Disco: “Tupi Novo Mundo”, Iconili

/ Por: Cleber Facchi 07/02/2013

liIconi
Brazilian/Instrumental/Afrobeat
http://iconili.tumblr.com/

Por: Cleber Facchi

Iconili

Tupi Novo Mundo (2013, Independente) é um trabalho que se conecta com dois momentos distintos da história da música – tanto a nacional como a estrangeira. O primeiro se manifesta de forma quase óbvia nas sonorizações típicas da década de 1970, marca instrumental traduzida na confessa relação da banda mineira com os inventos aplicados ao longo de todo o período. Seja pelos sons ensolarados e dançantes assinados por Fela Kuti ou mesmo Miles Davis em seus trabalhos menos climáticos e naturalmente experimentais, o passado é o que orienta o grupo no presente. A apropriação dos ritmos africanos bem como o casamento com a música negra surgida em solo norte-americano no mesmo período estimula e fornece ritmo a todo o trabalho, reproduzindo um disco que dança entre o suingue das guitarras e a batida forte da percussão.

É possível ainda voltar um pouco mais no tempo, encontrando no trabalho de artistas brasileiros como Pedro Santos (e seu clássico redescoberto, Krishnanda de 1968), ou mesmo na obra de Hermeto Pascoal condimentos que atraem o grupo ao experimento. A temática do coletivo de 11 integrantes, entretanto, não  se concentra especificamente no passado, mas no presente – pelo menos no que tange as referências nacionais. Com aproximações que vão dos blocos instrumentais marcados na obra do Bixiga 70 ao resgate recente da obra dos Novos Baianos, Tupi Novo Mundo é um registro que cresce justamente em cima da nostalgia não vivenciada de seus jovens compositores, resultado que tira o coletivo dos exageros marcados e prováveis vícios que tanto embalam repetitivos álbuns do gênero.

 
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Em alguma medida, cada instante do pequeno disco se coloca dentro de um aspecto muito próximo do que guia o grupo Amplexos em sua última grande obra, A Música da Alma (2012). Enquanto a banda fluminense lida com o reggae e o dub sem esbarrar nos redundantes exageros de tantos veteranos da mesma cena, algo similar acontece com o trabalho do grupo de Belo Horizonte, que brinca com o Afrobeat, sem tentar ser exatamente isso. Talvez pela curta duração do álbum, ou quem sabe pela forma como as canções são espontaneamente posicionadas, tudo se dissolve em uma medida de descompromisso e bom humor, como se uma aura de domingo à tarde fosse derramada em cada melodia cuidadosa que cresce pelo trabalho.

Contudo, é preciso levar em conta que mesmo a proposta leve que orienta o álbum, em nenhum momento tira a banda dos trilhos. Observação mais cuidadosa disso está na construção da jazzística Areia. Com uma instrumentação densa em relação as demais canções, a faixa encaminha o grupo para o que pode ser aperfeiçoado em breve, mantendo o mesmo nível de desapego das composições irmãs, ao mesmo tempo em que um fundo de seriedade passeia brando, como um sorriso de quem esconde o segredo de que algo maior está por vir.

Iconili

Tupi Novo Mundo (2013, Independente)

 

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Bixiga 70,  Curumin e Burro Morto
Ouça: Areia e O Rei de Tupanga

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.