Disco: “Two-Way Mirror “, Crystal Antlers

/ Por: Cleber Facchi 18/07/2011

Crystal Antlers
Noise Rock/Expertimental/Garage Rock
http://www.myspace.com/crystalantlers

 

Por: Cleber Facchi

Em 1954 um jovem físico da Universidade norte-americana de Princeton chamado Hugh Everett III propôs ao mundo sua inédita teoria: a Interpretação dos Muitos Mundos. Em seu tratado, o físico apresentava ao público acadêmico a possível existência de outros universos, mundos paralelos ao nosso, locais em que a raça humana pudesse talvez não mais existir ou fosse organizada de forma completamente diferente da nossa. Embora se entenda ainda como uma teoria, tal possibilidade caiu nas graças da indústria cinematográfica e televisiva, que não se cansa em apresentar filmes e séries que esbarrem e até ridicularizem a temática.

Ao nos depararmos com Two-Way Mirror (2011, Recreation Ltd.), mais novo álbum do grupo californiano Crystal Antlers, a teoria dos universos paralelos parece não apenas uma conjunção de fragmentos teóricos, mas um fato, afinal, impossível não observar tais esquizofrenias sonoras retratadas pela banda como um fruto de algum mundo alheio ao nosso, uma dimensão próxima, mas completamente distante em meio ao agrupado de referências sujas exaltadas pelo grupo de Long Beach, California.

Em 2008, quando o primeiro trabalho da banda foi apresentado, um EP homônimo de seis faixas, as experimentações ressaltadas pelo grupo em suas composições os colocavam como indivíduos distintos em meio ao vasto número de bandas californianas cada vez mais interessadas pelos sons do noise rock naquele período. Com o lançamento de Tentacles (2009), primeiro álbum do grupo, toda a distinção que havia em torno da banda pareceu moderadamente extinta. Mesmo ocultos em meio a guitarras carregadas de distorção e vocais berrados, a banda parecia desnorteada, como se em meio ao mar de sons experimentais ela tentasse se encontrar, encontro que parece finalmente realizado dentro desse novo álbum.

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Ao mesmo tempo em que o quinteto formado por Johnny Bell (baixo e vocal), Andrew King (guitarra), Cora Foxx (órgão), Kevin Stuart (bateria) e Damian Edwards (percussão) dá continuidade aos mesmos sons ruidosos e caóticos apresentados em sua estreia, uma leve aceleração toma conta de todas as composições da banda. O resultado dessa temática se traduz em um álbum mais rápido (o disco conta com pouco mais de 30 minutos de duração), faixas carregadas de experimentação e uma completa ausência de composições desnecessárias ou excessos que diminuíam a beleza do trabalho anterior.

Como o próprio título do álbum aponta – algo que em português seria traduzido como “duas vias do espelho” -, a sonoridade ressaltada dentro do novo disco do Crystal Antlers parece mostrar a suposta realidade paralela que o grupo está atrelado. Excêntrico, mas sem abandonar seus limites “acessíveis”, o álbum cruza a música punk e o garage rock dos anos 70 com todo o variado jogo de possibilidades que definem a música experimental dos anos 2000. Some isso aos sons cocofônicos entregues por Thurston Moore e seu Sonic Youth na década de 90 e pronto, você tem acesso ao reduto de excentricidades rítmicas apresentadas através de Summer Solstice, By The Sawkill ou Knee Deep.

Mesmo posicionados dentro de um universo muito próximo daquele construído por grupos como Crystal Stilts, Dirty Beaches e Abe Vigoda, as frequências ressaltadas pelo quinteto californiano se posicionam de forma ímpar dentro do cenário musical presente. Falta ainda um pouco de entusiasmo dentro do trabalho do grupo, com algumas composições soando excessivamente mornas em comparação a outras faixas vindas da própria banda. Entretanto, distinto ao anterior álbum,  Two-Way Mirror concentra o que há de melhor dentro dos sons apresentados pelo grupo de Long Beach, trazendo músicas sempre sujas, certeiras e frutos de um universo completamente distante ao nosso.

 

Two-Way Mirror (2011, Recreation Ltd.)

 

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Crystal Stilts, Abe Vigoda e Dirty Beaches
Ouça: Summer Solstice e Dog Days

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.