Disco: “Virgins”, Tim Hecker

/ Por: Cleber Facchi 21/10/2013

Tim Hecker
Experimental/Ambient/Drone
http://www.sunblind.net/

Por: Cleber Facchi

Tim Hecker

Criar ordem no caos. Desde o começo de carreira, Tim Hecker encontrou no uso selecionado dos ruídos e ambientações soturnas a base para uma discografia marcada pelo teor hipnótico dos arranjos. Pianos administrados de forma torta, batidas descompassadas em um jogo perturbador de pequenas frações instrumentais parecem ordenadas com acerto dentro da peculiar discografia do artista. Seguindo de onde parou há dois anos com Ravedeath, 1972 (2011), o norte-americano assume em Virgins (2013, Kranky) um cenário de pequenas especificidades e rupturas, como se mesmo posicionado em uma fórmula conceitual clara e presente, o músico ainda fosse capaz de ir além dessa ordem.

Como se buscasse contar uma história dentro do universo de ruídos que se estabilizam no trabalho, Hecker amarra cada composição como um alicerce para a faixa seguinte. Ainda que o papel de parede sombrio concebido para o álbum o resuma em um jogo instável de emanações, alterando os rumos do exemplar a todo o instante, bastam algumas audições para perceber como cada som funciona de forma orquestrada. Pequeno deus em um cenário autoral, o compositor mais uma vez se prende aos detalhes, arquitetando no minimalismo sombrio uma trama consumida por criaturas, virgens e pequenas estruturas macabras.

Enquanto os atos imensos do registro anterior – como In The Fog e In The Air – garantiam ao trabalho um efeito homogeneidade limitada, como se tudo fosse organizasse dentro das regras específicas de um determinado grupo de canções, com o presente álbum Hecker volta aos mesmos planos instrumentais dos registros em começo de carreira. Ainda que cada composição pareça fluir como parte natural de uma imensa faixa, algo explícito na forma como as bases são aproveitadas, cada música funciona dentro de um bloco específico de referências, como uma versão perturbadora do que foi testado há exatamente uma década com Radio Amor (2003).

Claro que algumas composições mantém firme a necessidade de Hecker e ambientar pequenos blocos instrumentais isolados. É o caso das séries Live Room e Stigmata. Enquanto a primeira reforça o lado melódico do trabalho proposto pelo norte-americano, conduzindo o ouvinte por pequenas harmonias de pianos, a segunda reforça a mesma colagem de sons eletrônicos aprimorada no trabalho passado. Entretanto, diferente do resultado exposto há dois anos, a busca pela desordem parece ser o princípio para que o músico escape da redundância, se aprofundando na construção de temas (longos ou curtos) que mesmo íntimos, caminham por sentidos opostos.

Curioso observar o quanto os únicos atos complementares dentro da obra estão posicionados de forma aleatória. Trata-se da “sérieVirginal I e II, músicas que encontram em uma variação específica de pianos uma forma expressiva de relação. Entretanto, a beleza do trabalho reside em suas imperfeições e na forma como mesmo íntimas, cada faixa parece apontar para um rumo específico. Da Ambient Music melancólica que cresce em Radiance, aos instantes de plena leveza reforçados em Black Refraction, Hecker, diferente do fluxo imposto no disco passado, o norte-americano parece livre para provar de novas experiências, resgatando o mesmo teor de descoberta exposto nos primeiros álbuns, porém, em um efeito de maturidade plena.

Ponto autêntico de consolidação, Virgins amplia não apenas o território proposto por Tim Hecker há dois anos, como todos os inventos ou mesmo referências externas ao trabalho do músico. Além da influência clara de Daniel Lopatin, com quem dividiu o curioso Instrumental Tourist no último ano, Hecker se permite brincar com diversos elementos conquistados em mais de uma década de atuação, transformando os habituais ruídos, pianos e concentrados eletrônicos não apenas em um cenário aberto para novas experiências, mas em um princípio nítido de recomeço.

 

Tim Hecker

Virgins (2013, Kranky)

Nota: 8.5
Para quem gosta de: Oneohtrix Poin Never, The Haxan Cloak e Fennesz
Ouça: Virginal, Live Room e Stigmata

[soundcloud url=”https://api.soundcloud.com/tracks/107489426″ width=”100%” height=”166″ iframe=”true” /]

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.