Disco: “Verões”, Duplodeck

/ Por: Cleber Facchi 10/09/2014

Duplodeck
Indie Rock/Lo-Fi/Alternative
https://www.facebook.com/deckduplo
http://duplodeck.bandcamp.com/

Por: Cleber Facchi

O lançamento de Brisa no começo de junho serviu para “alertar” sobre a presente fase da mineira Duplodeck. Mais do que uma alteração de idioma – o grupo havia deixado a língua inglesa do primeiro EP para cantar em português -, o uso leve das guitarras, letras menos introspectivas, bem como a imposição “tropical” dada aos arranjos serviu de passagem segura para o primeiro álbum “de estúdio” do coletivo: Verões (2014, Pug Records). Espécie de praia conceitual, o registro lentamente acomoda o ouvinte em um cenário paradisíaco de sonhos, canções de amor e doses controladas de ruídos tão íntimos da cena atual, como do rock indie dos anos 1990.

Em um plano afastado daquele lançado há três anos em Duplodeck EP (2011), o debut cresce como uma colisão de temas autorais. Ainda que ecos da cena alternativa concebida há duas décadas recheiem todo o conteúdo da obra – como Pavement, Yo La Tengo e Pixies -, basta a inaugural Saint-Tropez para perceber que a direção assumida pela banda agora é outra, muito mais ampla e até mesmo “curiosa” em relação ao trabalho sustentado por outros artistas de essência próxima. Uma tentativa do grupo em delinear com acerto a própria identidade.

De contornos nostálgicos, Verões está longe de ser encerada apenas como uma “versão tropical” do trabalho exposto por gigantes do Indie estrangeiro, afinal, toda a essência do grupo descende da própria cena nacional. Seja na captação caseira das vozes aos realces melódicos de faixas como Strange Girl e Boemia – no melhor estilo Teenage Fanclub -, grande parte do esforço da obra está em resgatar temas típicos de nomes como Astromato, Second Come e outros veteranos do rock nacional. A própria sonoridade “litorânea” do disco parece a mesma realçada pela carioca Pelvs em clássicos como Members to Sunna (1997) e Peninsula (2000).

Propositadamente desajustada, a estreia do sexteto de Juíz de Fora – Alex Martoni, Fred Mendes, Guilherme Kegele Lignani, Maria Bitarello, Ricardo Coimbra e Rodrigo Lopes – é uma obra capaz de brincar de forma assertiva com pequenos contrastes. Se por um lado as melodias encaradas pela banda ecoam de forma harmônica, resgatando com naturalidade elementos do Indie Pop lançados no EP de estreia – vide Bom Dia, Amor -, por outro lado a sobrecarga de ruídos rompe com a formação de um material acessível em demasia, provocando a experiência do ouvinte.

É essa mesma massa de ruídos melódicos que sustenta o instante de maior crescimento do disco – entre a faixa-título e a derradeira Brisa. Instaladas no eixo final da obra, as composições resumem de forma inteligente toda a base referencial do grupo, começando no som Lo-Fi anunciada pelo Guided By Voices há duas décadas, passando pelo acervo de obras nacionais, até alcançar o som “bronzeado” do presente álbum. Um agrupamento intenso entre vozes e distorções que mesmo homogêneas, não distorcem (ou soterram) a arquitetura “pop” reforçada principalmente nas letras de cada faixa.

Ao mesmo tempo em que soa como uma obra de transição, o registro não oculta a segurança e explícita maturidade já acumulada pela Duplodeck. É difícil encarar o álbum como um simples “registro de estreia”, afinal, grande parte das canções surgem movidas por uma mesma estrutura musical e lírica, prova de que os três anos que se passaram desde o lançamento do último EP foram de intensa pesquisa para a banda. Todavia, ainda que sério, Verões não distorce a atmosfera jovial da banda, típica de uma obra do gênero, transportando o ouvinte para a praia/refúgio descompromissado que o grupo revela tão logo o álbum tem início.

 

Verões (2014, Pug Records)

Nota: 8.2
Para quem gosta de: Lê Almeida, Nevilton e Filipe Alvim
Ouça: Brisa, Verões e Saint-Tropez

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.