Disco: “Undersea EP”, The Antlers

/ Por: Cleber Facchi 30/07/2012

The Antlers
Indie/Alternative/Dream Pop
http://antlersmusic.com/

Por: Cleber Facchi

A tristeza parece ser a única constante dentro da obra do The Antlers. Tão logo ao lançamento dos primeiros discos da banda – ainda um projeto solo de Peter Silberman -, as composições amarguradas, sons entristecidos e melancolias transformadas em reverberações estavam presentes em cada mínima fração dos registros. Trabalhos que traziam nas confissões subjetivas de Silberman um sistema de aproximação e também afastamento em relação aos ouvintes, afinal, tudo era doloroso em excesso, quase dramático em alguns instantes. Toda essa tristeza alcançou o ápice em 2009, quando o lançamento de Hospice trouxe danos à saúde mental de Silberman, figura que se transformaria em um personagem para os lamentos musicados do grupo.

Imersos nessa mesma proposta – ainda que o disco anterior, Burst Apart incorpore uma característica de superação -, a banda volta aos acertos gerados há três anos para não apenas incrementar as referências com uma nova dose de melancolia, como para aprimorar ainda mais essa fórmula. Dotado de apenas quatro faixas, Undersea EP (2012, Anti) amplia os limites da carreira do grupo, que mesmo próximo de uma pluralidade de sons testados previamente, partem agora para um campo de novas e ainda mais amarguradas experiências.

Undersea, como aponta logo no título, possibilita que o trio passeie delicadamente por um universo de referências subaquáticas, não de maneira conceitual ou com referências estritamente relacionadas ao tema, mas como um princípio base para as cada vez mais complexas composições. Assim como nos demais trabalhos da banda, tudo flui de maneira subjetiva, com Silberman expandindo a melancolia a sua volta em proporções oceânicas, manifestação que se anuncia tanto na grandiosidade de Endless Ladder como no clima ameno de Crest. Seja pela maneira como a voz se mistura aos instrumentos, ou a forma como todos os elementos se agrupam de maneira homogênea, ouvir a recente obra do The Antlers é como navegar em um mar lamurioso, denso e obscuro.

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Claramente distinto em relação aos anteriores lançamentos do grupo – sejam eles EPs ou trabalhos completos -, em Undersea o The Antlers se aproxima abertamente de uma variedade de tendências que passam pelo jazz e a música experimental de forma necessária. Sutil e primoroso na mesma medida, o álbum rompe com o Dream Pop acessível dos trabalhos que o precedem para aproximar o grupo de um resultado menos óbvio e intencionalmente climático. Costurado como uma única música, cada canção entrega as bases para a faixa seguinte, resultando em um projeto até maior e mais complexo do que o que fora testado no decorrer de Burst Apart.

Embora já seja classificado como um trabalho de transição e preparação para os futuros inventos do trio nova-iorquino, Undersea e a consistência que ocupa cada uma das canções possibilita o surgimento de um álbum de grandeza similar a de um disco completo. Há na maneira como as formas sonoras se desenvolvem um teor de novidade e descoberta, como se a própria banda lentamente tomasse conhecimento de todos os novos elementos, nuances e texturas que os cercam. Se por enquanto a banda passeava apenas pela superfície, imaginem só o que eles encontrarão quando mergulharem de fato nesse profundo e amargurado oceano.

Undersea (2012, Anti)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: The National, Perfume Genius e Youth Lagoon
Ouça: o disco todo

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.