Disco: “Um Labirinto Em Cada Pé”, Romulo Fróes

/ Por: Cleber Facchi 14/06/2011

Romulo Fróes
Brazilian/Indie/Samba
http://www.myspace.com/romulofroes

Por: Cleber Facchi

Há sempre um tipo de monstro que se forma após a passagem de algum trabalho tão transgressor ou tomado de contornos grandiosos. No caso de Romulo Fróes, um monstro de expectativa que ganhou formas assim que uma primeira audição de seu último disco chegou ao fim, o enorme No chão, sem o chão de 2009. O conjunto de 31 faixas quebradas em duas sessões – Cala boca já morreu e Saiba Ficar Quieto – não apenas posicionava o paulistano como um dos nomes de destaque da nova safra de músicos brasileiros, como instaurava ali uma série de dúvidas sobre que tipo de trabalho viria na sequência daquela grande obra.

Em seu mais recente álbum, Um Labirinto em Cada Pé (2011), Fróes nos convida a adentrar um majestoso labirinto de versos, melodias, sensações e ruídos, usando sua voz e a ampla instrumentação que a cerca como uma espécie de guia. Feito o novelo de lã que conduz o personagem de Teseu para fora do embaraço de formas sólidas, retratado no mito do Minotauro, as variadas melodias que preenchem o novo álbum conduzem o músico e os ouvintes para que se possa derrubar o suposto monstro que vem crescendo desde o anterior registro.

Os versos amargurados que abrem o álbum na voz de Dona Inah transparecem que a suposta travessia a que enfrentaremos ao longo do disco não virá de forma branda. Entretanto, as referências voltadas ao amor que se abriga no fechamento do poema – “Ah, pensa no amor/ Ah, pensa no amor/ Ou não pensa em mais ninguém – desponta um caráter de esperança à singela composição. Composta por Nuno Ramos, a faixa é a primeira da pequena coleção exposta pelo músico e compositor ao longo do álbum, sejam cirações individuais – O Filho de Deus, Rap em Latin – ou parcerias – Boneco de Piche, Ditado ou Quero Quero.

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=vWKPNUzIxR8?rol=0]

[youtube:http://www.youtube.com/watch?v=6Gj1f5JG5Sg?rol=0]

Diferente do álbum anterior, Fróes parece deixar de lado o peso das guitarras (intensamente exposto em Cala boca já morreu) para partir em busca de uma formatação muito mais ligada à MPB do que ao rock em si. Tal predisposição revela-se de forma perceptível em O Filho de Deus ou Varre e Sai, mantendo uma temática bem similar à da música popular brasileira dos anos 80 e princípios da década de 1990. Mesmo a figura do sambista se apresenta de forma menos intensa, com o músico expondo um conjunto de faixas mais densas e excessivamente maduras.

Ao contrário dos anteriores registros do paulistano – Calado (2004), Cão (2006) e No Chão, Sem O Chão (2009) –  Um Labirinto em Cada Pé se revela como o primeiro registro de Fróes em que as canções parecem coerentemente amarradas. Do princípio ao fim do disco (ou do labirinto) todas as composições são tomadas por uma fina penumbra, uma similaridade, como se houvesse uma ordem exata para cada faixa. Havia nos outros álbum (principalmente no último) uma espécie de desnível entre as faixas, um tipo de despojo que funciona, mas que acaba perdendo a necessária concisão que agora é encontrada.

A cada passou ou curva que completa dentro do álbum, Fróes se depara com uma série de auxílios, materializados em indivíduos. Rodrigo Campos (violão, cavaquinho, cuíca) Nina Becker (voz), Guilherme Held (guitarra), Pedro Ito (bateria), Thiago França (saxofone), Dona Inah (voz), Marcelo Cabral (baixo) e Arnaldo Antunes (voz) são alguns dos responsáveis por auxiliarem o músico a percorrer todos os espaços dentro do labirinto, fazendo com que Fróes possa sair ao término do disco ileso, portando em mãos a cabeça do abatido minotauro.

Um labirinto em cada pé (2011)

Nota: 8.4
Para quem gosta de: Lucas Santtana, Cidadão Instigado e Nina Becker
Ouça: Muro

[soundcloud width=”100%” height=”81″ params=”” url=”http://api.soundcloud.com/tracks/15161441″]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.