Disco: “Ultraísta”, Ultraísta

/ Por: Cleber Facchi 10/10/2012

Ultraísta
Electronic/Indie/Alternative
http://www.ultraista.co.uk/
https://www.facebook.com/Ultraista

Por: Fernanda Blammer

Quando em meados da década de 1990 o Radiohead resolveu enveredar para a construção de um som que se afastasse do rock alternativo, incorporando uma proposta de delineamentos experimentais e rumos não óbvios, foi Nigel Godrich um dos responsáveis por auxiliar o grupo inglês a firmar com propriedade todas essas novas medidas sonoras. Ao passo que Thom Yorke e os parceiros se encantavam por um resultado mais próximo da música de vanguarda (como bem comprovou o inovador Kid-A), o “sexto membro” do grupo britânico parecia cada vez mais confortável em mergulhar dentro dessa mesma proposta, feito que Godrich passou a ressaltar com nítido destaque em outros projetos em que assinava a produção.

Se ao participar da construção e produção de A Different Ship – mais novo e bem delineado álbum do Here We Go Magic -, o músico inglês já havia contribuído de maneira expressiva com a produção musical de 2012, ao iniciar sua nova banda, a Ultraísta, Nigel eleva ainda mais esse mesmo nível de acerto, principalmente em relação aos próprios inventos. Sequência praticamente exata daquilo que o Radiohead interrompeu com o lançamento de In Rainbows há cinco anos e em alguns momentos soando bem próximo do que Thom Yorke desenvolveu em The Eraser (2006), a autointitulada estreia do grupo formado em parceria com Joey Waronker e a vocalista Laura Bettinson torna pública todas as preferências que bem definem a carreira do produtor britânico.

Próximo de maneira consciente da música eletrônica – principalmente a IDM -, ao mesmo tempo em que firma sua relação com o Krautrock estabelecido ao longo dos anos 1970, Godrich e os parceiro estimulam o nascimento de um álbum magro, conciso em relação ao que define a similaridade das formas e pop em uma medida incontestável. Com um pé nas pistas de dança e outro na busca por um som experimental, em cada uma das dez faixas presentes no álbum (parcialmente apresentando no decorrer dos últimos meses), a tríade de componentes fornece as bases para um registro que cercado por ruídos e formas sonoras específicas cresce de forma assombrosa.

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Não há como contestar o quanto em diversos momentos o Ultraísta se converte em uma banda filha dos ensinamentos do Radiohead. Os próprios vocais de Bettinson (bem explorados, por sinal) se materializam como uma versão feminina do que Yorke vem promovendo nos últimos discos do grupo inglês. A óbvia relação, entretanto, não impede que o trio encontre distinção no que acaba fornecendo ao público, exemplo que se anuncia de forma carismática nos instantes mais acessíveis e dançantes da obra, vide Easier e Smalltalk – uma das melhores músicas do ano. Até quando a experimentação se destaca, como em Gold Dayzz, Godrich consegue sempre garantir um detalhamento renovado ao trabalho, aproximando-o do grande público.

Ainda que atrativa, essa constante similaridade com os pais de OK Computer impede o Ultraísta de se estabelecer como uma banda de propostas distintas ou dona de um resultado verdadeiramente próprio. Seja pelas batidas sintéticas de Static Light (uma extensão do que fora testado em The King Of Limbs) ou as climatizações em looping de Wash It Over (versão sintética do que o Here We Go Magic desenvolve no novo disco), tudo soa como parte de algo há tempos conhecido. Sobra até para a banda experimentar um pouco dos sons testados na década de 1980 em Our Song e brincar abertamente com o pop em You’re Out, prova do ampliado catálogo de referências que circulam pelo disco e da incapacidade de entregar algo verdadeiramente novo.

Transpirando a presença de Nigel Godrich por todos os lados, o disco faz do Ultraísta uma banda que mesmo dotada de atributos e acertos incontestáveis ainda precisa alcançar uma sonoridade que realmente a diferencie de todas as referências que parecem ditar os rumos deste primeiro disco. Seja pelos vocais coerentes de  Laura Bettinson ou pela instrumentação caprichada que dá forma a cada uma das músicas presentes no decorrer do álbum, tudo encaminha o novo grupo para um regime de acertos inegáveis e uma produção caprichada, pena que a banda não consiga ir além disso, finalizando um disco que parece muito melhor observado em suas mínimas particularidades.

Ultraísta (2012, Temporary Residence)

Nota: 7.3
Para quem gosta de: Thom Yorke, Radiohead e Four Tet
Ouça: Smalltalk e Easier

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.