Disco: “Violins”, Violins

/ Por: Cleber Facchi 19/11/2012

Violins
Brazilian/Indie Rock/Alternative
http://www.violins.com.br/

Por: Cleber Facchi

Depois de assumir o Direito de Ser Nada com o trabalho anterior, ao alcançar o sétimo registro em estúdio, a banda goiana Violins faz do atual projeto um claro regresso aos primeiros anos de formação do grupo, quando a agressividade testada em discos como Grandes Infiéis (2005) era imprevisível e a melancolia parecia guiar cada nova composição. Ainda aos comandos de Beto Cupertino, o grupo se sustenta em cima de faixas instrumentalmente bem produzidas e capazes de convencer o ouvinte que talvez desconheça a carreira da banda. Entretanto, ao voltarmos os olhos para a densa (e sufocante) tonalidade que marcou o projeto até o lançamento de Redenção Dos Corpos (2009), ouvir o recente álbum é como presenciar um disco para crianças.

Irregular na forma como o trabalho se perde em composições extremamente semelhantes, fraco na maneira como as líricas se dissolvem pobres e demasiado particulares, o autointitulado sétimo álbum vai de encontro ao que o grupo alcançou com Aurora Prisma (2003), ou talvez antes disso, firmando conexões com os versos (ainda em inglês) de Wake Up and Dreams – quando a banda se chamava Violins and Old Books. Morno do princípio ao fim, o álbum torna (mais uma vez) questionável a estratégia da banda, que desde o regresso em 2010 – com o disco Greve das Navalhas – vem se revezando em uma sucessão de discos duvidosos e que pouco refletem a boa fase alcançada na década passada.

Restabelecendo a instrumentação rica – e nada raivosa – que decidia os primeiros discos da banda, logo de cara A Questão do Chão incorpora a mesma proposta sonora testada há quase uma década, talvez de forma até melhor explorada. Ora bebendo dos pianos sombrios que definiram o Radiohead pós-The Bends (1995), ora incorporando os mesmos acordes rústicos do Placebo dos primeiros álbuns, a canção inaugura o que parece ser uma exata continuação do trabalho anterior – melhor orquestrada e musicalmente mais acessível. Entretanto, o que parecia ser uma resposta madura e atual ao que preenche a discografia do grupo, logo incorpora percursos inexatos e preferências demasiado óbvias.

Redundante, Nenhum Johnny Depp, faixa apresentada logo em sequência, quebra a sonoridade atrativa que a banda parecia assumir, mantendo a frente instrumental básica – guitarra, baixo, bateria e parcos teclados – até o encerramento do álbum. Sem o apoio das letras fortes antes testadas por Cupertino, o disco começa um lento e sufocante processo de declínio, com a banda transformando cada “nova” faixa em um exercício de repetição dilacerante. Falta fôlego às canções, faixas que mesmo dotadas de títulos fortes, como Pra Testar os Dentes ou Dono dos três poderes, mantém um recheio leve, disperso e que em nenhum momento remete ao clima áspero do Violins da boa fase.

Claro que analisar o disco do ponto de vista de obras hoje clássicas do rock nacional, como Grandes Infiéis e Tribunal Surdo (2007) seria um erro, ainda mais se levarmos em conta a necessidade da banda em se afundar em um som muito mais intimista e existencial, do que crítico em si. Todavia, ainda que o grupo (ou o próprio Cupertino) esteja longe de nos presentear com um novo Grupo de Extermínio de Aberrações, o resultado moroso e pouco inventivo da presente obra a converte em um registro de propósitos descartáveis. Falta o esforço e a sensibilidade que antes era nítida em músicas como Qual a Criança ou quem sabe a recente É como está, uma das boas composições presentes no trabalho de 2011 e um exemplo da capacidade da banda em prender, mesmo sem parecer agressiva.

Se pinçarmos tudo o que foi produzido de 2010 até agora, separando o que há de mais óbvio e descartável nos três álbuns lançados, é possível finalizar um bom disco da Violins, prova de que ainda existe grandiosidade nos trabalhos do grupo – falta apenas direção. Convincente em pontos estratégicos, desagradável em tantos outros, o novo álbum soa como uma necessidade do grupo em comprovar (de forma errônea) que ainda está vivo, proposta que a cada álbum reforça um efeito contrário: fazendo com que a banda morra lentamente aos olhos do público.

Violins (2012, Independente)

Nota: 5.0
Para quem gosta de: Jair Naves, Los Porongas e Transmissor
Ouça: Do Ponto do Chão

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.