Disco: “Twins”, Ty Segall

/ Por: Cleber Facchi 22/10/2012

Ty Segall
Garage Rock/Lo-Fi/Alternative
http://ty-segall.com/

Ty Segall é uma máquina de fazer discos. Não apenas trabalhos aleatórios, composições frias ou registros descartáveis, mas lançamentos de peso dentro da cena independente norte-americana. Dono de uma infinidade de projetos paralelos – cada um deles com dois ou mais álbuns lançados – é quando assume as guitarras em carreira solo que o californiano de São Francisco alcança o melhor desempenho dentro da diversidade de registros que compõem. Depois do grandioso Slaughterhouse, um dos melhores trabalhos feitos por ele (e alguns parceiros de “banda”), o músico volta com mais uma sequência de riffs assimétricos, ruídos pop e todo o assertivo clima de garage rock que faz dele um dos artistas de maior relevância no panorama atual.

Ainda que em uma rápida audição não seja possível identificar toda a carga de transformações que separam o presente Twins (2012, Drag House) do anterior Goodbye Bread (2011), tão logo as guitarras de Thank God for Sinners ganham forma, tornam-se claras as mudanças que engrandecem um registro em relação ao outro – ou mesmo em proximidade de qualquer outro lançamento “em estúdio” já apresentado por Segall. Menos caseiro e capaz de conversar com o público não acostumado a esse tipo de som, o californiano lança em poucos segundos uma sequência de acordes fáceis, vozes grudentas e todo um encaminhamento festivo que soa como se Jack White mergulhasse em um lago lisérgico que concentra os mesmos ensinamentos deixados pelo Guided By Voices.

Dando um passo além em relação ao que Wavves, The Oh Sees, Black Lips e tantos outros nomes de peso da recente música estadunidense vêm desenvolvendo, Segall transita o tempo todo entre o presente e o passado, estabelecendo um registro que mesmo atento ao cenário atual, flerta durante toda a extensão com a nostalgia instrumental firmada há três ou quatro décadas. Ao acrescentar guitarras sujas às melodias de vozes testadas por diversas bandas ao longo da década de 1960 – a conterrânea The Beach Boys entre elas -, o músico estabelece um trabalho recheado pelo contraste, feito capaz de converter o single The Hill em uma canção que abraça o espectador em virtude dos vocais lisérgicos, e espanca como um resultado da sequência de ruídos estrondosos.

Oposto do que parecia reger a extensão do último disco solo do artista e encontrando elementos coesos firmados no decorrer de Slaughterhouse, com a chegada de Twins Ty Segall tenta a todo o instante parecer grande. Proposta bem estabelecida no decorrer da psicodélica Ghost ou da canção de encerramento There Is No Tomorrow, a busca por um registro que rompa com os limites do rock caseiro de outrora fornece ao músico subsídios para a construção de criações volumosas, dotadas de refrão atrativo e que devem se converter em momentos de pura exaltação durante as apresentações ao vivo do cantor. Vale notar que essa tentativa de soar maior lírica e instrumentalmente não está apenas relacionada aos projetos individuais ou paralelos do músico, mas em relação ao que passa pelas mãos de outros gigantes da cena alternativa.

Do ponto de vista instrumental é possível estabelecer uma forte relação entre Twins e o que define o primeiro álbum do King Tuff. Ambos sustentados em cima de bases melódicas, os discos mantém a todo o instante a medida entre guitarras aceleradas e momentos de maior suavidade – o que nas invenções de Segall pode ser compreendido de forma peculiar. A sonoridade ensolarada da década de 1960, o rock de garagem dos anos 70 e as melodias de vozes bem amarradas estão por todas as partes, estabelecendo uma forte aproximação entre os discos, como se o trabalho da banda de Massachusetts fosse uma extensão plástica da versão suja e deturpada do universo nunca óbvio de Segall.

O mais curioso dentro dessa sequência de transformações que definem o presente estágio de Ty Segall não está na maneira como o músico apresenta um registro de proporções incalculáveis do ponto de vista dos anteriores álbuns, mas por manter o mesmo nível de anarquia firmada na execução de todos os registros que precedem Twins. É como se mesmo ao alcançar um novo estágio – mais maduro na forma como o disco se mantém coeso até a última música -, Segall não abandonasse em nenhum instante o mesmo desequilíbrio particular de outrora, estabelecendo um meio termo inventivo para algo que parecia fadado ao desgaste e a possíveis redundâncias.

Twins (2012, Drag House)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: King Tuff, The Oh Sees e White Fence
Ouça: The Hill, Ghosts e Handglams

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.