Disco: “Violência”, Júlia Says

/ Por: Cleber Facchi 07/09/2011

Júlia Says
Brazilian/Experimental/Electronic
http://www.myspace.com/juliadisse

 

Por: Cleber Facchi

Não é nem um pouco raro nos depararmos com textos e rótulos que classificam determinados discos ou artistas como “únicos”, “originais”, “incomparáveis”, “detentores de uma sonoridade própria” ou quaisquer outros atributos geralmente empregados para enaltecer a figura de uma banda que na verdade faz exatamente o mesmo tipo de som que tantos outros artistas em atividade. Contudo, estranhamente os mesmos atributos parecem ser os que melhor definem o trabalho da dupla pernambucana Júlia Says, que mesmo envolta em ritmos e temáticas encontradas na musicalidade de uma série de outros projetos faz com que aquilo que brota em seu caldeirão de referências se apresente de forma realmente única, original e incomparável.

Com o título certeiro de Violência (2011, Independente), o mais novo álbum arquitetado pela dupla recifense Pauliño Nunes e Anthony Diego apresenta 13 composições que de forma bem desenvolvida parecem diluir um número diversificado de referências, convergindo ao longo de 50 minutos de duração do registro uma soma de ritmos e fórmulas que percorrem diferentes e até incompatíveis setores da música. Tomado por uma ambientação eletrônica, mas cercado de experimentos instrumentais orgânicos, o trabalho se apresenta de maneira sempre instável, como se cada faixa possibilitasse ao duo inverter suas regras e romper seus limites.

Embora beba da mesma fonte que deu vida ao trabalho de 2009 – Menos é MaisViolência, como próprio nome já deixa bastante claro, opta em sua construção por um ritmo muito mais acelerado, com a dupla honrando de forma competente os ensinamentos deixados pelos britânicos do The Prodigy, trio que tanto se manifesta na hora de buscarmos elementos de referências para o trabalho do duo. Seco, alucinado e corrompido por uma fluência quase robótica, o disco aos poucos deixa de lado a dupla que lhe deu vida, decidindo ele próprio que rumos deve tomar.

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O álbum deixa claras suas intenções logo na música de abertura, Masters, que se revela como uma grande ode aos artistas que de uma forma ou outra surgem como influências para o Júlia Says. Enquanto vocais sintetizados mencionam projetos como Nação Zumbi, The Chemical Brothers, Rage Against The Machine, além do já citados The Prodigy, programações eletrônicas e guitarras completamente poluídas vão construindo as bases da faixa, deixando que aos poucos essa mistura instrumental escorra pelo restante do trabalho, delineando a sonoridade que acompanhará o ouvinte até o fim do registro.

Contudo, quem espera encontrar uma sequência de faixas embaladas pela velha fórmula do “mais do mesmo” terá uma surpresa em cada nova composição que salta do trabalho. Mesmo partilhando de uma mesma base instrumental, cada faixa presente no álbum desenvolve suas próprias normas, fazendo com que o disco soe novo em cada nova canção. Enquanto To The Freaks (primeiro single do disco) brinca ao cruzar noise e eletrônica, Headshot investe em um dub essencialmente robótico e sujo, com a dupla não encontrando barreiras ou estabelecendo limites desnecessários em suas produções.

Contando com produção do conterrâneo Tonlin Cheng e masterizado no estúdio inglês Emasters – de onde brotaram algumas faixas e discos de artistas como The Prodigy, The White Stripes e M.I.A. – Violência assume uma fluência completamente particular, como se contra qualquer gênero ou exigência radiofônica/comercial o Júlia Says prezasse pelo desenvolvimento de um trabalho cujo a intenção é balançar o ouvinte e quebrar qualquer lógica, nem que para isso a dupla precise da boa e velha violência à seu favor.

 

Violência (2011, Independente)

 

Nota: 7.7
Para quem gosta de: Maquinado, Sweet Fanny Adams e Guizado
Ouça: Headshot e To The Freaks

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.