Disco: “Valtari”, Sigur Rós

/ Por: Cleber Facchi 16/04/2012

Sigur Rós
Post-Rock/Ambient/Experimental
http://sigur-ros.co.uk/

Por: Cleber Facchi

Jónsi Birgisson, Georg Hólm, Kjartan Sveinsson e Orri Páll Dýrason são provavelmente os maiores responsáveis por toda uma geração de ouvintes terem se aproximado da música erudita ou de quaisquer outras formas de experimentos e estranhos diálogos que possam existir dentro do campo musical. Ao lado da conterrânea Björk, o quarteto – Sigur Rós – não apenas colocou a Islândia no mapa dos grandes expoentes musicais, como definiu de vez o famigerado Pós-Rock, gênero que mesmo não sendo de autoria da banda só alcançou o status e a celebração de hoje graças ao rico cardápio instrumental que o grupo conseguiu alicerçar em quase duas décadas de atuação.

Adeptos da constante transformação de suas obras, a banda vem desde o primeiro álbum se concentrando na produção de registros que mesmo próximos, se organizam e funcionam de maneiras diferentes. Álbuns que acabam sempre partilhando de um novo sentimento ou proposta, utilizando de uma fórmula “básica” que serve de combustível a cada nova estreia. Entretanto, mesmo movidos pelas diferenças, nenhum disco apresentado pelo grupo até hoje soa tão distinto e particular quanto o recente Valtari (2012, XL). Sexto trabalho de estúdio do quarteto, o álbum se fecha dentro de um campo próprio, nada místico ou imerso no mesmo plano gracioso que antes abastecia a carreira da banda.

Valtari talvez seja o mais introspectivo e difícil registro do grupo até hoje. Não há qualquer forma de abertura ou canções capazes de conversar com o grande público aos moldes de Glósóli, Hoppípolla e Svefn-g-englar, alguns dos maiores tratados “comerciais” da banda. Tudo que se manifesta no interior da obra de oito faixas ecoa de forma suja, distante da sutileza ou porção angelical que se manifestava nos antigos registros do grupo. Se antes – ou mais especificamente no trabalho anterior, Með suð í eyrum við spilum endalaust, de 2008 – a banda parecia motiva a lançar uma série de músicas festivas e grandiosas, hoje a necessidade é completamente outra. Tudo flui de maneira hermética e acizentada, quase um oposto do Sigur Rós de outras épocas.

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Quem esperava pelo álbum como uma dissidência daquilo que Jónsi e o parceiro Alex Somers vinham desenvolvendo em relação a carreira solo do artista, provavelmente sofra um baque ao mergulhar nos obscuros 54:25 minutos do disco – o menor trabalho da banda até hoje. Antes figura central dentro do projeto, Jónsi aprece agora como um mero plano de fundo no decorrer da obra, já que boa parte das faixas abandonam os vocais como ponto de destaque para que a banda possa se concentrar na instrumentação. Mesmo que o destaque maior esteja na música e não na voz, Valtari não é um registro de nuances variadas e harmonias magistrais, afinal, tudo se orienta de forma controlada, como se todos os instrumentos fossem agrupados em um bloco único de som.

Se até o último disco de estúdio o grupo estava interessado na realização de um som totalmente bucólico – quase uma trilha sonora para um mundo élfico rodeado por seres fantásticos -, então hoje uma nova proposta parece alimentar as mentes do quarteto. Desde o lançamento do álbum ao vivo INNI no último ano que a banda se vê mergulhada na projeção de um som acizentado e urbano, por vezes muito próxima do que o Godspeed You! Black Emperor conseguiu com os primeiros discos. Entre faixas como Ekki múkk e Fjögur píanó, talvez a composição que mais se assemelhe aos antigos trabalhos da banda seja Varðeldur, faixa que mesmo ligada ao passado recente da banda se apega intencionalmente ao que os islandeses produzem hoje.

Mesmo a melancolia, elemento que sempre esteve presente nas canções da banda, agora se evidencia remodelada, como se uma dose extra de amargura e desesperança se apoderasse das faixas e do espírito que sempre acompanhou a banda. Valtari não chega a ser um trabalho difícil, tampouco se afasta das bases e referências iniciais do Sigur Rós. O disco parece apenas encaminhar a banda para um novo universo, como se o quarteto resolvesse abandonar o caminho seguro de árvores esverdeadas que vinha percorrendo para trilhar uma porção obscura desse mesmo ambiente. Acompanhar ou não o grupo nesse novo trajeto é uma decisão que apenas o ouvinte pode decidir e quem seguir não vai se decepcionar.

Valtari (2012, XL)

Nota: 7.8
Para quem gosta de: Jónsi, Godspeed You! Black Emperor e múm
Ouça: Varðeldur e Valtari

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.