Disco: “Ugly”, Screaming Females

/ Por: Cleber Facchi 29/05/2012

Screaming Females
Alternative Rock/Punk/Female Vocalists
http://screamingfemales.com/

Por: Cleber Facchi

Em maio de 2005 veio ao mundo The Woods, sétimo álbum de estúdio da banda estadunidense Sleater-Kinney. Talvez impossível de ser previsto na época, mas o disco seria o último grande registro da cena riot norte-americana, feito que o grupo de garotas justificaria com guitarras sempre agressivas, vocais firmes e todo um bem explorado catálogo de versos que transformariam o álbum em um dos maiores e mais importantes lançamentos da década passada. Logo no ano seguinte, passada a turnê de divulgação do registro, o grupo seria dissolvido, levando consigo todo o peso e a intensidade que ainda fervilhava relacionada ao “gênero musical”.

Se de lá para cá poucos registros conseguiram alcançar ou se aproximar da mesma intensidade da obra proposta pelo grupo de Olympia, Washington, pelo menos a herança e a influência da banda ainda se mantém ativa em uma infinidade de registros recentes. Talvez melhor exemplar disso esteja relacionado ao trabalho do trio de New Brunswick, New Jersey Screaming Females, banda que parece ter aproveitado da brecha criada em 2006 com o desmantelamento do Sleater-Kinney para elevar toda uma nova soma de ruídos e gritos femininos como assumem diretamente no título do projeto.

Donos de uma bem sucedida e cada vez mais elaborada discografia – iniciada em 2006 com o disco Baby Teeth -, Marissa Paternoster (vocal e guitarra), Jarrett Dougherty (bateria) e King Mike (baixo) transformam o recente Ugly (2012, Don Giovanni) no melhor e mais bem explorado registro da banda até o momento. Mais do que herdar as mesmas referências tratadas pelo Sleater-Kinney, o grupo se aprofunda no uso das guitarras, batidas tomadas pela intensidade e vozes mezzo desesperadas, mezzo melódicas, uma mistura que preenche os primeiros discos do Yeah Yeah Yeahs e The Kills, mas que parece muito melhor explorada nas mãos da tríade norte-americana.

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Contra toda provável sutileza que qualquer vocal feminino possa manifestar, em Ugly o toque explosivo e a sonoridade ruidosa se manifesta logo nos instantes iniciais da obra. Como se evitasse toda e qualquer delicadeza – além de possíveis comparações com o trabalho de Karen O -, Paternoster se posiciona de forma ríspida e nunca acolhedora, criando uma personagem (ou retrato próprio) que dialoga de maneira coerente com as guitarras cruas e sonorizações agressivas que lentamente se edificam no passar do álbum. Agressiva e brincando com os vocais, a cantora usa desse artifício para pressionar o ouvinte, que em poucos minutos acaba cedendo aos “encantos” da vocalista.

Ora centrada no punk nova-iorquino do final dos anos 70, ora entregue aos ensinamentos personalizados do rock alternativo da década de 1990, a banda mantém como única e imutável característica as guitarras sempre sujas e impregnadas por densas doses de distorção. Da aceleração necessária que preenche faixas como Rotten Aple, passando pelo peso de Extinction – uma espécie de encontro entre L7, Dinosaur Jr e Pixies -, o registro mantém do princípio ao fim uma crueza necessária, elemento que se amplia de maneira significativa a cada nova canção, que vez ou outra esbarra em uma sonoridade mais dançante (Red Hand) ou ainda mais esmagadora (Expire).

Em Ugly, diferente dos discos anteriores, mais do que um complemento essencial e uma ferramenta que movimenta todo o trabalho, as guitarras sujas e as linhas de baixo marcantes servem para amarrar cada uma das 14 composições. Produzido de forma competente pela própria banda, o álbum mantém constante o caráter de proximidade entre as faixas, o que acaba por transformar o registro em um projeto sempre intenso e naturalmente dinâmico. Mais do que um clássico imediato se fosse lançado há duas décadas, com o quinto disco o Screaming Females faz nascer um registro necessário para a presente cena, um trabalho que merece e deve ser apreciado inúmeras vezes.

Ugly (2012, Don Giovanni)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Sleater-Kinney, Wild Flag e The Man
Ouça: Expire, Rotten Apple e Extinction

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.