Disco: “Typical System”, Total Control

/ Por: Cleber Facchi 01/07/2014

Total Control
Post-Punk/Alternative/Garage Rock
http://hengebeat.bandcamp.com/

Por: Cleber Facchi

Há poucos meses, quando Flesh War anunciou a chegada de Typical System (2014, Iron Lung), o segundo álbum de estúdio da banda Total Control, todas as experiências lançadas pelo grupo no recém-lançado single evidenciavam uma nítida abertura musical. Longe da urgência original e do caráter sombrio instalado no debut Henge Beat, de 2011, o novo álbum do quinteto de Melbourne, Australia parecia ampliar os domínios melódicos dentro da curta trajetória do grupo, efeito que se comprova com naturalidade em cada uma das dez criações que recheiam o presente disco.

Abastecido por toda a carga de referências já apresentada no disco de estreia – Post-Punk, sintetizadores soturnos e a tradicional “aura de Joy Division” -, o novo álbum chega em um momento de plena expansão para o(s) gênero(s) que ele representa. Quase em câmera lenta, Dan Stewart e os parceiros Mikey Young, Al Montfort, Zephyr Pavey e James Vinciguerra preenchem todas as lacunas deixadas no trabalho de grupos como Eagulls e Iceage, reforçando a estética dos anos 1980 sem que o registro ecoe como um mero pastiche.

Manifestação do lado mais “comercial” do grupo, cada minuto do registro abre espaço para que arranjos melódicos cerquem o ouvinte. Ainda que a inaugural Glass e a já conhecida Flesh War representem toda essa transformação, a cada acorde, voz ou harmonia o coletivo se abastece de elementos para hipnotizar quem passa pela obra. São as guitarras carregadas de efeito em Black Spring ou mesmo a letra fácil de Safety Net que esbarra nos sintetizadores pegajosos, preferências que em nenhum momento rompem com a atmosfera suja da obra – ora centrada na Nova York de 1977, ora voltada ao som de Londres em 1979.

Livre da crueza original, Typical System é uma obra abastecida pelos detalhes, tonalidade reforçada no manuseio dos sintetizadores – a principal “arma” da banda em todo o trabalho. Ainda que grande parte das faixas atentem para um encaminhamento “eletrônico”, vide o desenrolar da música de abertura, a neworderiniana Glass, na maior parte do disco a presença do instrumento serve de acréscimo para músicas possivelmente frias. Há também espaço para pequenos experimentos harmônicos, caso da curtinha The Ferrymen, uma faixa totalmente instrumental e que cresce como um respiro no interior do álbum.

Mesmo se valendo de criações densas e detalhistas, ao longo de todo o trabalho faixas guiadas pela agressividade do debut explodem nos ouvidos do espectador. Com a garageira Expansive Dog, logo na abertura do álbum, o quinteto parece estabelecer uma série de conceitos para o restante do disco, borbulhando psicodelia punk em criações como Systematic Fuck e Black Spring. A diferença em relação ao trabalho de outros artistas próximos está na abrangência de tendências que ocupam cada música, lembrando (e muito) a versatilidade de bandas já veteranas como Mershandise e Crystal Stilts.

Longe de solucionar um trabalho de fato inovador, em Typical System o Total Control acerta justamente ao mergulhar de cabeça no passado. Nada do que abastece o registro consegue ir além dos mesmos argumentos lançados por gigantes como Wire, Joy Division, Public Image Ltd. e qualquer outro nome relevante dos anos 1980. Apenas um exercício curioso da adaptar o passado, utilizando de cada nova faixa como uma passagem direta (e nostálgica) para dentro de todos os clichês que movimentam o período. Alguém realmente precisa de algo a mais do que isso? Acho que não.

Typical System (2014, Iron Lung)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Iceage, Eagulls e Joy Division
Ouça: Flesh War, Black Spring e Glass

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.