Disco: “Tudo Veio Do Nada”, Chimpanzé Clube Trio

/ Por: Cleber Facchi 16/09/2011

Chimpanzé Clube Trio
Brazilian/Rock/Instrumental
http://www.chimpatrio.com/

 

Por: Cleber Facchi

Existe uma tênue linha que separa com exatidão duas frentes bem distintas do rock instrumental. De um lado estão grupos rodeados por uma instrumentação primorosa, jazzística e completamente entregue ao uso de experimentações e cruzamentos de sons variados. Fazem parte desse grupo bandas como Hurtmold, Constantina e outros expoentes nacionais que não poupam esforços em desenvolver sequências de sons completamente inovadoras. Do outro lado estão grupos como Pata de Elefante, Camarones Orquestra Guitarrística e demais bandas que concentram seus esforços no explorar de uma música menos complexa, mas grandiosa na mesma medida, capazes de produzir álbuns cativantes e que se voltam para um público muito maior.

No meio dessa linha bem delimitada estão os paulistanos do Chimpanzé Clube Trio, que assim como já vinham explorando em seus últimos álbuns – Sessões de Quintal de 2003 e um registro homônimo lançado em 2007 -, optam por um som que sabe como “dialogar” em uma linguagem mais acessível, ao mesmo tempo em que buscam constantemente por uma música carregada de complexidade. Para seu novo disco, a banda formada em 2003 por Angelo Kanaan (bateria), Felipe Crocco e Luiz Miranda (que se revezam no contrabaixo e guitarra) segue equilibrada nessa mesma linha, embora alguns momentos sejam capazes de transparecer a real opção do trio.

Com o quase filosófico título de Tudo Veio Do Nada (2011, Independente), a banda arremessa para cima do ouvinte de nove composições dotadas de uma despretensão envolvente, nove faixas chamativas e que parece habilmente planejadas para compor o cenário musical de um bar ou qualquer outro ambiente carregado de pessoas. O próprio diálogo ao fundo de algumas faixas, bem como a fluidez natural como o disco se desenvolve repassa constantemente a sensação de um álbum ao vivo, como se de fato a banda estivesse se apresentando na frente do ouvinte, enquanto o mesmo aproveita o som solvendo goles de cerveja gelada em um ambiente enfumaçado e lotado de pessoas que em nenhum momento cessam seu diálogo.

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Por mais que a banda consiga transformar o álbum em um belo agregado de guitarras inspiradas, viradas de bateria caprichadas e um baixo que se anuncia vigoroso em grande parte das canções, o que mais agrada no disco é a naturalidade e o despojo com que a banda vai costurando seus sons. O álbum simplesmente começa e termina sem se anunciar, como se de repente você estivesse ali, naquele ambiente imaginário composto de maneira quase involuntária pelo trio, sem saber exatamente como ou desde quando está por lá, mantendo sempre uma única certeza: você não quer sair dali tão cedo.

Mesmo que as guitarras presentes no álbum eventualmente acabem trajando uma veste instrumental um pouco mais complexa em pontos bem específicos do disco, em sua totalidade o álbum se desenvolve fácil, com o trio passeando pelas décadas de 1960 e 1970, sem que para isso precisem envergar por um caminho de sons repetitivos. De fato, nada ali é novo, entretanto, a forma despojada como os paulistanos vão apresentando suas faixas – passeando eventualmente pelos campos da Soul Music e do Funk – fazem com que o trabalho rompa os típicos limites que tomam conta de boa parte de bandas do gênero, que insistem em apresentar um álbum muito plástico, certinho e consequentemente sonolento.

Mantendo uma homogeneidade em suas faixas, o trio faz com que o disco funcione tranquilo até seus últimos instantes, proporcionando um resultado agradável tanto nas canções mais rápidas do disco, como a faixa de abertura Curta a Paisagem, ou mesmo em seus momentos mais extensos, como no épico suingado Nos tempos da Motown. Deixe as preocupações de lado, encha seu copo de cerveja, aproveite o ambiente e não se preocupe com a trilha sonora, pois hoje ela fica nas mãos do  Chimpanzé Clube Trio.

Tudo Veio Do Nada (2011, Independente)

 

Nota: 7.9
Para quem gosta de: Pata de Elefante, Camarones Orquestra Guitarrística e Macaco Bong
Ouça: Nos Tempos Da Motown e Cosmic Feelings II

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.