Disco: “Underneath The Pine”, Toro Y Moi

/ Por: Cleber Facchi 05/02/2011

Toro Y Moi
Chillwave/Electronic/Lo-Fi
http://www.myspace.com/toroymoi

Por: Cleber Facchi

Chaz Bundick sabe como ninguém que a hora dele é agora. Em menos de um ano saiu do completo anonimato para figurar entre os maiores nomes da cena eletrônica alternativa. Nesse mesmo ano agraciou o público com o ótimo Causers Of This (2010), um exercício delicado e repleto de nuances suaves da música eletrônica lo-fi. E o jovem produtor não para por aí. Underneath The Pine (2011) é seu mais novo trabalho de estúdio e mostra que o músico não quer descanso, ele quer produzir.

Quem ouvir o álbum em busca da sonoridade comportada, repleta de detalhes e sobreposições de sons, tal qual a explorada no debut vai ter uma surpresa com o novo disco. Enquanto a estreia do Toro Y Moi soa como se fosse espuma do mar se chocando levemente contra a areia da praia, esse segundo disco vem como uma onda inteira e veloz que se esparrama contra a orla. No lugar das reverberações herméticas e das composições leves entra uma sonoridade espessa e séria, uma completa oposição ao estilo abordado anteriormente.

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É estranho que com apenas um ano de distanciamento entre os dois projetos surja uma mudança tão marcante. Causers Of This é um trabalho quesegue delicado do começo ao fim. Abre com a viajada Blessa, ecoa vibrações em Minors, funciona como uma espécie de trilha sonora de uma viagem espacial vintage com Thanks Version, cola diversas camadas de som em Talamak até finalmente descansar na faixa que dá nome ao disco com uma espécie de hip-hop abafado. Já Underneath The Pine mostra seu lado mais ruidoso logo com a faixa de introdução Intro/Chi Chi.

Analisando atentamente, ambos os discos seguem um padrão muito similar em suas produções. A diferença é que enquanto um surge mais leve e relaxado o segundo entrega uma produção “tensa”. Há bem mais ruído, abafamento e batidas muito mais intensas no novo álbum. Os acordes de teclados e sintetizadores por sua vez surgem de maneira mais aberta e limpa, longe das camuflagens de outrora. New Beat, o primeiro single do álbum mostra com precisão esse novo seguimento. As camadas e bases sonoras se constroem de maneira mais rudimentar e ausente do psicodelismo que transcorria nas programações anteriores.

Se com a estreia Chaz Bundick seguia a tendência de produtores que elaboravam faixas voltadas para um lado mais “praieiro” da música eletrônica, agora é no terreno urbano que ele fixa sua marca. O cenário acalentador de outrora se reconfigura em paredões cinza e uma temática muito mais concreta. As faixas que esvoaçavam doses discretas de programação se convertem em algo mais palpável. Em Light Black, por exemplo, o produtor projeta a composição em cima de uma sonoridade seca e caótica. A firmeza da levada que conduz a canção surge mascarada por overdubs constantes e ruídos crescentes.

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Porém nem todas as composições se prendem a esse lado mais “obscuro”. Still Sound chega marcada por uma levada dançante e se desenvolve ainda mais pela inserção de teclados melódicos. Go With You com seu ritmo quebrado é outra que chega esbanjando energia e não se orienta pela mesma vertente das outras canções. Before I’m Done mostra até um Bundick dedilhando um violão, algo inimaginável pela sonoridade etérea de Causers Of This.

Underneath The Pine é um trabalho que claramente vai dividir os fãs de Toro Y Moi. De um lado estarão os que se apaixonaram pela delicadeza e a sofisticação do primeiro disco do produtor e que indubitavelmente vão lamentar a mudança no estilo. Do outro vão estar os que se sentem satisfeitos pelo músico dar novas formas às suas produções, não vivendo apenas de repetições ou fórmulas garantidas. De fato, Bundick parece muito satisfeito com esse novo rumo dado ao seu trabalho. Azar daqueles que não acatarem as mudanças.

Underneath The Pine (2011)

Nota: 8.1
Para quem gosta de: Washed Out, Neon Indian e Memory Tapes
Ouça: Light Black e New Beat

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.