Disco: “Ultraviolence”, Lana Del Rey

/ Por: Cleber Facchi 17/06/2014

Lana Del Rey
Alternative/Dream Pop/Female Vocalists
http://lanadelrey.com/

Por: Cleber Facchi

Lana Del Rey

Ultraviolence é o disco que Lana Del Rey deveria ter lançado há dois anos. Livre dos exageros testados no cênico Born To Die, de 2012, o presente álbum cresce como uma natural extensão dos sons letárgicos entregues em Video Games e Blue Jeans – faixas responsáveis por apresentar oficialmente o trabalho da cantora. Grandioso em essência, mas acolhedor em relação aos arranjos que o definem, o segundo álbum solo da jovem nova-iorquina é uma obra de reposicionamento. Uma evidente tentativa em ocupar espaço a partir de uma estrutura que busca ser “pop” e “alternativa” na mesma medida.

Livre das fragmentadas transições eletrônicas que ocuparam grande parte do álbum passado, Ultraviolence equilibra as (novas) canções dentro de um mesmo ambiente musical. Cercada por um versátil time de letristas e produtores – caso de Rick Nowels (Lykke Li, Madonna) e Paul Epworth (Adele, Azealia Banks) -, Del Rey encontra na direção segura de Dan Auerbach, principal produtor do disco, a “ferramenta” que faltava para o acerto de Born To Die. Com mão firme, o também vocalista do The Black Keys evita que o disco mergulhe nos exageros do antecessor, entregando uma obra homogênea da inaugural Cruel World, ao fechamento com The Other Woman.

Com o abandono de temas pré-fabricados – como a estranha aproximação entre Hip-Hop e a “América dos anos 1950” -, Del Rey e Auerbach orquestram o disco dentro de um único gênero/limite: o Dream Pop. Amortecida por violinos, guitarras arrastadas e a voz maquiada por efeitos, a cantora flutua no mesmo ambiente lançado há três décadas por nomes como Galaxie 500, Cocteau Twins e, principalmente, Mazzy Star. Observado atentamente, muitos dos conceitos que ocupam Ultraviolence surgem como uma sequência do clássico So Tonight That I Might See (1993). Todavia, a habilidade de Auerbach evita o plágio, transformando o novo disco em uma obra no mínimo “referencial”.

Parte do acerto e parcial ineditismo do álbum vem da aproximação de Lana com a psicodelia lançada nos anos 1970. Fruto (mais uma vez) da presença de Auerbach e seu recente Turn Blue (2014), o gênero revela uma série de possibilidades para a cantora, que cresce (de maneira incontestável) em músicas como Shades Of Cool e Cruel World. Como um duelo controlado, as duas faixas equilibram vozes e guitarras em um mesmo ambiente hipnótico, concedendo à cantora uma liberdade antes limitada em músicas essencialmente sintéticas como Off to the Races e Summertime Sadness. Desde o single Blue Jeans, Del Rey não parecia tão segura quanto agora, dona de um ambiente quase particular.

Da sonoridade exposta em Born To Die, pouco (ainda bem) parece ter sobrevivido. West Coast, primeiro single do álbum, talvez seja a faixa que mais se aproxima do disco passado, ainda assim, trazendo nas guitarras firmes um ponto de distanciamento. Outro atento resgate do álbum anterior e da natural relação da cantora com o pop está em Pretty When You Cry. Contudo, enquanto no trabalho anterior Lana seria soterrada por batidas eletrônicas e a atmosfera pesada do registro, em Ultraviolence ouvimos o contrário, com um espaço maior para os vocais – mesmo que maquiados pelas distorções.

Seja ao brincar com o Chamber Pop (Money Power Glory) ou resgatar aspectos pontuais do Rock Clássico (The Other Woman), Lana Del Rey encontra em Ultraviolence uma obra de possibilidades abrangentes a cada nova faixa. De Laranja Mecânica (1962), obra de Anthony Burgess que garante título ao álbum, pouco felizmente parece ter sobrevivido, o que não necessariamente salva a artista de um registro conceitualmente original. Todavia, em meio ao universo de recortes selecionados pela cantora e, agora, Dan Auerbach, um traço de identidade aos poucos começa a se formar, fazendo com que todos os holofotes apontados para a artista ainda em 2011 tenham algum valor e real merecimento.

 

Lana Del Rey

Ultraviolence (2014, Interscope)

Nota: 7.6
Para quem gosta de: Mazzy Star, Lorde e Lykke Li
Ouça: Shades Of Cool, Money Power Glory e Brooklyn Baby

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.