Disco: “Ventriloquizzing”, Fujiya & Miyagi

/ Por: Cleber Facchi 05/01/2011

Fujiya & Miyagi
Krautrock/Electronic/Alternative
http://www.myspace.com/fujiyaandmiyagi

Existe uma fórmula clara que circunda as composições do grupo inglês Fujiya & Miyagi. Um padrão tão claro, tão lógico e perceptível, mas que ainda assim agrada e de certa forma sabe como soar inovador. Ventriloquizzing (2011) o mais recente lançamento do grupo formado por Steve Lewis, David Best, Matt Hansby e Lee Adams firma-se nas composições arrojadas e em uma sonoridade extremamente apreciativa.

As referências são as mais claras possíveis: o Krautrock alemão e doses controladas de música eletrônica aos moldes dos anos 90. Quem se depara com o som produzido pelos britânicos sem nunca antes ter se aventurado pela sonoridade de grupos como Can e Neu! provavelmente vai sentir uma certa estranheza nas composições. De fato o som produzido pela banda está completamente alheio ao padrão de composição atual. As faixas não dispõem de refrões pegajosos ou de um ritmo acelerado, marcante e urgente quanto o de boa parte das bandas. Não há nem como classificá-los como experimentais ou vanguardistas, como dito, o Fujiya & Miyagi gera uma sonoridade feita para ser apreciada.

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Poucas bandas conseguem gerar uma união tão perfeita entre seus instrumentos quanto o grupo inglês. As faixas seguem constantemente orquestradas por uma linha de baixo eficiente através das mãos de Hansby. Cada instrumento vai aos poucos se encaixando de maneira coesa dentro das faixas, como se todas fossem fixadas para suprirem as lacunas de uma “forma musical”. Nada ali é exagerado, tudo funciona milimetricamente. Sixteen Shades of Black & Blue ilustra isso com facilidade. Sintetizadores, voz, guitarras e baixo não vão se sobrepondo, mas se encaixando.

Não só a instrumentação vem como ponto alto do disco, as letras e o vocal abafado de David Best (sempre acompanhados pelo backing vocal de seus companheiros) também merecem seu crédito. Os versos das canções casam e se encaixam com eficácia dentro das bases sonoras como em Yoyo e Taiwanese Roots, dentro de uma linguagem muito próxima do math-rock.

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Há quem possa dizer que Ventriloquizzing é um disco previsível tamanha padronização de suas faixas. Contudo, basta atentar seus ouvidos para perceber a abrangência de elementos e da versatilidade sonora que se esconde em cada uma das onze faixas que compõem o álbum. Basta atentar para Cat Got Your Tongue: Abrindo com sintetizadores, logo chega um eficiente acréscimo de guitarras, bateria e baixo que ao fundo ganham boas camadas de sintetizadores para sua completude. De repente silêncio. Mais uma chuva de teclados vai gestando um uma textura climática até que volta a instrumentação de outrora dando então fim à faixa.

Não há como negar, o novo disco do quarteto britânico é bem menos pop e volátil que os trabalhos anteriores do grupo, principalmente se comparado com Lightbulbs lançado em 2008. As faixas em Ventriloquizzing se orientam de maneira muito mais hermética e repleta de regras, como se para que cada novo acorde necessitasse de uma explicação para seu desenvolvimento. E é justamente atrás desse endurecimento nas composições que está o verdadeiro charme do disco fazendo com que ele não seja mais um produto descartável e sim um álbum para ser “degustado” pelos ouvidos.

Ventriloquizzing (2010)

Nota: 8.1
Para quem gosta de: !!!, Foals e Junior Boys
Ouça: Sixteen Shades of Black & Blue

Por: Cleber Facchi

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.