Disco: “Varmints”, Anna Meredith

/ Por: Cleber Facchi 16/03/2016

Anna Meredith
Experimental/Alternative/Indie
http://www.annameredith.com/

 

As ideias cobrem toda a extensão do curioso Varmints (2016, Moshi Moshi). Primeiro registro de estúdio da cantora, compositora e multi-instrumentista britânica Anna Meredith, o trabalho que flutua entre temas acústicos e ensaios eletrônicos delicadamente expande o rico catálogo de experimentos compilados pela artista nos dois últimos registros de inéditas, os bem-sucedidos Black Prince Fury EP (2012) e Jet Black Raider EP (2013).

Entre diálogos com a “música clássica” (Scrimshaw, Nautilus), experimentos que flertam abertamente com o Math Rock (Taken) e composições marcadas pela delicadeza das vozes e arranjos (Something Helpful, Dowager), Meredith cria um imenso conjunto de fórmulas pensadas para bagunçar a cabeça do ouvinte. Sintetizadores, arranjos de cordas, guitarras, vozes e batidas que vão de um ambiente introspectivo à explosão em poucos segundos.

Com Nautilus como faixa de abertura, Meredith indica a construção de obra essencialmente grandiosa, épica. Originalmente apresentada em Black Prince Fury EP, a canção de base orquestral encontra na continua repetição dos elementos um estímulo para prender a atenção do ouvinte. Um crescente turbilhão que em poucos minutos autoriza a inserção de batidas, ruídos sintéticos e toda uma avalanche de retalhos eletrônicos, ponte para grande parte da obra.

De fato, cada uma das 11 composições de Varmints sustenta na propositada repetição de ideias um inusitado ponto de partida. São versos cíclicos na delicada Something Helpful, guitarras e batidas no interior da crescente The Vapours, a programação eletrônica em Shill. Arranjos, vozes e batidas que se entrelaçam revelando pequenos turbilhões criativos. Uma extensão do material anteriormente explorado pela musicista nos dois primeiros EPs.

Em meio a esse cenário de ideias e temas complexos, duas composições florescem como delicados respiros instrumentais. Representantes do lado mais “sensível” do trabalho de Meredith, Last Rose e Dowager encontram na exposição dos sentimentos um curioso ponto de distanciamento em relação ao restante da obra. Sussurros sentimentais que passeiam pelo mesmo campo de artistas como Björk e Julia Holter, porém, mantém firme a base autoral que rege cada instante do disco.

Entre canções que poderiam ser encontradas em algum video game clássico dos anos 1980 (Shill), obras de avant-garde (Nautilus) e faixas que esbarram no mesmo universo de artistas como Battles (Taken), Varmints sustenta na pluralidade de referências o principal componente das canções de Varmints. Uma extensão segura dos últimos trabalhos assinados pela musicista, mas que parece mudar de direção em cada novo ruído, sample ou cuidadoso movimento orquestral.

 

Varmints (2016, Moshi Moshi)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Battles, Holly Herndon e Julia Holter
Ouça: Nautilus, Taken e Something Helpful

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.