Disco: “Umbra”, Herod

/ Por: Cleber Facchi 12/09/2013

Herod
Post-Rock/Experimental/Instrumental
https://www.facebook.com/herodlayne
http://herodlayne.bandcamp.com/

Por: Cleber Facchi

Herod

Ser surpreendido musicalmente ainda me parece ser o principal atributo para o bom rendimento de qualquer obra. Trabalhos que ultrapassam a expectativa, cortam os laços do comum, ou apenas fogem de qualquer previsão que possa abastecer a mente do ouvinte. Sons, vozes, arranjos ou apenas ruídos que poderiam seguir confortavelmente em linha reta, mas explodem criativamente, para todas as direções. E se surpresa for a plataforma para qualquer grande obra, Umbra (2013, Sinewave), novo álbum da banda paulistana Herod (ex-Herod Layne) se constrói como um exercício imenso dessa percepção: Uma obra inteiramente costurada pela surpresa.

Segundo registro em estúdio do (hoje) quarteto, o presente exemplar faz da relação entre os membros da banda, Sacha (guitarra), Lippaus (guitarra), Elson (baixo) e Johnny (bateria), um ponto de plena convergência de ideias. São composições divididas de forma clara em instantes de desequilíbrio sonoro, desespero emocional ou simples provocação. Atos que derrubam uma possível linearidade do registro e arrastam o ouvinte para um território de sombras, imprevisível. Sem luz, ausente de qualquer percurso aparente, cabe ao ouvinte ser aos poucos soterrado ou agredido pela avalanche de guitarras, distorções e, agora, vozes que acompanham a proposta da banda. Umbra, muito mais do que em Absentia, é uma obra que parece brincar com os medos e emoções do espectador.

Dada a largada em Penumbra ao fecho do disco, cada faixa apresentada em efeito de grandeza ou diminuição raspa na essência do Mogwai, na amargura do Swans ou mesmo nas climatizações do Godspeed You! Black Emperor, sem necessariamente perder a presença e a essência do grupo. Músicas que brincam com a história do Post-Rock e diversos outros traços de sonoridade primeva, mas que não fogem do cercado negro que a banda já parece ter delimitado com acerto há três anos, quando o último álbum foi lançado. Em Umbra, mais do que compreender a própria obra, o sentimento que orquestra as canções é de acréscimo e até redescoberta.

Ainda que completo o resultado exposto em Absentia, ao passear pelo território do novo disco é visível o quanto o registro de 2010 parece dominado pela fragilidade, como se a banda ainda estivesse mergulhada em timidez. Com Umbra, a compreensão (quase) absoluta das canções autoriza inclusive a entrada de uma boa soma de colaboradores. É o caso de Cadu Tenório (Sobre A Máquina) nos efeitos sombrios da canção de abertura, a voz melancólica de Filipe Albuquerque (Duelectrum), em Blinder, e, principalmente, os vocais em fiapos de Jair Naves na faixa Limbo. Há também a presença de Joaquim Prado, que ao assumir guitarras e sintetizadores de boa parte das músicas da obra, se apresenta como uma espécie de quinto membro da banda.

A presença dos convidados, longe de causar qualquer forma de ruptura ao cercado próprio do disco, parece trabalhada como um honesto complemento. Ao passo que Limbo é praticamente uma continuação dos ruídos impostos em Collapse, Blinder edifica as bases para a chegada de Lumia, ponto central da obra e possivelmente um respiro para o resultado que apresenta eixo final do trabalho. Prado, por sua vez, é quem parece ocupar todas as sobras ou pequenas rachaduras do disco, derramando suavemente uma camada de sons climáticos, quase uma oposição ao muro de ruídos alicerçados pela dupla de guitarristas.

Em um misto de respirar e ainda assim ser sufocado, o álbum parece longe de garantir qualquer conforto a quem espera por um resultado simples ou minimamente acessível. Basta se apoiar nas guitarras ascendentes de Silêncio ou no ambiente agressivo/ameaçador de Collapse para entender isso. Faixa após faixa o quarteto parece inclinado a promover um labirinto incerto de sons e experiências, amortecendo o espectador em um ambiente que converge o tudo e o nada em poucos instantes. Não há certeza, tampouco expectativa ao final da obra, o que faz com que o ouvinte permaneça em dúvida mesmo ao encerramento do trabalho: estaria ele livre, ou ainda soterrado nos escombros sombrios de Umbra?

 

Umbra

Umbra (2013, Sinewave)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Sobre a Maquina, Lautmusik e Labirinto
Ouça: Collapse, Limbo e Silêncio

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.