Disco: “Unpatterns”, Simian Mobile Disco

/ Por: Cleber Facchi 17/05/2012

Simian Mobile Disco
British/Electronic/Dance
http://www.simianmobiledisco.co.uk/

Por: Fernanda Blammer

Attack Decay Sustain Release foi um registro típico do que circulava na música eletrônica de 2007. Enquanto James Murphy e seu extinto LSD Soundsystem batia de frente com os “maximalismos” do Justice, Gui Boratto e The Field tornavam o minimal techno um gênero novamente ativo e revigorado dentro da cena eletrônica. Havia ainda o segundo (e hoje clássico) álbum do Burial, Untrue, resumindo boa parte do que viria a ser a produção musical dali alguns anos. No meio desse cenário rico, James Ford e Jas Shaw pareciam buscar por um espaço próprio, algo que eles de fato conseguiram, juntando boa parte de todas essas influências no primeiro e diversificado álbum do Simian Mobile Disco.

Ao mesmo tempo em que o duo britânico surgia cercado de referências distintas, a mistura sintetizada que escorria do álbum ecoava de forma única, como se ali residisse toda a originalidade da dupla, um meio termo constante, pendendo ora para a house music, ora para o electropop. Essa formatação acabou por definir todo o catálogo de músicas que preenchem o disco, um resultado que se anuncia tanto no pop dançante e pegajoso da faixa Hustler, como na leve aproximação com a IDM em Wooden, uma das músicas menos comerciais de toda a carreira do duo. O SMD, entretanto, precisava de uma identidade, e é justamente isso que eles foram buscar com a chegada do trabalho seguinte.

Lançado dois anos depois do elogiado debut, Temporary Pleasure serviu para afastar a dupla da excessiva e até então positiva carga de referências, um álbum que hoje soa como ponte para o território que os ingleses conseguiram alcançar com o recente Unpatterns (2012, Wichita). Mais distinto álbum lançado pelo duo até hoje, o registro de nove faixas parece aprimorar tudo aquilo que fora testado há três anos, com os britânicos seguindo a curva assumida no álbum durante a faixa Ambulance e pisando em um terreno marcado por faixas mais ambientais, uma forte aproximação com a house music e pequenas doses de experimentação que apenas engrandecem o trabalho dos símios.

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Diferente dos discos passados, em Unpatterns os vocais parecem flutuar em uma nuvem de efeitos picotados e parcos detalhamentos, possibilitando que o duo se concentra quase estritamente nas colagens de batidas, programações e samples instrumentais, tornando visível, pela primeira vez, o que parece ser a mais pura e original sonoridade do Simian Mobile Disco. As músicas – constantemente próximas – resultam em um trabalho harmonioso e naturalmente fechado, uma proposta impossível de ser alcançada dentro da multiplicidade de formas e diferentes vertentes que acompanhavam a carreira da dupla no passado.

Ao mesmo tempo em que o trabalho cresce em relação ao disco anterior, a formatação soa reclusa e até mesmo tímida de maneira geral. Faixas, como Cerulean e Interference, por exemplo, surgem aos poucos, como se os detalhes e mínimos acréscimos custassem a aparecer. Mesmo nos momentos mais expansivos e dançantes do disco, há sempre um controle por parte da dupla, proposta fundamental e que impede o disco de cair nos mesmos erros e repetições exageradas que prejudicaram a execução do projeto passado. Esse constante sintoma de timidez – que se manifesta com perfeição no interior da doce The Dream of the Fisherman’s Wife – faz parecer que Ford e Shaw estão novamente se descobrindo como produtores, o que deixa a esperança de que algo ainda melhor pode surgir.

Todavia, enquanto o suposto álbum imaginário não chega é satisfatório o resultado de Unpatterns. Os contornos minimalistas, que por vezes remetem ao presente álbum do Actress – R.I.P. – enchem os ouvidos, como se a dupla esculpisse o disco com parcimônia e satisfação, um completo oposto do afobado disco anterior. Falta apenas um pouco mais de coragem e vontade de arriscar, mas isso os britânicos ainda tem tempo para encontrar.

Unpatterns (2012, Wichita)

Nota: 7.3
Para quem gosta de: Modeselktor, Digitalism e Actress
Ouça: Cerulean e The Dream of the Fisherman’s Wife

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.