Disco: “undun”, The Roots

/ Por: Cleber Facchi 03/12/2011

The Roots
Hip-Hop/Rap/Soul
http://theroots.com/

 

Por: Gabriel Picanço

 

Grandes faixas e álbuns de rap sobre crime e violência já foram escritos, no Brasil e nos Estados Unidos. A temática está intimamente relacionada com o gênero musical desde a sua origem, por se tratar de uma representação cultural vinda de lugares pobres, onde as pessoas se acostumaram com a proximidade do problema. Seja como crítica ao poder público, personificação de gangsters ou até mesmo apologia e exaltação da vida criminosa, o rap sempre serviu como uma crônica musical para essa questão.

Os legendários The Roots, em seu primeiro álbum conceitual, abordam de um novo ângulo esse tema inesgotável. undun (em minúsculo mesmo), décimo disco da crew da Filadélfia, conta a  história fictícia de Redford Stephens (1974-1999), um garoto pobre que, como muitos outros, entra para a vida do crime.  Cada elemento do disco é importante para contar essa fábula. Se ouvida com atenção, a primeira faixa, Dun, revela dois sons a respeito de vida e morte.  Ao fundo,  quase inaudível, o choro de uma criança recém nascida, o inicio. Ao mesmo tempo ouve-se o som continuo do monitor cardíaco, ruído que, graças aos filmes e séries, tornou-se sinônimo de morte.

Um importante elemento extra-disco que compõe o universo de undun é o conjunto de três vídeos sobre Redford. Eles ilustram muito bem o clima noir do disco, além de contarem com três fortes epigrafes sobre morte, vida e crime. Uma é da própria banda, em Tipe the Scale, que resume a intenção de undun. Outra de Malcon X, no vídeo de stomp, e a última de Norman Cousins, em Sleep. A escolha de frases dessas duas personalidades é mais um indicativo da música com papel social que o grupo se propõe a fazer.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=pkaV2lkLIeE&w=640&h=360]

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=4ZG5OQSKXTU&w=640&h=360]

A inspiração para o nome do personagem veio de uma faixa do disco Michigan, de Sufjan Stevens. O artista americano, conhecidamente um dos mais prolíficos músicos da atualidade, é o responsável pela sombria e fúnebre suíte em quatro partes que fecha undun. Esta parte final, apesar de instrumental, é essencial para a obra.  É o momento reservado para refletirmos sobre a história que acabou de ser contada. Não para um julgamento, já que a intenção do disco não é transformar um personagem como Redford em herói ou vilão. Pelo contrário, busca humanizá-lo, expondo os seus pensamentos e sentimentos. Não só os delírios de poder e as intenções violentas, mas também o arrependimento, o medo e a fraqueza de um criminoso que não nasceu assim. São músicas sobre dor e perda, mas também sobre como o crime acabou sendo a única saída para esse jovem inconformado, que achava que merecia mais do que a vida tinha para lhe oferecer.

Musicalmente, o grupo liderado baterista Questlove (“?uestlove”), não apenas se mostra impecável como se supera mais uma vez. Depois de lançar dois grandes álbuns em 2010, How I Got Over e Wake Up! , sendo o último uma parceria com o cantor John Legend, e ser a banda do programa de Jimmy Fallon, o grupo achou tempo  para buscar um  resultado sonoro que poucos produtores de batidas eletrônicas e mestres do samples conseguem chegar perto. A bateria e o teclado em faixas como One Time são um grande diferencial que fazem The Roots uma banda única atualmente, longe até mesmo de outros grupos do hip hop “orgânico”.

undon Leva o grupo para outro nível, quando era difícil acreditar que eles poderiam fazer algo melhor e mais importante que os clássicos Illadelph Halflife, de 1996 ou Things Fall Apart, de  1999. O som cheio, com influências jazzísticas e a presença da soul music em todas as faixas, constituem um rap adulto que já é marca da banda. O flow único e as rimas sofisticadas de Black Thought em faixas inspiradas como Tip The Scale e as participações de grandes nomes da black music como Bilal, Dice Raw e Big K.R.I.T são só mais alguns pontos extras nesse álbum fantástico.

undun (2011, Def Jam)

Nota: 8.6
Para quem gosta de: Mos Def, OutKast e Sufjan Stevens
Ouça: Make My (Feat. Big K.R.I.T. & Dice Raw)

[soundcloud url=”http://api.soundcloud.com/tracks/25775657″]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.