante estranheza, afinal, não há como transitar pela obra de Gold Panda sem inevitavelmente recordar as texturas inventivas que lhe concederam destaque até bem pouco tempo.

 

Gold Panda

Trust EP (2013, Ghostly International)


Nota: 7.0
Para quem gosta de: Four Tet, Burial e Flying Lotus
Ouça: Trust

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.